terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Ministério da saúde exclui mulheres com metástase de acesso a novo medicamento do SUS

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) vê com desconfiança a restrição do uso trastuzumabe e teme ainda que a distribuição centralizada prejudique as pacientes

Utilizado para o tratamento de mulheres com câncer de mama, o medicamento de alto custo, trastuzumabe será incorporado em 2013 ao Serviço Único de Saúde (SUS). O remédio é capaz de reduzir a chance de reincidência da doença e de diminuir o risco de morte em 20% das pacientes (compatíveis com o medicamento). Segundo dados do Inca, a cada ano cerca de 52 mil mulheres são diagnosticadas com a doença no Brasil.

O uso do medicamento promete dar uma nova esperança para as pacientes que não têm condições de comprar o remédio na rede privada. Porém algumas questões não foram bem aceitas por especialistas. Eles reclamam da exclusão no tratamento das pacientes com metástase, a compra centralizada e a distribuição do medicamento, que exige cuidados específicos.

O presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Anderson Silvestrini, reforça que existem estudos respeitados em diversos países que comprovam que o trastuzumabe pode aumentar em até dois anos a sobrevida de pacientes com metástase. Para ele, a compra centralizada é outro motivo de preocupação uma vez que o remédio precisa de refrigeração durante todo o processo de transporte e manutenção.

Confira essas e outras questões que preocupam o presidente da SBOC na entrevista abaixo:

O governo federal anunciou que em 2013 o medicamento trastuzumabe (para tratamento de câncer de mama) será incorporado no serviço de saúde pública do SUS. Qual a opinião da SBOC sobre isso?
A SBOC é favorável à incorporação do trastuzumabe para mulheres com câncer de mama HER-2 positivo. Esta incorporação vem acabar com uma distorção, pois há 10 anos o medicamento foi registrado no país e até então só era utilizado na rede privada de saúde.

O governo anunciou que a compra do medicamento será centralizada, ou seja, o governo comprará no fabricante (Roche) e será o responsável pelo custo e toda logística de distribuição do medicamento. Qual a opinião da SBOC sobre isso?
A SBOC vê com preocupação a compra e distribuição centralizada do medicamento. Isso se deve ao fato do medicamento necessitar de refrigeração e a ?quebra? desta cadeia fria de distribuição pode prejudicar a eficácia do medicamento. Desde que o ministério já negociou a queda do preço e o medicamento está com a patente prestes a expirar, o que deve levar a chegada de biossimilares do trastuzumabe, nossa opinião é que os diversos serviços que tratam câncer em nosso país têm condição de organizar a compra e infusão do medicamento, como faz com todos os outros. A sugestão da SBOC é que se crie um porte na tabela Apac-Onco que contemple o tratamento com trastuzumabe para o câncer de mama Her-2 positivo.

Existem alguns cuidados que devem ser tomados com este medicamento no transporte e no armazenamento?
O principal cuidado com o medicamento trastuzumabe é com sua temperatura de conservação. Ele deve ser mantido à uma temperatura entre  2 e 8o. C. Deve-se garantir que ele não passe por grandes oscilações para garantir a estabilidade e eficácia do medicamento. Na fase de manuseio deve ser manipulado usando técnica asséptica, desde sua manipulação até a infusão.

A medicação não contemplará as pacientes em estado avançado (metastático). A alegação do governo é que o custo do medicamento é alto e a sobrevida (de poucos meses) não justifica tais investimentos. A SBOC concorda com isso?
Em todo o mundo o trastuzumabe é utilizado também para pacientes com câncer de mama metastático. Apesar destas pacientes, na sua quase totalidade, estarem com doença incurável, os resultados alcançados com o trastuzumabe são benefício na sobrevida livre de progressão de doença (aumento do tempo até a doença piorar) e sobrevida global (tempo total de vida), que pode aumentar em dois anos, ou seja, as pacientes vivem mais e melhor.

Qual o estudo que o governo utilizou para chegar a essa conclusão? E qual o outro estudo que indica uma sobrevida maior?
O governo utilizou uma metanálise solicitada com esta indicação, realizada pela Cochrane Brasil. Instituições respeitadas em todo o mundo como o NCCN (National Comprehensive Cancer Network), NICE (avalia incorporação de tecnologia no Reino Unido), considerado um dos mais rigorosos do mundo, adotam a indicação de trastuzumabe para câncer de mama metastático HER-2 positivo. Revisão apresentada no congresso americano de 2011 demonstra que o benefício alcançado ao longo de toda doença da paciente pode chegar à dois anos. [J Clin Oncol 29:2011 (suppl.;abstr 617, e11100 e 572].

O trastuzumabe só é compatível com 20% das mulheres que possuem o câncer de mama. Quem pagará para fazer este exame que comprova a compatibilidade?
Não sabemos ainda como será custeada a realização do teste. Notícias extraoficiais falam que o laboratório que produz o medicamento cobrirá o custo dos testes.

 De que outras formas a SBOC acredita que o governo federal poderá contribuir para o tratamento desta doença, no país?
Quando falamos de câncer devemos salientar que a maior chance de cura se dá com o diagnóstico precoce então a expansão do acesso das mulheres à mamografia e a melhoria da qualidade das mamografias é determinante para nossa melhoria de resultados. Além disso, o acesso precoce da paciente com diagnóstico para tratamento, consideramos ideal em até 30 dias, melhorará estes resultados. Gostaríamos que o Ministério da Saúde revesse sua decisão de não incorporar o medicamento para pacientes com câncer de mama metastático cerb-B2/ HER-2 positivo pois apesar de incurável estas pacientes vivem mais quando recebem a medicação. (ESHOJE)

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