A chefe de gabinete da Presidência
da República em São Paulo, Rosemary Novoa de Noronha, e o advogado geral da
União adjunto, José Weber Holanda Alves, braço direito do advogado geral da
União, Luís Inácio Adams, são os dois principais alvos da Operação Porto Seguro
da Polícia Federal (PF), deflagrada nesta sexta-feira, 23, em Brasília e São
Paulo. O objetivo é desarticular uma organização criminosa infiltrada na
máquina federal para a obtenção de pareceres técnicos fraudulentos em
benefício de interesses privados.
A PF apreendeu documentos do
gabinete do número dois da AGU, que fica no mesmo andar da sala de Adams,
em Brasília, e no escritório da Presidência em São Paulo, localizado no 17.ª
andar do prédio do Banco do Brasil, na Avenida Paulista. Holanda já prestou
depoimento. A PF imputa a ele e a Rosemary crime de corrupção ativa.
Desde o início da manhã, Adams está
reunido com sua equipe para avaliar o impacto da operação na pasta. A AGU ainda
não se manifestou sobre o caso e deve soltar uma nota em breve. A Presidência
da República ainda não se pronunciou.
A operação da PF, coordenada pela
Superintendência de São Paulo, realizou buscas e apreensões em seis órgãos
públicos em Brasília e apreendeu, no total, 18 malotes de documentos. Entre os
órgãos devassados estão a Agência Nacional de Águas (ANA), onde atua desde 2010
o diretor Paulo Rodrigues Vieira, indicado para integrar o colegiado do órgão
pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Apontado como uma das cabeças do
esquema de compra de pareceres técnicos sobre negócios milionários no governo,
Vieira foi recolhido à carceragem da PF após prestar depoimento por mais de
duas horas.O diretor foi preso em sua residência, em Brasília, pouco depois das
6 horas da manhã desta sexta e não ofereceu resistência. A defesa informou que
pediu acesso aos autos do inquérito para poder se posicionar.
Os demais órgãos públicos que
sofreram buscas foram o Ministério da Educação (MEC), a Agência Nacional de
Aviação Civil (Anac), a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, a
Advocacia-Geral da União (AGU) e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários
(Antaq).
Na capital federal, a PF cumpriu
três mandados de prisão e duas conduções forçadas, e realizou buscas
em 18 endereços. Os agentes apreenderam discos rígidos de computador,
mídias digitais e documentos, que passarão por análise técnica. Foram
apreendidos também dois veículos, entre os quais um Land Rover. Em São
Paulo, foram cumpridos 26 mandados de busca, nas cidades de Dracena,
Cruzeiro e Santos, além da capital paulista.
Denúncia. Segundo o delegado Roberto
Troncon, superintendente regional da PF em São Paulo, a investigação teve
início em março de 2011, quando um servidor do TCU procurou a PF para denunciar
o esquema de compra de pareceres técnicos de diversos órgãos públicos.
Tais pareceres técnicos serviam para favorecer empresas que mantinham algum
tipo de contrato com órgãos públicos e que dependiam dessa documentação.
O servidor do TCU que denunciou o
caso à PF contou que foi procurado por um empresário que lhe ofereceu R$ 300
mil por um parecer. Ele aceitou parte do dinheiro, R$ 100 mil, mas depois se
arrependeu, devolveu o dinheiro e delatou o caso à PF. Troncon disse que a
investigação logo constatou que não se tratava de um caso isolado.
"Constatamos que havia um grupo
que contava com dois servidores de agências reguladoras. Este grupo prestava
serviços para empresários que tinham interesse em agilizar processos mediante
pagamento e favorecimento dos servidores públicos, até mesmo a elaboração de
pareceres técnicos sob medidas, contratos para favorecerem interesses
privados", declarou. Segundo Troncon, a investigação deve ser
concluída em 60 dias.
No total, foram indiciadas 18
pessoas pelo esquema, entre servidores, empresários e advogados, acusados de
corrupção ativa, corrupção passiva, violação de sigilo funcional, falsidade
ideológica, falsificação de documento particular e tráfico de influência.
A Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), embora investigada, não foi alvo de
buscas, conforme havia sido informado inicialmente por fontes policiais.
Via Estadão
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