sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A desimportância de dizer o que o outro não deseja ouvir


Dag Vulpi - 12 de agosto de 2016


É normal para o ser humano priorizar as informações que confirmem suas crenças ou hipóteses, independentemente de serem ou não verdadeiras. Como resultado, as pessoas colhem evidências e trazem informações da memória de forma seletiva, interpretando-as de maneira, às vezes, enviesada (tendenciosa). O efeito é mais forte no caso de assuntos que envolvem o emocional e nos casos em que se está lidando com opiniões fortemente arraigadas.


Inicialmente, meu propósito seria escrever um artigo que esclarecesse de uma vez por todas essa celeuma que envolve as urnas eletrônicas e as desconfianças de fraudes que as cercam todas as vezes que terminam as apurações dos votos e os vitoriosos não foram aqueles que alguns desejavam que o fossem. Os derrotados, invariavelmente, colocam sob suspeita a confiabilidade das desafortunadas urnas e fazem isso sem a menor desfaçatez, pois muitos dos agora derrotados e chorosos não questionaram a confiabilidade daquelas quando seus escolhidos saíram-se vitoriosos em pleitos passados.


Ao mesmo tempo em que digito, e por mais que me certifique de tratar das veras que envolvem o tema, prevejo que a estas alturas, mesmo ainda estando na apresentação do texto, alguns já estejam em desarmonia com o que assevero. Desarmonia essa que tentarei reverter, ao menos para aqueles que conferirem o texto na íntegra e com a atenção necessária. Certamente não haverá unanimidade, mas isso muito provavelmente se justificará pela inevitável interferência dos seus vieses de confirmação.


Pensando nessas hipóteses, me veio à memória duas situações que, apesar de distintas, sintetizam bem essa ideia.


A primeira lembrança que tive foi relacionada aos livros de cânticos que são entregues nas entradas das igrejas. Explico.


Quando vou à missa, percebo que na entrada da igreja ficam aquelas senhorinhas entregando aqueles livretos onde, com todo o esmero, elas os organizaram. Certamente, até se reuniram com antecedência para certificarem-se de que tudo sairá nos conformes. Pois bem, quando finalmente chega o momento para os livretos serem usados, que é quando o celebrante avisa, “abram o livro de cânticos na página tal". Naquele momento ocorre algo inusitado, ao menos para mim, pois a maioria das pessoas, por conhecerem os louvores, abre o livreto na página determinada, mas sequer lançam os olhos sobre sua letra, afinal, para quem sabe a letra o livreto faz-se desnecessário. Por outro lado, há também aqueles que não sabem a letra, que na maioria das vezes é o meu caso. Esse segundo grupo acaba por valer-se do tal livreto, porém, apesar de acompanhar a letra, não conseguem entoá-lo em harmonia com os demais. Resumindo, todo aquele trabalhão feito com tanto carinho por aquelas senhoras acaba sendo em vão.


Outra lembrança que me remete a esse tema é a de uma passagem que vivi logo no início de minha carreira profissional.


Naquela ocasião, eu tinha meus tenros 19 anos e havia sido contratado para trabalhar no hoje extinto Banco Nacional, banco esse que pertencia ao saudoso José de Magalhães Pinto. Muito bem, estando eu com apenas alguns meses de trabalho naquela instituição financeira, na função de escriturário, comecei a observar algumas deficiências que, como é normal em quase toda empresa, passavam despercebidas por aqueles que ali trabalhavam há muito tempo; esse é um "fenômeno" normal, pois é inerente ao ser humano se adequar ao meio em que vive. No entanto, como eu estava quase me formando em administração na época e ainda não havia me adequado completamente ao ambiente de trabalho, ao menos não com aquelas situações que iam ao desencontro do que aprendi na sala de aula, resolvi tentar implantar na prática do meu trabalho o conhecimento absorvido na teoria.


Naquela manhã, assim que o sr. Lourival Lourenço, que era nosso gerente de serviços, chegou, fui até sua sala e perguntei se ele teria alguns minutinhos para ouvir umas ideias que eu havia tido para a melhoria da nossa agência. Prontamente, ele disse que sim, pediu para que a dona Cristina trouxesse dois cafezinhos e mostrando-se muito receptivo, pediu para que eu falasse sobre elas. Aí, eu falei que faria um breve resumo de todas as ideias que eu tinha, e ele falou que estava ótimo para ele. Pois bem, falei superficialmente sobre as propostas, e ele mostrou-se muito interessado, extasiado, diria eu. Ao final, ele levantou-se, bateu nas minhas costas e disse: "Dagmar, você é um jovem de futuro nessa instituição. Por favor, passe essas ideias para o papel que eu as levarei para o nosso gerente geral, mas de antemão, posso garantir-lhe que, se não em sua totalidade, pelo menos 90% do que você sugeriu será implantado, não somente nessa, mas em todas as demais agências Brasil afora, pois essas são deficiências generalizadas dessa instituição".


Com o auxílio da minha inseparável Olivetti, cuidei de transferir para o papel todas as ideias de melhorias que eu considerava pertinentes a serem implantadas. Ao final, somaram-se seis o número de páginas digitadas.


No outro dia, fui até a sala do gerente e deixei sobre a mesa o envelope a ele endereçado. O dia foi passando, e o expediente chegava ao seu fim quando ele me chamou em sua sala. Cheio de otimismo, certo de que as minhas ideias seriam aproveitadas, entrei e fui convidado a sentar. Antecipei-me e perguntei o que ele havia achado das ideias. Ele respondeu que começou a ler, mas que seria mais produtivo caso eu fizesse um resumo das ideias. Saí dali às pressas, fui para a faculdade, chegando em casa por volta das 23:00 hs. Tomei um banho e, de volta à minha velha Olivetti, consegui reduzir de 6 para 3 o número de páginas. No outro dia, logo cedo, deixei sobre a mesa o envelope, agora com as ideias resumidas em apenas três páginas. Lá pelas tantas, o Sr. Lourenço me chamou até a sua sala, e lá fui eu todo animado. Chegando lá, ele pediu os tradicionais 2 cafezinhos para a dona Cristina, mandou que eu me sentasse e disse: "Dagmar, suas ideias são muito interessantes, mas eu preciso que você me faça um favor. Faça um novo resumo, mas coloque somente aquilo que conversamos no primeiro dia."


Resumindo, de que valeriam minhas ideias, ou melhor, do que valeu todo o meu trabalho em chegar da faculdade depois de um dia estressante e detalhar em seis folhas cada passo para a instalação de melhorias, se, no fundo, nada do que eu havia dito teve alguma importância para o gerente?


E assim também acontece por aqui. Estou convicto de que pouco, ou de nada adiantaria estender esse texto teorizando sobre a eficiência e segurança das urnas eletrônicas e tentando desconstruir um pensamento já arraigado no subconsciente de alguns, se para aqueles pouco importarão as minhas justificativas. Afinal, a ideia de que de fato houve fraude, mesmo que não tenha havido, é mais oportuna do que as possíveis provas que comprovem o contrário.


Nosso cérebro procura confirmar os desejos e crenças que temos o tempo todo. Assim, descartamos tudo que não tem a ver com nossas opiniões anteriores e nos atemos a sinais que confirmam o que acreditamos.

Viés de confirmação: Na verdade buscamos apenas confirmar as nossas certezas





Por Dag Vulpi – Postada originalmente em 15/12/2014

No artigo de hoje vamos falar de um assunto que é abordado no livro Manual de Melhoria: o viés de confirmação. Você sabe o que é isto? Muita gente não sabe, mas ele esta presente em quase todas as decisões que tomamos em nosso dia a dia. Sugiro também que após o fim da leitura você assista ao vídeo que está inserido no final desta postagem.

É normal do ser humano priorizar as informações que confirmem suas crenças ou hipóteses, independentemente de serem ou não verdadeiras. Como resultado, as pessoas colhem evidências e trazem informações da memória de forma seletiva, interpretando-as de maneira às vezes enviesada (tendenciosa). O efeito é mais forte no caso de assuntos que envolvem o emocional e nos casos em que se está lidando com opiniões fortemente arraigadas.

Nosso cérebro procura confirmar os desejos e crenças que temos o tempo todo. Assim, descartamos tudo que não tem a ver com nossas opiniões anteriores e nos atemos a sinais que confirmam o que acreditamos. É o que a ciência chama de viés da confirmação, um estudo feito na Universidade de Ohio demonstrou como ele funciona. A pesquisa mostrou que as pessoas passam 36% mais tempo lendo um ensaio que esteja alinhado com suas opiniões do que um que vá contra o que elas pensam.

É inerente ao ser humano tender a considerar apenas as informações que estão de acordo com nossas crenças. Seja quando lemos um livro, assistimos a uma notícia no telejornal, ou mesmo numa conversa entre amigos.  Nas redes sociais, onde cada um de nós pode encontrar milhares, ou milhões, de outras pessoas que concordam conosco, seu poder se amplifica enormemente. Inconscientemente absorvemos aquelas informações que fortalecem nossas crenças e rejeitamos aquelas que vão ao desencontro a elas, independentemente das evidências, das provas, do senso comum, e muitas vezes, até mesmo do bom senso. É a interpretação seletiva e tendenciosa da realidade de acordo com nossos desejos mais íntimos e crenças mais arraigadas. Todos agimos assim, em menor ou maior grau.

O vício em confirmação tem raízes no modo como as emoções funcionam: quando algo reforça nossas crenças, nos sentimos triunfantes; quando são desmentidas, nos sentimos frustrados ou até ofendidos.

Saber que o viés existe, que nossa “busca pela verdade” muitas vezes não passa de uma busca enviesada pela confirmação de velhos preconceitos e ideias pré-fabricadas, é só um começo — mas um começo importante, numa sociedade que convive com fortes emoções e opiniões polarizadas em questões como futebol, moral, religião e também, principalmente, na política.

Além de todos esses conceitos, tem também a impressão, a simpatia e muitos outros julgamentos que fazemos sobre coisas e pessoas, sem nenhum embasamento. Você vê alguém e implica. Não gosta. Talvez por razões subjetivas que nem você conheça.

Em geral, tudo o que lemos, as notícias que buscamos, as pessoas em quem acreditamos, são aquelas que reafirmam o que já pensamos. Primeiro você gosta ou não gosta da pessoa e, em função disso, você vai concordar ou discordar dela.

É muito mais fácil convencer alguém ao usar argumentos que têm a ver com a crença que a pessoa já possui do que propor uma revolução.

O viés da confirmação é realmente algo interessante. Mas há muitas outras demonstrações que provam  como é fácil vender mentiras por causa das associações sem sentido que fazemos. As pessoas tendem a acreditar que todo rico é inteligente (o que não é verdade), que todo famoso é correto (o que nem sempre é verdade), que todo político é corrupto (o que em alguns casos não se confirma), que toda pessoa bonita é boazinha (o que não tem nenhuma ligação).

Existem inúmeras ocasiões em que o viés da confirmação aparece, entre elas podemos citar dois exemplos:

Torcedores fanáticos por determinado time de futebol, que só leem ou acatam argumentos e informações favoráveis ao seu time, refutando todo o resto;
Partidários ou ativistas políticos que buscam somente informações que enalteçam os aspectos positivos do lado que estão, refutando inúmeros escândalos ou provas que demonstrem ao contrário.

Há diferenças insuperáveis entre o “conhecimento” e a “crença”: o primeiro tem a ver com a razão, a realidade e a avaliação criteriosa das evidências; a segunda tem a ver com nossas emoções e com aquilo que desejamos que seja verdade, independentemente das contradições e das evidências. O conhecimento é o filho da razão e a crença é filha de nossos desejos e temores. O conhecimento é amigo das provas e das evidências: admite falhas, muda e assim se fortalece; a crença só admite o que convém e lhe reforça. Algumas vezes a verdade é contra intuitiva e as relações de causa e efeito nem sempre são evidentes, mas a natureza nunca mente. Ela é o juiz supremo de todos os litígios do conhecimento.

Uma maneira bem segura de saber se algo em que acreditamos está sendo influenciado pelo viés de confirmação é saber o que a ciência e os especialistas dizem sobre o assunto. A ciência não é perfeita, mas teorias científicas são permanentemente revisadas e se autocorrigem, impedindo os efeitos nocivos do viés de confirmação. Se a ciência vai de encontro com o que pensamos, devemos entrar em alerta. Ela é e sempre será nossa melhor guia na busca do conhecimento.

Meu objetivo com este artigo, apesar de ter pedido no inicio do texto uma atenção especial daqueles que normalmente divergem das minhas opiniões, não foi o de tentar insinuar que algum dia estive certo por defender algum ponto de vista, mas sim, apresentar uma proposta que possa levar ao entendimento de que em quase tudo, por mais convictos que estivermos, ainda assim, sempre poderá existir mais de uma possibilidade. 

A "Traidição" do poder


Por: Rui Rodrigues

“Traidição” é um neologismo. O poder trai por tradição. Criei-o hoje, mesmo contra a opinião dos amantes do vernáculo, porque entendo que a língua portuguesa deve evoluir, porque isso independe de nossa vontade. Se olharmos os textos originais de Camões ao escrever os Lusíadas, vemos que de lá para cá, a cada século, uma versão diferente da língua. Os puristas que me perdoem, mas a língua e a humanidade evoluem independentemente de nossas particulares vontades.

Alguns anos atrás, li sobre Ramsés II, o chefe supremo Egípcio, que se dizia, e os sacerdotes atestavam, como descendente de Amon-Rá, o deus supremo dos egípcios, assim diziam também os sacerdotes. Os hititas, figadais inimigos do Egito, provenientes da península da Anatólia, onde hoje se situa a Turquia, vieram com a novidade de carros de combate puxados a cavalos e a maravilha do ferro como arma de combate. Os egípcios dominavam bem a arte da fundição do cobre, maleável, dúctil, macio, mas não do duro e terrível aço que perfurava as armaduras tradicionais. Após uma batalha contra esses mesmos hititas, ganha por Ramsés, este mandou gravar uma inscrição nas pedras de seu templo, onde consta que ele, apenas ele, porque todos os de seu exército o tinham abandonado, e com a presença de Amon-Rá, tinham derrotado os temíveis hititas. Sabemos hoje que Amon–Rá era fictício, inventado por sacerdotes, que Ramsés não podia ser descendente de deus fictício, e que a batalha foi ganha por uma coluna que se perdera do exército principal de Ramsés, e que por felicidade encontrou as forças inimigas desprevenidas porque estavam ocupadas em assaltar o que pensavam serem os despojos de um exército derrotado. Essa coluna perdida, da qual Ramsés II fazia parte, derrotou os Hititas. O povo egípcio, porém, conviveu com os temores do deus Amon-Rá, com os poderes de Ramsés, e economizou uma boa parte de suas economias, levando uma vida pouco melhor do que miserável, para poder gastar no embalsamamento, pensando que assim ganharia a vida eterna do paraíso do panteão dos seus deuses. Ramsés II era mentiroso inveterado.

Ao olharmos a história universal, assistimos a fatos como este, ou parecidos com este, em que se explora a crendice popular para se exercer o poder. Nenhum poder terreno poderia ter sobrevivido até a revolução francesa iniciada com a queda da Bastilha em 14 de julho de 1789, se não tivesse o apoio moral e temido das instituições religiosas. Daí para cá, com a instituição da República, o mundo começou a separar-se, de fato, em duas partes: a laica e a religiosa. Em novembro de 1789 a Bastilha foi totalmente demolida, para que se esquecesse o fato e dele não restasse pedra sobre pedra. A iniciativa popular deveria ser esquecida, e novo tipo de governo se impunha aos fatos. Napoleão estava chegando para capitalizar toda a ufania popular e, dando vazão à sua vaidade, conquistar o mundo europeu para a França.

Como sabemos, depois de brilhante carreira como oficial das forças armadas francesas, Napoleão se perdeu na península Ibérica onde foi derrotado por três vezes em três invasões, e na Rússia, de onde debandou porque os botões da farda eram feitos de estanho, que a baixas temperaturas se esfarelava, não permitindo que os soldados se agasalhassem convenientemente no rigoroso inverno russo. Sem a sua elite, Napoleão foi derrotado em Waterloo, deportado, morreu envenenado pelos papéis de parede colados em sua casa prisão na Ilha de Santa Helena: os papéis da parede continham pinturas á base de chumbo ou arsênico. Não se descarta a hipótese de uma dose adicional de chumbo e arsênico, em beberagens e chás colocados á sua disposição pelas forças inglesas que o guardavam nessa ilha cedida por Portugal, cujas frotas por ali passavam demandando a África para se abastecerem de água potável. Os cabelos exumados de Napoleão atestam os altos índices desses elementos. O povo francês viveu os horrores da guerra, viu Napoleão se fazer a si mesmo coroar como Rei da Itália, imperador, e viu a derrocada de sua investida. Assim mesmo, continuam atribuindo a esse homem nanico, vaidoso e inconsequente, o título de herói nacional. Na verdade, mais um grande perdedor na história. 

Em 1918 terminou a segunda grande guerra mundial. O Kaiser Guilherme II da Alemanha tinha sido derrotado num conflito que durou quatro anos. A paz foi assinada em Versailles, e as nações vencedoras impuseram-lhe enormes e impagáveis tributos como indenização de guerra. Com a quebra da Bolsa de N. York em outubro de 1929, o mundo entrou em crise, e a Alemanha, naturalmente, ainda mais. A situação proporcionou o clima para o aparecimento de Adolf Hitler que logo iniciaria a segunda guerra mundial, dando emprego a uma população de desempregados, que viva uma inflação em que os preços dobravam, triplicavam na duração de um dia. Em 1939, Hitler invadiu a Polônia numa operação relâmpago, a Blitzkrieg. O mundo respondeu de imediato, e em 1942, os EUA entravam na guerra para desequilibrar a balança que pendia para Hitler. Com o final da guerra, em 1945, depois do lançamento de duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasáki, no Japão, as forças do Eixo, constituídas pela Itália, a Alemanha e o Japão estavam dominadas. Os EUA progrediram, Hollywood ficou conhecida no mundo, a “Paz Americana” se espalhou pelo planeta. O mundo só começou a perceber até onde ia o “new deal” de Roosevelt, quando a corrupção do capital começou a desestabilizar governos, a corromper a moral, a institucionalizar regimes, a operar a tortura como modo de coação pró-capitalismo. O capital parecia bom para todos e para mim também. A oportunidade de ter dinheiro, progredir, ter carros luxuosos, entrar para as telas de filmes, fazer parte do mundo novo, da tecnologia.

Então, certo dia, vencido o regime comunista, porque não entenderam seus dirigentes os manifestos nem as doutrinas nem as filosofias de Friedrich Engels e Carl Marx, sobrou apenas o capital como dono absoluto de todas as filosofias, de toda a verdade da humanidade. Finalmente, o capital vencera. O mundo dos banqueiros iniciado na Flandres renascentista com as descobertas marítimas da América do Norte e do Sul, para financiar empreendimentos marítimos, agora estava dona do poder. Os Bancos mandavam por que financiavam, elegiam vereadores, deputados, vices e presidentes, prefeitos, sustentavam partidos políticos, recebiam em suas contas os lucros gordos do tráfico de drogas. A juventude, por falta de visão de futuro seguro onde pudesse sobreviver, entregava-se á falsa ilusão de que as drogas eram a alegria do momento, o relaxamento das duras dificuldades da vida, de sua existência. O tráfico começou também a eleger e a depositar seus lucros em Bancos. A moral relaxou e bandidos estão cada vez mais livres, mais públicos, constroem tudo destruindo o futuro da juventude.

Recentemente, os governos começaram a dar festas públicas pagas com dinheiros públicos, a dar bolsas família que não representam quase nada para o nada que as famílias ganham como trabalhadoras para industrias milionárias que não dividem seus lucros com eles. Os Bancos, inventando uma crise em 2008, baseados na péssima administração deficiente de cinco desses Bancos, exigiram o pagamento da dívida de ter gasto em eleições, dos membros eleitos, e os governos lhes deram os dinheiros públicos arrecadados em multas, impostos, suor e sangue da classe trabalhadora popular...

A informação, a desinformação, e a contra- informação, tal como durante a guerra fria entre comunistas devassos e capitalistas ambiciosos, corruptos e corruptores, espalha-se pela humanidade confundindo os deslumbrados e as deslumbradas a quem ainda não tocou a sombra amarga e penetrante das lâminas da fome que rasgam intestinos e causam a cizânia entre as famílias. Quando despertarem estes, juntar-se-ão aos milhões de outros que bradam aos céus a iniquidade e a ignorância.

Por esses tempos, já terei ido... partido, sumido e ninguém notará a minha falta. Deixo apenas o registro. Quem sabe alguém entende o que escrevi?

Rui Rodrigues postado originalmente neste blog em 18/08/2011

Vote, legitime-o e depois sofra as consequências!



O inesquecível Ruy Barbosa (1849/1923), entre muitas citações polêmicas, nos deixou um legado que se tornou famoso em todo o mundo, quando disse:

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

Como sempre, esse ilustre homem, que sempre demonstrou sua perspicácia, misturada com ironia e sarcasmo, estava coberto de razão, em todas as suas "tiradas". No meio de suas irreverências filosóficas sempre vamos encontrar uma dose profunda de bom senso, de visão ampla e de coragem no enfrentamento às inversões dos valores políticos, morais e sociais da época. Pelo que pudemos constatar, já em meados do início do século XX, a situação não estava lá muito equilibrada, no que concerne aos relacionamentos sociológicos, pois o Ruy viu-se obrigado a despejar, de forma contundente, sua opinião "apimentada" contra as injustiças, as atitudes negativas dos que mantinham o poder, o crescimento das mediocridades, a prosperidade dos corruptos, e por aí vai.

A política brasileira tem apresentado uma tendência diferenciada e aprimorada da corrupção no sentido axiológico, sobre os quais os detentores do poder vêm se aprimorando na tática de corrupção. Guiado pelo manto de legalidade, esses atores criam um ambiente propício ao que a eles fora atribuído por um sufrágio eleitoral, contaminado pelas ações anteriores que direcionaram todo um processo eletivo para um resultado anteriormente predeterminado e já conhecido.

A inércia dos cidadãos, antecipadamente organizada por ações que os levaram a este status quo, facilita de forma concreta a legitimação desse poder, impossibilitando qualquer questionamento e  fiscalização, por quem de direito deveria fiscalizar.

A política brasileira, nos últimos anos, foi preparada em todos os seus aspectos para a prática da corrupção, onde o Sistema, fazendo uso de seu poder de manipulação e convencimento através da mídia e outros meios, apresenta um paradoxo (fala política/realidade política/inércia do cidadão) que passa a exigir deste contexto, outro valor criativo, o qual urge a necessidade de inovar, produzindo um repensar do projeto político aplicado na atualidade brasileira a partir do modelo de democracia deliberativa de Habermas e dos pensamentos de George Orwell apresentados no livro 1984. Este modelo político foi perfeitamente adaptado para a nossa realidade no modo de agir desses detentores do poder.

A democracia aplicada neste modelo político, bem como o sucesso de sua ação e dos resultados políticos, não depende da vontade do povo, mas, antes, da força da propaganda midiática. Na compreensão desse modelo de democracia o que importa não é o povo, mas, o equilíbrio entre o dinheiro e o poder.

Então, se analisarmos o mundo do terceiro milênio, veremos que muita coisa mudou nesses cem anos de progresso, ou seja, muita coisa mudou pra pior, com a tendência de piorar ainda mais, dando mostras incontestes de que aquilo que esteja muito ruim não deve ser lamentado, porque existe sempre a possibilidade de ficar ainda mais lamentável, caso nada seja feito para alterar sua trajetória descendente, consistente e indecente. Hoje, as palavras do grande Ruy já estão obsoletas, pelo simples fato de haver perdido sua "acidez" suficiente para retratar a situação atual. Façamos então um trabalho de "melhora" na famosa frase, tornando-a mais compatível com a realidade contemporânea: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus”, o homem chega a combater a virtude, a cultivar a desonra, a ter aversão pela honestidade.

Sobre o Blog

Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

Dag Vulpi

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