Por: Rui Rodrigues
“Traidição” é um neologismo. O poder trai por tradição. Criei-o hoje, mesmo contra a opinião dos amantes do vernáculo, porque entendo que a língua portuguesa deve evoluir, porque isso independe de nossa vontade. Se olharmos os textos originais de Camões ao escrever os Lusíadas, vemos que de lá para cá, a cada século, uma versão diferente da língua. Os puristas que me perdoem, mas a língua e a humanidade evoluem independentemente de nossas particulares vontades.
Alguns anos
atrás, li sobre Ramsés II, o chefe supremo Egípcio, que se dizia, e os
sacerdotes atestavam, como descendente de Amon-Rá, o deus supremo dos egípcios,
assim diziam também os sacerdotes. Os hititas, figadais inimigos do Egito,
provenientes da península da Anatólia, onde hoje se situa a Turquia, vieram com
a novidade de carros de combate puxados a cavalos e a maravilha do ferro como
arma de combate. Os egípcios dominavam bem a arte da fundição do cobre, maleável,
dúctil, macio, mas não do duro e terrível aço que perfurava as armaduras
tradicionais. Após uma batalha contra esses mesmos hititas, ganha por Ramsés,
este mandou gravar uma inscrição nas pedras de seu templo, onde consta que ele,
apenas ele, porque todos os de seu exército o tinham abandonado, e com a
presença de Amon-Rá, tinham derrotado os temíveis hititas. Sabemos hoje que
Amon–Rá era fictício, inventado por sacerdotes, que Ramsés não podia ser
descendente de deus fictício, e que a batalha foi ganha por uma coluna que se
perdera do exército principal de Ramsés, e que por felicidade encontrou as
forças inimigas desprevenidas porque estavam ocupadas em assaltar o que
pensavam serem os despojos de um exército derrotado. Essa coluna perdida, da
qual Ramsés II fazia parte, derrotou os Hititas. O povo egípcio, porém,
conviveu com os temores do deus Amon-Rá, com os poderes de Ramsés, e economizou
uma boa parte de suas economias, levando uma vida pouco melhor do que
miserável, para poder gastar no embalsamamento, pensando que assim ganharia a
vida eterna do paraíso do panteão dos seus deuses. Ramsés II era mentiroso
inveterado.
Ao olharmos a
história universal, assistimos a fatos como este, ou parecidos com este, em que
se explora a crendice popular para se exercer o poder. Nenhum poder terreno
poderia ter sobrevivido até a revolução francesa iniciada com a queda da
Bastilha em 14 de julho de 1789, se não tivesse o apoio moral e temido das
instituições religiosas. Daí para cá, com a instituição da República, o mundo
começou a separar-se, de fato, em duas partes: a laica e a religiosa. Em
novembro de 1789 a Bastilha foi totalmente demolida, para que se esquecesse o
fato e dele não restasse pedra sobre pedra. A iniciativa popular deveria ser
esquecida, e novo tipo de governo se impunha aos fatos. Napoleão estava
chegando para capitalizar toda a ufania popular e, dando vazão à sua vaidade,
conquistar o mundo europeu para a França.
Como sabemos,
depois de brilhante carreira como oficial das forças armadas francesas,
Napoleão se perdeu na península Ibérica onde foi derrotado por três vezes em
três invasões, e na Rússia, de onde debandou porque os botões da farda eram
feitos de estanho, que a baixas temperaturas se esfarelava, não permitindo que
os soldados se agasalhassem convenientemente no rigoroso inverno russo. Sem a
sua elite, Napoleão foi derrotado em Waterloo, deportado, morreu envenenado
pelos papéis de parede colados em sua casa prisão na Ilha de Santa Helena: os
papéis da parede continham pinturas á base de chumbo ou arsênico. Não se
descarta a hipótese de uma dose adicional de chumbo e arsênico, em beberagens e
chás colocados á sua disposição pelas forças inglesas que o guardavam nessa
ilha cedida por Portugal, cujas frotas por ali passavam demandando a África
para se abastecerem de água potável. Os cabelos exumados de Napoleão atestam os
altos índices desses elementos. O povo francês viveu os horrores da guerra, viu
Napoleão se fazer a si mesmo coroar como Rei da Itália, imperador, e viu a
derrocada de sua investida. Assim mesmo, continuam atribuindo a esse homem
nanico, vaidoso e inconsequente, o título de herói nacional. Na verdade, mais
um grande perdedor na história.
Em 1918
terminou a segunda grande guerra mundial. O Kaiser Guilherme II da Alemanha
tinha sido derrotado num conflito que durou quatro anos. A paz foi assinada em
Versailles, e as nações vencedoras impuseram-lhe enormes e impagáveis tributos
como indenização de guerra. Com a quebra da Bolsa de N. York em outubro de
1929, o mundo entrou em crise, e a Alemanha, naturalmente, ainda mais. A
situação proporcionou o clima para o aparecimento de Adolf Hitler que logo
iniciaria a segunda guerra mundial, dando emprego a uma população de
desempregados, que viva uma inflação em que os preços dobravam, triplicavam na
duração de um dia. Em 1939, Hitler invadiu a Polônia numa operação relâmpago, a
Blitzkrieg. O mundo respondeu de imediato, e em 1942, os EUA entravam na guerra
para desequilibrar a balança que pendia para Hitler. Com o final da guerra, em
1945, depois do lançamento de duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasáki,
no Japão, as forças do Eixo, constituídas pela Itália, a Alemanha e o Japão
estavam dominadas. Os EUA progrediram, Hollywood ficou conhecida no mundo, a
“Paz Americana” se espalhou pelo planeta. O mundo só começou a perceber até
onde ia o “new deal” de Roosevelt, quando a corrupção do capital começou a
desestabilizar governos, a corromper a moral, a institucionalizar regimes, a
operar a tortura como modo de coação pró-capitalismo. O capital parecia bom
para todos e para mim também. A oportunidade de ter dinheiro, progredir, ter
carros luxuosos, entrar para as telas de filmes, fazer parte do mundo novo, da
tecnologia.
Então, certo dia, vencido o regime comunista, porque não entenderam seus dirigentes os manifestos nem as doutrinas nem as filosofias de Friedrich Engels e Carl Marx, sobrou apenas o capital como dono absoluto de todas as filosofias, de toda a verdade da humanidade. Finalmente, o capital vencera. O mundo dos banqueiros iniciado na Flandres renascentista com as descobertas marítimas da América do Norte e do Sul, para financiar empreendimentos marítimos, agora estava dona do poder. Os Bancos mandavam por que financiavam, elegiam vereadores, deputados, vices e presidentes, prefeitos, sustentavam partidos políticos, recebiam em suas contas os lucros gordos do tráfico de drogas. A juventude, por falta de visão de futuro seguro onde pudesse sobreviver, entregava-se á falsa ilusão de que as drogas eram a alegria do momento, o relaxamento das duras dificuldades da vida, de sua existência. O tráfico começou também a eleger e a depositar seus lucros em Bancos. A moral relaxou e bandidos estão cada vez mais livres, mais públicos, constroem tudo destruindo o futuro da juventude.
Recentemente, os governos começaram a dar festas públicas pagas com dinheiros públicos, a dar bolsas família que não representam quase nada para o nada que as famílias ganham como trabalhadoras para industrias milionárias que não dividem seus lucros com eles. Os Bancos, inventando uma crise em 2008, baseados na péssima administração deficiente de cinco desses Bancos, exigiram o pagamento da dívida de ter gasto em eleições, dos membros eleitos, e os governos lhes deram os dinheiros públicos arrecadados em multas, impostos, suor e sangue da classe trabalhadora popular...
A informação, a desinformação, e a contra- informação, tal como durante a guerra fria entre comunistas devassos e capitalistas ambiciosos, corruptos e corruptores, espalha-se pela humanidade confundindo os deslumbrados e as deslumbradas a quem ainda não tocou a sombra amarga e penetrante das lâminas da fome que rasgam intestinos e causam a cizânia entre as famílias. Quando despertarem estes, juntar-se-ão aos milhões de outros que bradam aos céus a iniquidade e a ignorância.
Por esses tempos, já terei ido... partido, sumido e ninguém notará a minha falta. Deixo apenas o registro. Quem sabe alguém entende o que escrevi?
Rui Rodrigues postado originalmente neste blog em 18/08/2011
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