Os crimes de
racismo e injúria racial, que, recentemente, com as ofensas feitas à atriz Taís
Araújo nas redes sociais, tiveram mais um caso de repercussão nacional, foram
debatidos hoje (6) durante a 4ª Sernegra - Semana de Reflexões sobre Negritude,
Gênero e Raça do Instituto Federal de Brasília.
Segundo o
promotor de justiça e coordenador dos núcleos de Direitos Humanos do Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Thiago Pierobon, o racismo é
o ato de discriminação genérico endereçado a todas as pessoas que se enquadram
em um determinado estereótipo de discriminação. Já a injúria é a ofensa
direcionada a uma pessoa individualizada com elementos relativos à cor ou raça
dessa pessoa, como a sofrida pela atriz. De acordo com Pierobon, nos dois
casos, a pena prevista é a mesma: de um a três anos de prisão.
Apesar de
manifestações discriminatórias serem frequentes, conseguir a punição dos
agressores nem sempre é fácil, ressaltou o promotor. “Se, eventualmente, alguém
praticar uma ofensa racial e não houver nenhuma prova ou testemunha dos fatos,
não vamos ter condição de fazer a responsabilização.” Por isso, acrescentou
Pierobon, o ponto mais importante é fazer prevenção . “A prevenção se faz nas
escolas, com a disseminação de uma cultura de respeito, de tolerância, com o
ensino da história dos povos negros no país.”
Perfil
dos agressores
Pierobon disse
que os episódios mais comuns normalmente envolvem pessoas de classe média.
“Geralmente, quando ela busca ser atendida em um determinado serviço como
supermercado, transporte público, ou por uma empregada doméstica e acaba tendo
um conflito pontual com aquela pessoa, porque não recebe o atendimento que ela
achava que merecia receber, a pretexto de fazer uma reclamação, a pessoa usa um
conjunto de expressões, de ofensas de conteúdo discriminatório.”
Segundo o
promotor, os crimes cometidos pela internet têm dois lados. Um deles facilita a
punição, já que as pessoas têm a falsa ilusão de que, quado estão no ambiente
virtual, são totalmente anônimas, o que não é verdade, conforme afirmam
especialistas do setor. “Normalmente, na maioria das ofensas, as pessoas não
têm a cautela de criar um perfil falso ou acessar a internet por meio de uma
conexão neutra. A maioria das pessoas chega em casa e, do seu computador ou do
seu celular, faz a conexão e pratica a ofensa porque se acha no direito”, disse
Pierobon.
Uma das
dificuldades que o promotor destaca nesse novo modelo de investigação criminal
é que as autoridades ainda estão se acostumando a esses delitos. Crimes
praticados pela internet exigem uma celeridade especial porque as empresas só
armazenam as informações por um ano.
“É muito importante que, o mais rápido possível, a vítima comunique a autoridade policial ou o Ministério Público e que estes providenciem prontamente a sucessão de requerimentos de quebra do sigilo de dados para responsabilizar os culpados”, afirmou Pierobon.
Questão
cultural
Na opinião de
Pierobon, sempre houve racismo no Brasil, mas a prática sempre foi tolerada
pela sociedade como algo normal e natural. “A partir do instante em começamos a
denunciar que existe o racismo, que não podemos aceitar o racismo, que temos
que promover um conjunto de ações para para afirmar os direitos dos negros, nós
vemos a reação a esse movimento, com pessoas se manifestando publicamente
contra ações afirmativas, dizendo que não existe racismo no Brasil e se
posicionando contra tais ações.”
Segundo dados
do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, em 2013 foram
registrados 60 casos de racismo ou injúria racial. No ano seguinte, foram 48 e,
este ano, a expectativa é mais de 60 registros sejam feitos. Além de penas como
prisão, punição com prestação de serviço e indenização em favor da vítima, em
Brasília, os condenados também passam por curso de conscientização racial.
Uma parceria
do Ministério Público com a Universidade de Brasíia (UnB), que começou no ano
passado, já está indo para a quarta turma, que deve passar pelo curso ainda
neste mês. “O curso é um aspecto muito importante. Na grande maioria dos casos,
as pessoas replicam estereótipos de forma inconsciente, não se dão conta do que
estão fazendo. Eu diria que a nossa linguagem é racista. Isso está impregnado
no inconsciente das pessoas”, afirmou Thiago Pierobon.