A votação do
Projeto de Lei (PL) 2.960/15, que trata da repatriação de recursos mantidos no
exterior sem conhecimento do Fisco, prevista para ontem (28), foi adiada por
causa de divergências em torno do relatório. Deputados de oposição chegaram a
obstruir a sessão por temer que a proposta abra brechas para a regularização de
recursos ilícitos mantidos no exterior e aprovaram, por 193 votos a favor, 175
contra e uma abstenção, requerimento de retirada de pauta do texto.
As principais
discordâncias giram em torno das alterações promovidas pelo relator da matéria,
Manoel Junior (PMDB-PB), ao texto encaminhado pelo Executivo. Líderes da
oposição argumentavam que as alterações poderiam beneficiar envolvidos na
Operação Lava Jato, além de desconsiderar a legislação que trata de evasão de
divisas e lavagem de dinheiro.
“Não podemos,
para ajustar as contas do governo, permitir que dinheiro ilegal seja
regularizado por meio de uma taxa”, disse o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE).
“É como o governo cobrar propina para repatriar o dinheiro sujo”, afirmou
Coelho. Para o deputado, o que está por trás disso é anistiar todos os
envolvidos na Operação Lava Jato.
O relator
rebateu as críticas e disse que fez alterações no texto para dar mais segurança
jurídica à proposta, evitando brechas que pudessem beneficiar envolvidos na
Lava Jato. “[Agora] nosso projeto está bastante restrito, compacto, mais claro
e com linguagem compreensível [evitando brechas]”, afirmou.
O projeto cria
um regime especial de regularização de recursos não declarados que estão no
exterior, fixando um tributo único para sua legalização perante a Receita
Federal. Para regularizar os recursos trazidos de volta ao país, o interessado
deverá pagar Imposto de Renda e multa sobre o valor do ativo, totalizando 30%
do valor declarado. A regularização importará anistia para os crimes de
sonegação fiscal e evasão de divisas, desde que não haja decisão final da
Justiça contra o declarante.
Como a
proposta tramita com urgência constitucional, tranca a pauta da Casa. Após a
retirada de pauta, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse
que um acordo entre as lideranças fará com que a matéria seja votada na próxima
terça-feira (3).
“Nós ajustamos
o texto com o relator e purificamos algumas divergências”, disse Guimarães. “Já
estamos para fechar um grande acordo – a matéria demorou, por ser polêmica, por
ser delicada. Às vezes, um artigo tem muita subjetividade”, ressaltou.
Segundo
Guimarães, o adiamento foi uma postura correta. “Alguns deputados estavam
levantando a expectativa de não iniciar a discussão e votação sem conhecer o
texto”, disse ele. “Diferentemente do que disseram alguns no plenário, essa lei
é fundamental para o país. Não tem nada de ilegal, é voltada para os capitais
lícitos que estão no exterior.”
O líder do
governo lembrou ainda que o Brasil tem até 2018 para aprovar legislação nesse
sentido em razão de acordos internacionais assinados pelo Brasil para ingressar
na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).