sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Amanhã começa o 15-M

Acabar com as heranças, hipotecas e sobrevivências do franquismo
supõe consumar a ruptura democrática inconcluída. Isso supõe mais
democracia e mais liberdades. Foto de Julio Albarrán

O nexo de união entre a praça do Sol e Tahrir é a dignidade de uma juventude que quer ter futuro e que actua também em nosso nome, incluindo os que no activo têm mais passado do que futuro. Por Manuel Gari 





A irrupção em plena campanha para as eleições municipais e autonómicas de um amplo movimento que reivindica o óbvio nas praças, teve um primeiro efeito: mexeu com os parâmetros do “debate” político convencional eleitoral no nosso país. E, mais importante, rompeu com o malefício do ciclo de desmobilização social para o qual parecíamos atirados sem remédio.
O que começou como uma entediante primeira volta das eleições gerais tornou-se num fórum vivo de, pelo menos, uma parte do povo da esquerda que fez do espaço público um bastião face ao atropelo. As eleições (recordemos: locais!) supuseram uma janela de oportunidade para que, o que se vinha anunciando em pequenas actividades e em muitas conversas, se manifestasse em massa. E ninguém limitou nem a análise nem as propostas ao âmbito municipal, todos os temas, desde os locais aos globais, se puseram sobre a mesa.
Questão de dignidade
O mal-estar transformou-se em indignação. A indignação pôs-se em marcha sob a forma de acção política colectiva no passado 15 de maio. Já tinha precedentes próximos, como as mobilizações da Juventude sem Futuro (sem casa, sem trabalho, sem pensão, mas também sem medo). Mas esses precedentes tinham sido ignorados por analistas e decisores. E, o que ainda não conseguiram entender os dirigentes políticos institucionais nem os seus intelectuais orgânicos, é que a força motriz da mobilização não é tanto uma fiada de reivindicações prévias como a necessidade e o objectivo de recuperar a dignidade.
Porque se trata de dignidade. E esse é o nexo de união entre a praça do Sol e Tahrir: a dignidade de uma juventude que quer ter futuro e que actua também em nosso nome, incluindo os que no activo têm mais passado do que futuro. O outro nexo de união é a interacção que as redes sociais permitiram ao serviço da acção Até aqui as similitudes. A partir daí as diferenças. O contexto político e social é diferente. Lá havia que bater ditaduras, aqui tirar a política do lodaçal. Lá os problemas sociais superam em gravidade e intensidade os muito reais e graves existentes aqui. Mas ambas lutas, de ambos os lados do Mediterrâneo, com as suas diferenças e similitudes fazem parte de um mesmo movimento emancipatório que abre novas esperanças.
Um amplo sector da sociedade sente-se mal tratado e defraudado. Foi testemunha muda do debate político sectário partidário, da corrupção sem limites, da actuação de um poder judicial pelo qual o fim do franquismo não passou ainda, de um PP que anuncia, a partir dum discurso vazio, uma nova era para Espanha, se governasse, e de um PSOE que perdeu a credibilidade e a honra ao aplicar as políticas de ajustamento que lhe ditavam os mercados, ou seja, o capital. A sociedade foi expropriada e, em particular a juventude, que maioritariamente nem sequer pode perder direitos sociais porque não chegou a aceder aos mesmos e a quem cinicamente se oferece como saída que passe a fazer parte dos “empreendedores” ou, o que é o mesmo, põe-se às costas da vítima do desemprego o fardo da solução.
O significado da revolta
O 15M colocou duas questões centrais: Quem deve pagar a crise? Quem e como se devem adoptar as decisões colectivas numa sociedade democrática? Questões que resumem o conteúdo social e político da qualificada, de forma ingénua e exagerada, spanish revolution.
O movimento Democracia Real Já (DRY) põe em questão as políticas de ajuste neoliberais e propõe-se procurar alternativas. E como condição para isso coloca a necessidade da sociedade dispor de ferramentas democráticas para decidir o seu futuro. Perguntas que o levam, ao procurar soluções face à crise, a aproximar-se na prática de propostas anticapitalistas. Perguntas também que o levam a questionar não a democracia, mas as formas desta democracia sem participação activa da cidadania e com altas doses de corrupção institucionalizada.
Em definitivo o 15M situa a questão da qualidade da democracia e a necessidade de uma volta na política económica e social no centro do debate político. O perfil do DRY é o de um movimento social autónomo no que toca a partidos e sindicatos, de composição fundamentalmente juvenil –embora haja que destacar a incorporação crescente de outras gerações militantes - diverso e plural, ao mesmo tempo que unitário, em que coexistem múltiplas identidades e participam novos activistas sem trajectória organizativa prévia conjuntamente com gente do movimento ecologista, feminista e estudantil ou de componentes dos centros sociais ou das novas expressões da esquerda à esquerda. E, além disso, sindicalistas “a título individual” e uma infinidade de pessoas com alguma causa pendente vão às concentrações. O estar farto e a identificação do inimigo comum aglutinam o conjunto.
Resultam, por isso, extravagantes e mal intencionadas perguntas como quem está por trás do movimento, próprias de uma concepção da política em que os povos e as gentes não têm capacidade de se emancipar e ficam reduzidos à condição de meros acompanhantes de uma organização ou outra. Em vez de se perguntarem quem está no meio, tomam como pressuposto a existência duma mão invisível – geralmente antissistema - que maneja as marionetas. Pudemos ler e escutar exemplos delirantes de “conspiranóia” procedentes tanto da direita e seus grupos mediáticos como de reconhecidas plumas do primeiro grupo espanhol de comunicação de centro-direita que, inicialmente, se situaram agressivamente contra o movimento porque rompia com a sua ideia sobre procedimentos e modos com que a participação na vida democrática se deve desenvolver.
É preciso fazer uma menção especial ao alheamento existente no DRY em relação aos sindicatos, a todos certamente. Alguns dos seus componentes atiram à cara das organizações sindicais maioritárias que não tenham cumprido, que tenham cedido em questões como as pensões. Bem fazem os principais dirigentes sindicais reconhecendo que há motivos para a indignação. Mal fariam quem dos sindicatos reduzisse as relações com o DRY ao conflito com os “antissindicais”. As organizações sindicais têm um repto à sua frente: estabelecer pontes com uma geração de futuros trabalhadores e trabalhadoras que configurarão a classe trabalhadora de manhã e com quem não existem hoje cumplicidades.
Novas revoltas, novas formas
O movimento, apoiando-se nas redes sociais, rapidamente se estendeu geograficamente, cresceu numericamente, organizou – com um impressionante grau de eficiência - começou a realizar propostas políticas (que estúpidas soam hoje as palavras de alguns ilustres académicos e tertulianos que desde o primeiro dia, na tentativa de o estigmatizar, pontificaram que o movimento não tinha alternativas!), mostrou imaginação nas formas de acção, audácia nas propostas face ao establishment, autocontenção face a provocadores e fascistas, disciplina na reacção face à repressão policial, serenidade ante as tentativas de criminalização da direita, e, muito especialmente, vontade e decisão face às diferentes tentativas de o dissolver a partir dos gabinetes da Junta Eleitoral.
O seu primeiro grande ganho é ter conseguido tecer a sua permanência dia a dia, noite a noite, resistindo em praças onde se ensaiou com sucesso a “outra cidade”, a da fraternidade e da cooperação. Como metáfora mesma da dificuldade que enfrenta a mudança para as mulheres a nível macro, esteve presente no micro na expressão grosseira do machismo de algum acampado que as feministas souberam pôr no seu lugar. O grito de “Não saímos” foi a expressão rotunda e gráfica da vontade de resistência e de uma estratégia elementar que se mostrou acertada e eficaz nestes primeiros passos. O movimento ganhou legitimidade face à sociedade porque soube dar o primeiro passo depois de se indignar: actuar A sua singela e elementar mensagem deixou entredito e colocou em evidência a muito escassa legitimidade dos principais atroes e instituições do sistema político. Mas não ganhou credibilidade só por isso, obteve-a porque quem se mobilizou representa e exprime a percepção política e o estado de ânimo de um amplíssimo sector face às instituições.
As ideias força do 15M
A palavra-de-ordem “Não, não, não nos representam!” põe em primeiro plano o divórcio existente entre a juventude (e também dum amplo sector social) e as elites políticas institucionais, a famosa “classe política” (que termo mais perturbador!). Os “políticos” – profissionalizados em instituições e partidos - aparecem ante os seus olhos não como quem soluciona por delegação os problemas colectivos mas como agentes ao serviço da banca e dos empresários. Portanto, são percebidos como parte do problema. A palavra-de-ordem “Não votes neles” tem destinatários concretos: os partidos que contam na hora das decisões: PSOE e PP. Mas a crítica à política institucional abarca todos os partidos do sistema. E, no entanto, não é sequer maioritária a posição antivoto ou abstencionista clássica do anarquismo. Simplesmente não querem votar “nesses”.
Quando milhares de pessoas entoam em coro “Chamam-lhe democracia e não o é” estão a dar relevo à existência de ateromas nas vias de participação democrática num país em que os procedimentos se reduzem a exercer o voto periodicamente. Um país onde os conselhos de participação cidadã são em muitos casos fingimentos que não chegam nem ao nível consultivo, a Iniciativa Legislativa Popular é um corrida de obstáculos com nulos resultados, o direito de referendo tem uma regulamentação que o torna inviável e modestas experiências como os orçamentos participativos são uma excreção Se os procedimentos de participação têm ateromas, estes ainda são maiores no seio dos partidos maioritários. Como resultado temos um modelo esclerosado que exige mudanças desde a raiz.
A qualidade democrática
As concentrações não estão a por em questão as liberdades e a democracia mas sim a falsificação da mesma. O “atado e bem atado”i do sistema político fruto do consenso imposto sob ameaça nada exemplar nem modelar – pese embora a historiografia e hagiografia oficial – a transição espanhola tem a sua tradução jurídica na Constituição vigente que aparece como um texto sagrado ou tabu intocável. Das que puderam votar a Constituição de 1978, continuam vivas 8 822 278 pessoas, ou seja, 20,71% da população espanhola actual e dado que a participação ascendeu ao 67,11% - fosse qual fosse a sua papeleta- somente votaram 5 920 630.
Isso significa que a grande maioria da população espanhola actual não decidiu sobre questões tão importantes como o modelo de estado, o sistema económico, a forma de governo ou a monarquia. A juventude actual não se identifica com um texto com apontadas carências democráticas que não decidiu e que ninguém lhe permite poder referendar ou mudar. É hora de abordar o problema criado há 35 anos pela política do consenso constitucional imposto e pela falta de memória. Acabar com as heranças, hipotecas e sobrevivências do franquismo supõe consumar a ruptura democrática inconcluída. Isso supõe mais democracia e mais liberdades.
O futuro do movimento
Um bom número de intelectuais tentou, com pouca sorte, caracterizar o movimento para augurar o seu futuro. O qualificativo precedeu o substantivo. Antes de nascer a criatura já tinha registado o nome e a partida por morte. Como amostra bastam alguns exemplos.
Vejam como Etxezarreta associou o movimento com uma “birra passageira” necessitada, para sobreviver, de se aliar com entidades com mais entidade; obviando à existência de importantes organizações sociais que o apoiam e esquecendo o movimento de fundo que motiva o 15M, além da debilidade das formas organizativas do DRY, Fernando Vallespín chamou-lhe populista – com risco de emparelhar com o populismo de direita - porque atacava genericamente os bancos e os governos; ignorando que esses a quem assinala são os que toda a vida foram “os que estão em cima” para os movimentos sociais de esquerda. Pablo Oñate augura o seu fracasso porque “carece de propostas articuladas”, ignorando as que qualquer um pode consultar em www.democraciarealya.es. Como é possível que não se tenha dado ao trabalho de conhecer o que criticava? Ou muito me engano ou o movimento social pouca ajuda vai receber da maior parte da academia e da intelectualidade homologada.
Hoje à hora de escrever o texto não se conhece ainda o resultado eleitoral e portanto o quadro institucional resultante. Certamente não será indiferente a correlação de forças que se estabeleça entre as diferentes forças depois das eleições. Mas isso pouco tem a ver com os debates nas assembleias nas praças e não partilho da preocupação expressa por José Luis Zárraga quando indica ao movimento a necessidade de votar. Essa não é a questão tal como se pôde comprovar nas assembleias para além de intervenções episódicas. A questão em debate não era votar ou não no dia 22. A questão é que democracia e que política.
Aventuro que o movimento em torno do DRY não vai ter efeitos eleitorais neste curto prazo de tempo, pois cada força política – a começar pelo PSOE – foi ganhando a pulso a sua situação e o resultado do partido, empregando a linguagem desportiva, dependia apenas do seu próprio jogo. E, por sua vez, os reptos do futuro que o 22 M tem ante si, depois do DRY, são de tal natureza que dependem em muito pequena medida do novo quadro nas Câmaras e Comunidades.
A 23 começará uma nova etapa do movimento surgido a 15M num quadro em que em todas as autonomias e câmaras vai recrudescer a política de ajustamento duro antissocial e em que as políticas governamentais vão estar determinadas pelas novas exigências regressivas do Pacto pelo Euro.
O futuro do DRY dependerá da sua capacidade para oferecer respostas alternativas, estabelecer alianças sociais amplas, desenhar cenários de relação com os partidos e solucionar os novos problemas de organização que permitam um funcionamento estável, unitário e pluralista bairro a bairro e aldeia a aldeia. O resultado é incerto, mas o repto de tentar manter e fortalecer o espírito da Sol, da Trinidad, Catalunya, Ajuntament e esse grande etc. de praças, é uma aventura que vale a pena empreender.
http://www.anticapitalistas.org/node/6906
Tradução de Paula Sequeiros para o Esquerda.net

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

FUNDAÇÃO DA CONFRARIA ALTERNATIVA - COAL

Hoje 01/08/2011 a Confraria Alternativa COAL - iniciou suas atividades.
Trata-se de um grupo democrático, idealizado no facebook.
 
A COAL se propõe tratar de forma ampla e abrangente:

a) Discussão de tendências da humanidade à luz do que se julga serem as suas necessidades;
b) O sentido convergente da humanidade apesar do aparente caos e indeterminação;
c) A abrangência atual do Estado no atendimento ao cidadão, e o que se espera dele;
d) A aparente apatia das populações mundiais na mobilização para uma humanidade mais justa e democrática;
e) Como esclarecer e motivar o mundo que hoje se acha completamente dividido em Partidos e ideologias políticas que, além de dividirem e dispersarem a atenção cidadã permitem que governos centralizados em cidades estado ajam como lhes aprouver.
 f) Estudo de viabilidade, incluindo a formação de comitê para pesquisar e convidar simpatizantes e “experts” diversificados para divulgação dos objetivos e aconselhar as ações;
g) Definir o que é comum, concreto e operacional em relação aos objetivos aqui propostos e estabelecer prioridades e cronograma.
Para o funcionar a COAL pretende.
a) Observar as leis e os princípios morais, éticos e cívicos;
b) Se abster de toda e qualquer atividade político/partidária e/ou religiosa;
c) Inexistir o exercício de cargos eletivos cumulativamente com empregos e/ou funções remunerados pela Sigla da confraria;
d) O exercício dos cargos eletivos e/ou designados serão gratuitos.
e) Vedar o favorecimento pessoal de integrantes do grupo ou de seus familiares em detrimento que quaisquer outro estranho ao grupo em quaisquer atividade interna ou externa ao grupo, na área pública ou privada, devendo sempre ser observado o mérito individual de cada indivíduo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Homem envia ossada de amigo ao Ceará pelos Correios do RJ


A vítima de ocasião desta vez é uma família nordestina enlutada. Confiando nos serviços dos correios e na publicidade do SEDEX, que afirma se encontrar presente em todo o território nacional e, principalmente no seu slogan "Mandou, Chegou." “Afinal, SEDEX vai até onde ninguém vai. E vai mesmo!”.  Um nordestino radicado na cidade maravilhosa (que terá seu nome omitido por razões óbvias) acabou “caindo do Cavalo”, afinal, ele confiou somente nas promessas dos correios, sem preocupar-se com a gatunice de seus conterrâneos.

Pois bem, para confirmar que neste Brasil de meu Deus quase tudo é possível, trago para os meus ilustres leitores mais uma confirmação deste ditado. Dessa vez o inusitado foi uma ossada humana encontrada dentro de uma caixa dos Correios do Rio de Janeiro com destino ao Ceará.

De acordo com o delegado Franco Pinheiro, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a caixa foi aberta após ser abandonada por quadrilha que roubou o caminhão dos Correios na última sexta-feira, em Croatá, Região Norte do Ceará.

Além dos ossos, foram achados documentos e uma ordem de exumação emitida pela prefeitura do Rio de Janeiro. A ossada era de uma pessoa morta em 2008 e a família pretendia ter os restos mortais do parente para serem enterrados no Ceará, onde eles moram. Para isso, pediram ajuda a um amigo, que preparou toda a documentação na prefeitura do Rio, mas não sabia que não poderia enviar os ossos pelos Correios.

Como a caixa não passou por raios-X antes de sair do Rio de Janeiro e nem quando chegou ao seu destino, ninguém percebeu nada.

Segundo o delegado, o caso não será tratado como crime, pois não houve intenção de fazer o procedimento errado.

A ossada já foi encaminhada para o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) e a família poderá retirar a caixa no local.

Os Correios disseram que a checagem de cargas no raio X é feita por meio de amostragem, abrangendo de 45% a 50% das encomendas transportadas apenas em território brasileiro.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Coordenação dos Movimentos Sociais lança manifesto contra acordo entre Ministério das Comunicações e empresas de telecomunicação

Para a CMS, as mudanças no Plano Nacional de Banda Larga não vão mudar o cenário de internet lenta, cara e para poucos.

A Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) lançou nesta segunda-feira, 18, um manifesto repudiando as negociações entre o Ministério das Comunicações (Minicom) e as empresas de telecomunicação. Os movimentos alertam que o acordo entre o Governo e os empresários “afronta o interesse social e rasga as diretrizes do próprio Plano Nacional de Banda Larga (PNBL)”.

Em 1° de julho, o Minicom fechou um acordo com as empresas Oi (fixa e móvel), Telefônica (incluindo a Vivo, na telefonia móvel), CTBC e Sercomtel. Nas negociações ficou definido o plano de 1Mps por R$ 35 mensais, ou R$ 29 onde os governos estaduais isentarem a cobrança do ICMS.
No manifesto, a CMS explica que o acordo não garante o cumprimento da velocidade de 1Mbps. Além disso, as empresas de telecomunicação poderão diminuir essa velocidade, caso o usuário ultrapasse 300 Mbytes de download ou 500 Mbytes (no caso da Oi) por mês.
Se por um lado o acordo cria restrições para os usuários, por outro ele flexibiliza as regras para as empresas. As punições por infrações podem ser transformadas em expansão da rede de cada concessionária. O acordo também permite uma prática proibida pelo Código do Consumidor, a venda casada de internet com telefone. O único limite é que o pacote não ultrapasse R$ 65 ou R$69,90 (para a Oi).
Segundo o manifesto, as negociações para o PNBL refletiram também, em mudanças no III Plano Geral de Metas para a Universalização do Serviço Telefônico Fixo (PGMU). As empresas foram dispensadas de obrigações na área rural e na diminuição dos telefones públicos, vulgo orelhões.
No manifesto, o CMS também critica a falta de diálogo do Minicom com a sociedade civil. Os movimentos sociais argumentam que “a luta pela democratização da comunicação e pela universalização da banda larga são indissociáveis”. Nesse sentido, a CMS cobra que o Estado assuma o protagonismo no PNBL,“voltando a investir na Telebrás como instrumento de políticas públicas” e retomando “o diálogo com as entidades populares”.

Confira o Manifesto da CMS

Movimentos Sociais repudiam acordo Minicom-teles: banda lenta, cara e sem universalização

No formato atual, PNBL não colabora para expandir a inclusão digital
Escrito por: Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS)
Para o conjunto dos movimentos sociais brasileiros, o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) representa a afirmação de uma democratização do acesso à internet, apontando para a universalização dos serviços - com controle de tarifas, meta de qualidade e continuidade de serviços - dentro de uma concepção de desenvolvimento baseado na geração de renda e na inclusão social.

Infelizmente, o “acordo” fechado pelo Ministério das Comunicações com as teles relega inteiramente esta estratégia, afrontando o interesse nacional em prol da sede de lucro fácil dos monopólios privados.

Na prática, as teles ganharam do governo um cheque em branco para faturar alto com uma banda lenta, cara e sem universalização, enquanto continuam praticando preços extorsivos, fortalecendo sua concentração nas faixas e locais de maior poder aquisitivo, com serviços de péssima qualidade.

Além de inaceitáveis, os termos do dito “acordo” do Ministério com as teles afrontam o interesse social e rasgam as diretrizes do próprio Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), dando as costas ao imenso acúmulo possibilitado pela Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que apontava para um maior protagonismo do Estado e para o fortalecimento da Telebrás, como elementos decisivos para a universalização da internet, vista como um direito.

A forma como foi assinado o “termo de compromisso”, sem qualquer participação ou consulta às entidades diretamente envolvidas, é reveladora do seu conteúdo, já que ninguém se disporia a endossar tal leviandade.

Dito isso, vamos aos fatos porque denunciamos e repudiamos tal “acordo”:

1)  NÃO HÁ METAS NEM GARANTIA DE QUALIDADE–O Ministério admitiu que é “compreensível”, por causa da “concorrência”, as teles não divulgarem onde e quando vão implantar a suposta banda larga de 1 Mbps a R$ 35,00. Além disso, não há garantias de qualidade, o que significa uma internet de segunda categoria para a população com menos recursos financeiros. O plano prevê, por exemplo, uma velocidade muito baixa de envio (upload) de 128 kbps. Assim, quem quiser postar vídeos vai demorar horas.

2) VELOCIDADE TARTARUGA –A velocidade de 1 Mbps é somente “nominal”. Hoje, as teles oferecem 1/16 da velocidade que está no contrato com o usuário, abaixo até do ridículo limite da Anatel (10% da “nominal”). É como se o consumidor fosse ao supermercado comprar dez quilos de feijão e levasse para casa apenas um quilo, pagando pelos dez. Mas nem mesmo este limite indecente da Anatel consta do “termo de compromisso” assinado pelo Ministério. Pior, as teles foram autorizadas a reduzir a velocidade se o usuário ultrapassar 300 Mbytes de “download” por mês (o que poderá fazer com que para baixar um vídeo ou uma música se perca horas ou mesmo não possa ser feito) ou 500 Mbytes no caso da Oi, o que condiciona completamente o uso da internet e impede o uso pleno do serviço. Portanto, quem definirá a velocidade – sempre lenta para fomentar a migração do usuário para outros planos mais lucrativos para as teles - será a própria operadora.

3) VENDA CASADA -Embora o Ministério tenha afirmado que o pacote de R$ 35 não estaria condicionado à venda casada, o “termo de compromisso” permite essa prática na banda larga fixa, com teto de 65 reais para o pacote. O pacote de 35 reais sem venda casada só é obrigatório na banda larga móvel.

4) MULTAS VIRAM INVESTIMENTO -As punições às teles por infrações, nem ao menos serão simbólicas: não haverá processo administrativo se o “termo de compromisso” for desrespeitado. As sanções podem ser transformadas em investimentos em áreas economicamente não atrativas. Na prática, as empresas podem trocar o não cumprimento de metas determinadas no termo de compromisso por expansão de sua própria rede. Ou seja, vão embolsar o dinheiro das multas. Mais: se a Anatel disser que houve correção da irregularidade, as multas serão extintas – sem que o dinheiro saia do caixa das teles.

5) ABANDONO DA ÁREA RURAL –Foram retiradas as metas para banda larga do III Plano Geral de Metas para a Universalização do Serviço Telefônico Fixo (PGMU, v. Capítulo IV, artigos 21 a 24, DOU, 30/06/2011). Até na telefonia fixa, o “novo” PGMU dispensou as teles de obrigações na área rural, se não se interessarem em explorar as faixas de 451 Mhz a 458 Mhz ou de 461 Mhz a 468 Mhz (cf. artigo 9º, parágrafo 2º, DOU, 30/06/2011). Note-se que, ao contrário da banda larga, a telefonia fixa está sob regime público. Mas as teles é que decidem.

6) ACORDO PRA INGLÊS VER -O “termo de compromisso” deixa de valer caso as teles aleguem que os seus custos aumentaram.

Sinteticamente, aqui estão os motivos pelos quais os movimentos sociais reivindicam do governo federal que o Estado retome o protagonismo no setor, voltando a investir na Telebrás como instrumento de políticas públicas, e retome o diálogo com as entidades populares, para sanar o erro cometido. Para nós, a luta pela democratização da comunicação e pela universalização da banda larga são indissociáveis, como direitos inalienáveis do povo brasileiro que não podem ser pisoteados em função dos grandes conglomerados privados.

Para transformar estas bandeiras em conquista efetiva da sociedade brasileira, a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) convoca desde já o conjunto das entidades populares a se somarem para a construção de uma grande manifestação no dia 15 de agosto. É hora de levantarmos a voz em defesa da democracia e reivindicar do governo que atenda ao clamor da sociedade e não das teles.

Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS): CUT –MST –CMP – UNE – UBES – ABI – CNBB/ PS – Grito dos Excluídos – Marcha Mundial das Mulheres – UBM – CONEN – Coordenação Nacional de Entidades Negras – UNEGRO –MTD – Movimento dos Trabalhadores Desempregados – MTST – CONTEE – CNTE – CONAM – Confederação Nacional das Associações de Moradores – UNMP – Ação Cidadania – Cebrapaz –ABRAÇO – CGTB – INTERVOZES – CNQ – FUP – SINTAPI –ANPG – CTB – CMB – MNLM

Prédios Devolutos em Lisboa

É alto o índice de prédios devolutos em Lisboa.

CONTEÚDO
1.      Incêndios
2.      Derrocadas
1.      A nível nacional
3.      Proposta da CIP
6.      Artigos e Vídeos
8.      Comentários
Os prédios devolutos constituem um tema recorrente na nossa sociedade e são visíveis nas nossas cidades.

É certo que a nem Constituição nem qualquer Lei impõe o dever de usar os imóveis ou de os arrendar caso não sejam habitados. Segundo o quadro legal existente os proprietários dos imóveis não são responsabilizados pelo simples mau estado dos mesmos, nem obrigados a obras de manutenção periódicas compulsivamente ou mediante vistorias dos municípios. No entanto, tudo isto e outras causas, contribuem para o arrastar da situação.

Esta análise tem por base o documento encontrado no site da Câmara Municipal de Lisboa com 4689 registos.

Este documento foi gravado pela última vez em 11 de Dezembro de 2009 (às 15:50). Não se pode pois considerar muito recente, mas é o melhor que temos neste momento à nossa disposição. Lembrar que as eleições autárquicas foram em 11 de Outubro de 2009 o que, de alguma forma, explica o facto deste documento ter sido tornado público por esta altura.

Este ficheiro da Câmara Municipal de Lisboa está em formato pdf, o que não facilita a sua análise.

Para elaborar a análise o ficheiro foi convertido para um formato de folha de cálculo. Nos ficheiros em anexo poderá encontrar outras versões do documento (ods, csv e xls) que facultamos para quem queira os estudar.

Definição de Devoluto


Antes de começar a análise relembramos a definição oficial de devoluto, decretado no Decreto de Lei Nº 159/2006:

Considera-se devoluto o prédio urbano ou a fracção autónoma que durante um ano se encontre desocupada, sendo indícios de desocupação:
  • A inexistência de contratos em vigor com empresas de telecomunicações, de fornecimento de água, gás e electricidade;
  • A inexistência de facturação relativa a consumos de água, gás, electricidade e telecomunicações.

São excepções o prédio urbano ou fracção autónoma:
  • Destinado a habitação por curtos períodos em praias, campo, termas e quaisquer outros lugares de vilegiatura, para arrendamento temporário ou para uso próprio;
  • Durante o período em que decorrem obras de reabilitação;
  • Cuja conclusão de construção ou emissão de licença de utilização ocorreram há menos de um ano;
  • Adquirido para revenda por pessoas singulares ou colectivas durante o período de três anos a contar da data da aquisição;
  • Que seja a residência em território nacional de emigrante português;
  • Que seja a residência em território nacional de cidadão português que desempenhe no estrangeiro funções ou comissões de carácter público ao serviço do Estado Português, de organizações internacionais, ou funções de reconhecido interesse público, bem como dos seus respectivos acompanhantes autorizados.

Localização dos Prédios Devolutos

Os imóveis estão agrupados segundo o tipo de proprietário.

Algumas das moradas disponíveis no ficheiro da Câmara estavam incorrectas ou resultavam em localizações erradas. Devido ao número elevado de imóveis não foi possível verificar todos os casos pelo que é possível que ainda hajam localizações erradas. Se detectar alguma não hesite em nos contactar ou deixar um comentário.

Análise do documento

Segundo o documento da Câmara existem 2.812 imóveis parcialmente devolutos e 1.877 totalmente devolutos, num total de 4.689.

Embora possam ser feitas diversas análises dos dados, analisámos somente os dois pontos que se seguem.

Distribuição por Proprietário


DistribuiçãoPorProprietário.png

Como podemos verificar a esmagadora maioria dos prédios devolutos pertencem a privados, sejam indivíduos ou empresas, representando 67,3% do total.
Cerca de 20% não tem informação sobre o seu proprietário o que é no mínimo surpreendente. Desconhece-se a razão pela qual não foi possível esta identificação.

O município de Lisboa é o terceiro na lista com mais imóveis devolutos com 6,7% a que pode adicionar mais 0,6% de imóveis detidos parcialmente pelo município.

Distribuição por Freguesia


Todas as freguesias da cidade são atingidas com o problema dos prédios devolutos.

As freguesias com maior número de ocorrências são:
1.      Prazeres com 298, representando 6,36% do total
2.      São Domingos de Benfica com 227,representando 4,84% do total
3.      Marvila com 202, representando 4,31% do total
4.      Graça e Lapa com 173 cada, representando cada uma 3,69% do total
O gráfico que se segue mostra os prédios parcialmente e totalmente devolutos por freguesia.
DistribuiçãoPorFreguesia.png

Problemas com os Prédios Devolutos


Incêndios

Todos os anos há notícias de incêndios em prédios devolutos, resultando em danos materiais e em alguns casos em ferimentos, internamentos por intoxicação e mesmo em perdas de vidas.

Muitos destes incêndios acontecem em prédios ocupados por sem-abrigos e toxicodependentes. Há no entanto incêndios em prédios sem aparente ocupação e com causas de fogo posto ou a determinar.

Um dos incêndios mais mediáticos foi o do prédio parcialmente devoluto da Câmara de Lisboa que albergava o clube de jazz Hot Clube de Portugal, na Praça da Alegria, em 2009.

Derrocadas

São do conhecimento público os casos de derrocada ou risco de derrocada de prédios devolutos. De um modo geral, estes casos sucedem-se no Inverno quando há muita chuva.

O risco de derrocadas de prédios devolutos, quando detectado atempadamente, provoca restrições de trânsito nas ruas circundantes e o deslocamento de habitantes no caso de se tratar de prédios parcialmente devolutos, normalmente suportado financeiramente pela autarquia.

As derrocadas parciais já provocaram igualmente o realojamento de residentes e o fecho de comércio.

Prédios que derrocaram provocaram danos em prédios contíguos e por sorte não têm provocado mortes.

Não é conhecida qualquer condenação dos proprietários dos imóveis em termos monetários e judiciários, nem tão pouco é efectuado um apuramento de responsabilidades que podem ser camarárias por falta de fiscalização. Tanto quanto é possível determinar a Câmara de Lisboa tem suportado economicamente as situações que ocorrem.

Gastos de arrendamento da Câmara Municipal de Lisboa

A Câmara é proprietária de mais de 300 imóveis devolutos. No entanto, para albergar uma série de serviços, aluga espaços a privados que ainda são objecto de obras para os tornar compatíveis com o fim a que se destinam.

Só o custo anual dos arrendamentos ascende a centenas de milhares de euros, e segundo algumas fontes chega mesmo ao meio milhão de euros.

É certo que nem todos os espaços devolutos têm condições para alojar os serviços necessários, mas a aparente falta de iniciativa para projectos ou estudos para transformar esses espaços não antevê mudanças.
De salientar que muitos dos serviços referidos são administrativos que necessitam de escritórios, algo que não é assim tão complicado de preparar.

Como exemplo mais recente, o presidente da Câmara, António Costa, decidiu instalar o seu gabinete no largo do Intendente. Em vez de se recuperar um dos edifícios devolutos detidos pelo município, por exemplo o situado na Rua do Benformoso, Nº 225-227, foi decidido alugar instalações por 5.600 euros mensais durante um período de 10 anos Link para a cache do Busca Tretas.

Medidas propostas e tomadas

Ao longo do tempo várias medidas têm sido tomadas embora sem resultados aparentes. Ao longo dos anos, vários programas de recuperação urbanística têm sido implementados que permitiram obras em edifícios devolutos ou com problemas de conservação, mas o problema de fundo subsiste.

Estas medidas incluem Leis, impostos, resoluções camarárias, programas de intervenção, sociedades de reabilitação urbana, etc.

Apesar do reconhecimento dos intervenientes políticos, que levou até o XVII Governo Constitucional, liderado por José Sócrates a mudar o nome do Instituto Nacional da Habitação para Instituto da Reabilitação Urbana, uma solução eficaz ou mesmo um plano nacional tardam a aparecer.
Mesmo com medidas aparentemente boas a implementação no terreno é ineficiente.

A nível nacional

Sem entrar em grandes detalhes, enunciamos alguns programas nacionais:

  • RECRIA - Recuperação de imóveis arrendados.
  • REHABITA - Apoio à recuperação em áreas urbanas antigas, funcionando como uma extensão do RECRIA por modo a apoiar as câmaras municipais.
  • RECRIPH - Regime para prédios em regime de propriedade horizontal.
  • SOLARH - Linha de crédito sem juros para a realização de obras de conservação e beneficiação em habitação própria e permanente e devolutas.

Para mais informações pode consultar o Portal da Habitação.

Programas da Câmara Municipal de Lisboa

O município de Lisboa tem uma série de programas de reabilitação urbana em curso para várias zonas da cidade.
Para mais informação pode consultar o ponto Reabilitação Urbana no site da Câmara.

Proposta da CIP

A Confederação Empresarial de Portugal apresentou em 2011 uma proposta intitulada Fazer Acontecer a Regeneração Urbana onde propõe uma série de medidas que incluem, entre outras, mudanças fiscais, no arrendamento e no licenciamento de obras.

Artigos e Vídeos

Pode encontrar aqui uma série de artigos sobre este tema, organizados por contexto.
De referir que alguns dos pontos anteriores têm por base estes artigos.

Alguns vídeos sobre incêndios e derrocadas, assim como reportagens sobre os prédios devolutos em Lisboa podem ser visionados aqui.

Ficheiros em anexo a esta análise

 Postado Originalmente por:  http://tretas.org/PrediosDevolutosLisboa
 

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