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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Por que lutar contra moinhos de vento?



Por Gustavo Bernardo no Colunas

O valoroso cavaleiro Dom Quixote de La Mancha enfrenta 40 combates, vencendo 20 e sendo derrotado nos outros 20. Cervantes, seguindo a lição do seu mestre cético, Erasmo de Rotterdam, torna equivalentes derrota e vitória, construindo um elaborado sistema de relativização tanto da vitória quanto da derrota.

No tempo de Cervantes outro poeta, Régnier, dizia: "o mundo é um carnaval onde tudo se confunde; quem pensa ganhar é amiúde quem perde". Consciente disso, o fidalgo se esmera em transformar suas derrotas em vitórias; da mesma maneira, não comemora suas vitórias, considerando-as tão naturais quanto as derrotas.

É emblemático desse processo o bem conhecido episódio dos moinhos de vento. Nesse episódio, Dom Quixote teria tido sua mais contundente e ridícula derrota. No entanto, o título do capítulo, no original espanhol, já o apresenta como uma das principais vitórias do cavaleiro: "Del buen suceso que el valeroso don Quijote tuvo en la espantable y jamás imaginada aventura de los molinos de viento, con otros sucesos dignos de felice recordación".

A luta com os moinhos de vento é única e ajudou a forjar o mito quixotesco, porque envolve objetos inanimados que se transformam, para Dom Quixote, em gigantes cruéis, e depois, novamente, em moinhos de vento. O absurdo não reside somente em ver gigantes onde há trinta ou mais moinhos de ventos, mas principalmente em arremeter sozinho contra todos eles, gritando: "Não fujam, criaturas vis e covardes, que um cavaleiro sozinho é quem os ataca".

A pá de um dos moinhos, porém, derruba o ousado cavaleiro, dando o tema para uma das imagens mais representada pelos artistas ao longo dos séculos, como na clássica ilustração de Gustave Doré que vemos abaixo.

O herói ferido, no chão, é admoestado por Sancho, que lhe pergunta como não viu que atacava apenas moinhos de vento. Dom Quixote manda o amigo se calar, lhe explicando que as coisas da guerra, mais que as outras, estão sujeitas a mudança contínua. Na verdade, ele explica para o seu ignorante escudeiro, o sábio Frestão transformou de repente os gigantes em moinhos de vento, justamente para lhe roubar a glória da vitória.

"Lutar com moinhos de vento" tornou-se, desde então, em todas as línguas ocidentais, o paradigma da luta inútil. Não importa ao protagonista, entretanto, que ela se apresente inútil, se a entende como necessária para o seu desejo e, portanto, necessária para o mundo.

Dom Quixote "lê" os moinhos de vento como se fossem gigantes e, logo depois, como se fossem moinhos de vento mesmo, para que o leitor faça o mesmo com a ficção de que fazem parte tanto o personagem quanto, enfim, o próprio leitor. Lutar contra moinhos de vento é a própria luta da ficção contra a realidade, como o romance deixa muito claro quando atribui o encantamento dos moinhos ao "sábio Frestão".

Então, apesar da aparente derrota, apesar de se encontrar bastante machucado, Dom Quixote recorre a um oximoro poderoso e opõe, às más artes do sábio Frestão, a "bondade da sua espada". A sua verdadeira espada é a fantasia, ou, em termos mais precisos, a ficção.

Luta contra moinhos de vento quem assume sua fantasia, quem faz ficção e quem lê ficção, apostando todas as suas fichas na vizinhança do impossível.

É uma luta inútil, como sabemos. Por isso mesmo, é uma luta que vale toda a pena do mundo.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Qual a nota que você daria para a nota da presidenta?


Dag Vulpi 29/09/2017

No fundo, mas bem no fundo mesmo, até a militância petista menos politizada, aquela que normalmente carrega as bandeiras do partido, sabe que o que a sua presidenta fez no caso da fatídica nota foi cometer um grande equivoco. Porém, também é sabido por todos que dizer "amém" para tudo o que vir da direção do partido, é uma pratica comum, inclusive para alguns dos petistas um pouco mais esclarecidos.

Entendo que a presidenta Gleise realmente deveria ter demonstrado sua insatisfação com o STF quanto a pena aplicada contra o senador tucano, porém, ela deveria ter sido um pouco mais articulada e, ao invés de sugerir que foi uma "condenação esdrúxula, sem previsão constitucional", ela deveria ter sugerido na sua nota, depois de tecer o rosário de criticas ao senador tucano, que apoiava a decisão do STF de condenar o senador, porém, que o PT considerava a sentença aplicada uma pena incondizente com os crimes cometidos pelo tucano e que, esperaria do CCJ do senado, uma postura mais rígida e que o Conselho sugerisse ao STF uma pena assemelhada à dos políticos petistas que foram julgados pelo mesmo STF por terem cometido o mesmo tipo de crime.

Da forma como a nota foi redigida afirmando que o STF não estaria capacitado para julgar o senador tucano e que quem deveria julga-lo seria o CCJ do senado, a presidenta deu a entender que o PT estava tentando proteger e não querendo uma condenação maior para o principal algoz do seu partido.

Foi com certeza um tiro no pé, pois todos, inclusive os carregadores de bandeiras, sabem que o CCJ é formado por alguns políticos envolvidos em corrupção, ou seja, bandidos, e o que um representante maior de um partido poderia esperar do julgamento vindo de um Conselho desses? Que eles o condenem? Faz-me rir.

Agora resta-nos aguardar a segunda nota assinada pelo PT, onde sua digníssima presidenta possa corrigir as besteiras cometidas na primeira. 

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Liberdade de expressão e discurso do ódio: o conflito discursivo nas redes sociais


Por Walter Claudius Rothenburg e Tatiana Stroppa no 3º Congresso Internacional de Direito e Contemporaneidade (https://goo.gl/t1Bjxz).

RESUMO

O presente artigo pretende discutir os limites que precisam ser traçados para enfrentar o discurso do ódio intensificado pela utilização da internet e das redes sociais que reduzem, por um lado, a interação social direta entre os atores que passam a ser produtores de mensagens e não apenas receptores, e por outro, potencializam o anonimato e permitem a publicação instantânea de conteúdos com uma velocidade gigantesca. De forma a cumprir esse objetivo, emprega-se uma pesquisa bibliográfica complementada com dados jurisprudenciais brasileiros. Conclui-se que, diante da ausência de textos normativos que fixem a responsabilização diante de mensagens de intolerância e discriminatórias, as restrições, que devem ser preservadas para casos extremos, ocorrerão pela ponderação dos interesses em jogo em conformidade com uma metódica de proporcionalidade, de modo a evitar decisões desproporcionais que interditem o debate público. Por fim, apresenta alguns parâmetros objetivos que devem ser seguidos pelo julgador que estiver diante de litígios envolvendo o conflito mencionado.

INTRODUÇÃO

A proteção da liberdade de expressão está diretamente associada à garantia da dignidade da pessoa humana e da democracia. Ocorre que as relações sociais, o ambiente democrático e o contexto multicultural impõem contornos ao direito de expressão, que – tal como os fundamentais em especial – conhece restrições.

A presente abordagem ocupa-se da possibilidade de limitação à liberdade de expressão em razão da exteriorização de conteúdos discriminatórios ou discursos do ódio. Sob o manto enganoso da liberdade, a expressão discriminatória vulnera objetivos de nossa república, de construção de uma sociedade livre, justa e solidária, compromissada com a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (Constituição, art. 3º, I e IV).

O exercício abusivo da liberdade de expressão é potencializado com a generalização do acesso à internet que permite às pessoas assumir uma posição ativa na relação comunicacional ao saírem da posição de receptores da informação e passarem à posição de criadoras de conteúdos, os quais podem ser divulgados de maneira instantânea, sobretudo nas mídias sociais como Facebook, Twitter e Instagram, com acentuada velocidade de propagação e uma aparente possibilidade de anonimato.

Com isso, os discursos discriminatórios (hate speech) ganharam sua versão cibernética e, nesse contexto, a reflexão prática a respeito dos limites do direito de expressão em razão da veiculação de mensagens altamente preconceituosas que atingem as pessoas e grupos vulneráveis também precisa ser feita tendo como base as redes sociais.

O trabalho está dividido em dois tópicos centrais, a saber: na primeira parte são analisados o direito de expressão e a caracterização do discurso do ódio. No segundo item são trazidos parâmetros que devem norteiam as restrições à liberdade de expressão diante de discursos discriminatórios veiculados nos meios de comunicação, principalmente nas redes sociais[1].

[1] Conforme Manuel Castells as redes podem ser definidas como “um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta. Concretamente, o que um nó é depende do tipo de redes concretas de que falamos” [...] Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação [...]. (cf. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2005. p. 566).

1 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O DISCURSO DO ÓDIO

A liberdade de expressão é assegurada em inúmeros tratados internacionais, entre eles, por exemplo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948 – art. 19), a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (OEA, 1969 – art. 13) e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (ONU, 1966 – art. 19), dos quais o Brasil é signatário.

Na Constituição brasileira, o direito de expressão consta de diversos dispositivos, tanto

terça-feira, 13 de junho de 2017

Regioni d'italia: Trentino Alto Adige


Do site: Italia Tourism Online

Trentino Alto Adige está localizado no nordeste da Itália, na fronteira sul do Tirol austríaco. Trentino Alto Adige é uma região autônoma cuja principal cidade é Trento. 

A região é dividida em duas províncias - Trento, a parte de língua italiana e Bolzano (também chamado de Bozen), a parte de língua alemã. 

Trentino Alto Adige tem uma população de 940.000 habitantes com uma densidade populacional de 69 habitantes / km2.

Trentino Alto Adige é uma região extremamente montanhosa caracterizada pela presença de vales enormes, como o Adige e o Isarco. 

A região é atravessada por inúmeros rios, incluindo o Adige, o segundo rio italiano mais longo após o Po, que tem suas origens na vizinha Passo Resia, no alto vale Venosta. Esta região possui quase 300 lagos, incluindo os lagos Careza, Braies, Dobbiaco (Bolzano), Levico, Caldonazzo e Molveno (província de Trento).

Trentino Alto Adige é o destino perfeito para aqueles que amam a natureza e as montanhas. Oferece paisagens incríveis e intocadas. A região é percorrida pelos Dolomitas que são "a mais bela arquitetura natural do mundo", de acordo com Le Corbusier, que os chamou de uma das belezas únicas do mundo.

Você pode chegar ao Trentino Alto Adige de várias maneiras: 

- De avião: a rodovia Brennero e a rede ferroviária fornecem conexões muito rápidas aos principais aeroportos: Trento fica a 90 km do Aeroporto Catullo de Verona, a 195 km do Aeroporto Marco Polo em Veneza E cerca de 60 km do novo aeroporto de Bolzano. 

- De comboio: existem duas ligações ferroviárias principais; Brenner que chega na estação de Trento ou Rovereto. Ou a conexão de Valsugana que sai de Veneza e chega à estação de Bolzano. 

- De carro: pode chegar a Trento através da estrada nacional Brennero ou Abetone, através da auto-estrada Brenner (A22), através da estrada nacional Valsugana, que leva a Veneza, ou, para aqueles que vêm de Brescia, através do West Gardesana (45 bis) estrada.

Trento ( Trentino-Alto Ádige) - Itália


Por Dag Vulpi 

Berço da maioria dos imigrantes italianos que se aventuraram no desbravamento das regiões de montanhas do Espírito Santo[*], Trento é conhecida mundialmente por ter sido sede, em meados do século 16, do Concílio de Trento (resposta da Igreja Católica à Reforma Protestante), Trento é uma pequena província ao norte da Itália.


Localizada no vale Trentino-Alto Adige, é circundada por uma cadeia de montanhas Dolomitas, onde se iniciam os Alpes.


De origem romana, passou a ser governada, a partir do século IV, por bispos católicos, que se mantiveram no poder até o início do século XIX. Permaneceu durante anos sob o domínio francês, até que, com a queda de Napoleão foi, em 1814, entregue à Austria. Os italianos só a recuperaram em 1918, no final da Primeira Guerra Mundial.


Politicamente, a Província Autônoma de Trento encontra-se unida à Província Autônoma de Bolzano (Bozen), sendo hoje oficialmente chamadas Região Trentino-Alto Adige. Juntas são a porção meridional do antigo Tirol do Sul, unido ao Tirol austríaco. Sua principal característica é que a língua do Trentino é historicamente a italiana, enquanto a das demais regiões ao redor é a alemã. Como herança do período em que pertenciam à Áustria ficou o gosto por strudel de maçã e cerveja, ambos podem ser encontrados facilmente na cidade.


O Trentino é hoje uma das regiões europeias com maior fluxo turístico, por causa de suas paisagens montanhosas e de suas cidades e castelos históricos. Nomeada em 2004 como cidade alpina do ano, Trento oferece aos visitantes não apenas uma paisagem de cair o queixo, mas também uma arquitetura que mistura o estilo renascentista com o medieval. 


Atrações turísticas:

Piazza del Duomo – Essa praça é o centro histórico da cidade. Nela fica o Palazzo Pretorio, construção típica da Baixa Idade Média (século XIII) e a Fonte de Netuno.


Castello del Buon Consiglio – O castelo fortificado medieval foi, durante vários séculos, residência dos bispos-príncipes de Trento e impressiona por seu tamanho. Faz parte de boa parte da história da cidade, tendo sediado, por exemplo, muitas sessões do Concílio de Trento. Hoje ali funciona o Museo Provinciale.




Muitos vinhedos e oliveiras podem ser vistos por toda a região.


A melhor época é de final de maio a começo de setembro, quando faz menos frio.


Curiosidades:

Nos cinemas de Trento todos os filmes são dublados em italiano, e nas sessões se faz um intervalo na metade do filme. 

O horário comercial é de 8:30 às 12h e de 15 às 19h.

[*] Em 1874 chegou à capital Vitória a expedição de Pietro Tabacchi trazendo a bordo do navio “La Sofia”, 388 camponeses - trentinos e vênetos - em busca de novas oportunidades, trabalhos e vivências. Entre eles estavam os patriarcas e matriarcas da maioria das famílias que desbravaram a região de montanhas do ES e dos quais descendem 80% da população de Santa Teresa. Este índice aumenta consideravelmente se considerarmos somente a população de lugarejos como: Caldeirão – no qual tenho orgulho de ter nascido - Tabocas, Várzea Alegra, Valsugana e demais lugarejos das redondezas. 

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Porque sou favorável às reformas trabalhista e previdenciária


Por Dag Vulpi 29/05/2017

Sim, sou* favorável e sinceramente não entendo porque ainda existem alguns cidadãos brasileiros que se opõem aquelas justas e necessárias reformas que enfim um governo que de fato se preocupa com seu povo propõe, já aprovou a trabalhista no Congresso e no Senado e igualmente, apesar das tentativas de obstrução, aprovará a previdenciária com folgas.

Neste artigo eu não entrarei nos detalhes que alicerçam as referidas reformas, pois eles já são de conhecimento de todos e seria desnecessário relembrar o quanto essas reformas são fundamentais para o nosso país e, principalmente, como elas beneficiarão aqueles que agora, por uma influencia nefasta, manifestam-se contrários.

O agravante no caso dos que são contrários às necessárias reformas, é que existem, ainda que em minoria, alguns brasileiros respeitados por sua capacidade formativa de opinião e expoentes nas suas áreas, como alguns artistas, juristas, professores universitários, filósofos e enfim, cabeças pensantes que parecem estar acometidas por amnésia coletiva, espero apenas que esta falha seja momentânea e que depois de ler este texto, caso isso ocorra, ao menos alguns deles voltem aos seus estados naturais de bom senso e cidadania e revejam seus posicionamentos.

Mas vamos ao que realmente interessa neste texto que são minhas justificativas de o porquê de eu ser agudamente favorável a todas as reformas que o Michel Temer propôs até agora e que por certo, e pelo bem do nosso país, ainda proporá outras tantas do mesmo calibre.

Sou um empresário responsável e pagador de meus impostos. Emprego centenas de colaboradores, aos quais pago um salário que coaduna com a visão de capitalista que sou e com a visão destra e futurista do nosso presidente. Tenho dois filhos, um casal, minha filha, apesar da tenra idade é doutora e independente, mora na Europa e está casada com um grande empresário europeu. Meu filho está no ultimo ano de medicina e por certo não terá problemas com sua independência, caso tenha, não me preocupo, afinal, meu atual patrimônio, com a política de governo do Temer, garantirá uma vida sem percalços financeiros para até a quinta geração da minha família. Somente para constar, ainda que seja indiferente, tive a sorte de casar-me com uma mulher que, além de linda, é filha única de um dos maiores fazendeiros de soja de Mato Grosso.

Não tenho dúvidas de que a minha criação é a única responsável pela moldagem da minha personalidade, que por certo influenciou sobremaneira na minha conscientização politica e na cognição dos fatos que realmente me interessam. Meu pai era oficial militar e apesar da severidade da criação, sempre me propiciou o que havia de melhor.

Apesar de alguns abnegados, que eu me atrevo adjetivar por seres que vivem fora da realidade ser contrários, eu jamais poderei criticar o regime ditatorial, afinal, foi naquele período que meu pai deixou de ser um mero oficial que morava num conjunto habitacional para militares, e tornou-se um general de respeito, construiu um grande patrimônio e nos educou, eu e minha irmã, nos bancando nos melhores e mais caros colégios do nosso país. Posteriormente, com o infeliz final do regime, fomos estudar na Europa, voltando somente depois de qualificados com doutorado numa das melhores universidades dos EUA, período que coincidiu com o casamento da minha irmã.

Não demorou para que eu entrasse de vez no rol do empresariado bem sucedido, mas é bom que se esclareça que tudo que possuo foi graças a meritocracia que desenvolvi nos anos em que convivi com amigos de universidade na Europa e nos EUA, que assim como eu, também eram filhos de pais abastados, empresários, banqueiros, fazendeiros ou militares de alta patente que, ao contrário dos que a criticam, souberam tirar o que havia de melhor daquele período que este país viveu, refiro-me ao regime ditatorial que ainda hoje é mal interpretado.

Como veem meus caros eu tenho todos os motivos para ser favorável a todas as reformas capitalistas que esse maravilhoso e injustiçado presidente, Michel Temer, vem propondo durante este curto mandato. Este digno e honrado senhor, que vem sendo linchado moralmente por essa oposição que sempre tentou quebrar esse país com suas ideias socialistas mirabolantes.

Eu e meus iguais temos a convicção de que a única saída possível para esse pais será a de erradicar de uma vez por todas esse tumor que insiste com suas ideias socialistas, mas que na realidade, não passam de ideias retrógradas de um comunismo que não prosperou em nenhuma outra parte. Somente nas cabecinhas desses desmiolados poderiam surgir ideias como aquelas onde nossos empregados e empregados dos nossos amigos, poderiam viajar no mesmo avião que viajam pessoas como eu e minha família. Aliás, isso vinha ocorrendo no governo que antecedeu o atual, mas que já diminuiu, graças as pontuais intervenções do Temer,

Esses socialistas imaginam um Brasil onde seria possível filhos de empregados sentarem nas cadeiras das mesmas instituições de ensino dos filhos dos seus patrões, de frequentarem ambientes que antes eram somente nossos, mas que durante o governo comunista do PT, tivemos que tolerar, ou fazer como eu, que agora, troquei os resorts da orla brasileira por outros mais bem frequentados em pequenos paraísos como os que fui na minha ultima viagem à Indonésia e depois Dubai.

Espero ter sido claro o suficiente para me fazer entender o porquê de eu ser favorável às tais reformas e a tudo que for contra a essa ideia maluca de teorias socialistas, ninguém irá mudar esse quadro que prestigia os que realmente merecem, para prestigiar quem não possui merecimento algum. Sempre foi assim, fomos ameaçados durante treze anos, mas já revertemos aquela situação, voltamos para o poder, que é nosso por direito e mérito e de onde jamais deveríamos ter saído.

Felizmente investimos e conseguimos formar uma mídia forte, insistente e competente o suficiente para incutir nas cabeças desses brasileiros onde é o devido lugar de cada um. Pessoas como eu e meus amigos empresários e banqueiros temos nossos méritos, e por isso temos que ser tratados com diferenciabilidade.   

Bem amigos era isso, espero ter colaborado para que aqueles que ainda vinham esperneando contra as necessárias mudanças, abram suas mentes para a realidade que vivemos. Aqui existem dois Brasis, o meu, que é o Brasil justo e que funciona, e o Brasil que os socialistas utopistas criaram em suas imaginações, portanto inexistente, afinal, uma coisa é a realidade, outra coisa bem diferente são as quimeras.

*Sou – personagem fictício, mas que retrata com fidelidade a mentalidade de alguns brasileiros, principalmente os mais bem sucedidos.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Gira Sol


Eu observo...
O giro do Sol...
E as Flores que o seguem em harmonia...
Os Insetos que as acompanham...
E o voo sincrônico dos Pássaros seguindo os Insetos...
Gira o sol e as Flores,
Giram os Insetos e os Pássaros,
Giro Eu,, giramos todos Nós. 



sábado, 29 de abril de 2017

Trilha extinta


Por Dag Vulpi* em 29/04/2017

Certa vez, um bando de jovens pássaros voava alegremente cortando os ares de um lado para outro quando um dos passarinhos começou a reparar os caminhos que via lá de cima, mas ele não entendia porque o mato que ocupava toda a planície sumia em determinados pontos, deixando a terra exposta. Curioso ele resolveu indagar um velho pássaro que conhecia tudo sobre o mundo oculto de todos os seres.

Sr.  sábio e nobre pássaro, porque o mato não cobre aqueles caminhos de terra?

E o velho pássaro respondeu: "lá embaixo os seres sem asa constroem suas casas distantes umas das outras e quando sentem saudade e querem rever seus amigos eles caminham até chegarem às casas do outro. Durantes essas caminhadas a terra vai sendo amassada, impedindo que o mato cresça, e as flores que crescem nas margens dos caminhos agradecem pois querem que o amor e a amizade sempre prevaleçam."

Foi aí que o jovem pássaro entendeu porque quando sobrevoava determinado local, ele via um menino chorando, sentado numa antiga trilha que agora estava todinha tomada por capim e ervas daninha que já alcançavam a altura de suas panturrilhas.

Provavelmente aquela criança tinha alguém na vizinhança que costuma fazer-lhe visitas, mas que agora, com o aparecimento daquele mato indicava que por algum motivo o seu amigo deixou de pisar naquela trilha.

Devemos cuidar para que as ervas daninhas não cresçam nos nossos caminhos, pois somente assim, além de desfrutar das belezas das flores que crescem em suas margens, também estamos em contato com os nossos amigos.

*Inspirado no texto de Eduardo de Paulo Barreto

terça-feira, 25 de abril de 2017

A mídia molda a opinião pública e o chicote molda o asno



Por Dag Vulpi 25/04/2017

O uso de analogia para ilustrar minhas ideias e conceitos mostrou-se eficaz na colaboração para o discernimento dos temas propostos, fator que me motiva a mais uma vez valer-me desta metodologia. E mais uma vez, eu convido o amigo leitor a me acompanhar. Garantindo-lhe que, chegando ao ponto derradeiro desse texto, restarão apenas duas possibilidades: estaremos de acordo, e nesse caso, nossas expectativas convergirão para um único ponto; ou, as nossas opiniões serão diversas, e nesse caso, posso garantir-lhe que, caso seja do seu interesse, poderemos estendê-lo para o espaço democrático dos comentários, o que por certo renderá um bom debate.

Há um punhado de anos passados, quando a energia elétrica e o açúcar cristal, apesar de existirem há séculos, não chegavam aos inacessíveis interiores desse Brasil varonil, meu tio-avô, apesar de contar com um belo patrimônio, era um dos privados desses “luxos”. Mas como um bom e legítimo ítalo-brasileiro, virava-se como podia.

Para adoçar o café de cada dia, meu tio-avô produzia a própria rapadura que era adquirida depois de moer a cana de açúcar e ferver o caldo até que aquele chegasse ao ponto desejado e essencial de fervura, para então conseguir uma rapadura de qualidade. Ocorre que devido à falta de energia elétrica, a única forma de moer a cana era no engenho e através de força motora animal, que no caso, meu tio usava um asno. O asno ficou girando em sentido horário e circular durante anos. No início, era preciso certo incentivo para que o animal fizesse o tal movimento circular; no caso, meu tio usava um chicote. Era só o bicho parar que o chicote estalava no lombo do coitado. Passados alguns dias, bastava meu tio estalar o chicote ao vento para que o animal se empenhasse ainda mais no seu “trabalho”. Depois de mais alguns dias, nem era mais preciso estalar o chicote ao vento; bastava prender o coitado às suas amarras que ele disparava a andar em círculo, só parando de vez em quando para beber um gole d’água ou comer uma espiga de milho.

Passaram-se anos até que finalmente o comerciante mais próximo, que estava a mais de 50 km de distância percorridos numa estrada de terra esburacada, passou a comercializar açúcar cristal. Não demorou para o meu tio-avô perceber que já não fazia sentido produzir tanta rapadura; bastava uma pequena quantidade para fazer os doces, e sem a rapadura seria impossível fabricá-los. Foi aí que ele percebeu que o asno já não seria tão necessário, afinal, produziria uma quantidade muito pequena de rapadura, bastando moer uma pequena quantidade de cana a cada seis meses.

O meu tio-avô resolveu então promover o asno de "engenheiro" para arador, pois ele movimentava o engenho, agora precisando puxar o arado para remover a terra e facilitar a germinação das sementes. No entanto, o asno, quando "engenheiro", precisava andar em círculos e em sentido horário. Agora, com sua nova função, era imprescindível que ele caminhasse em linha reta. Como podem imaginar, por mais que meu tio-avô açoitasse o lombo do infeliz, ele se esforçava mais para andar em círculos e em sentido horário. Assim se seguiu, até que uma das partes desistiu de insistir, felizmente, nesse caso, foi meu tio.

Muito bem, caríssimos leitores. A analogia que proponho hoje está relacionada à mídia e sua influência na formação da opinião pública. Usando o personagem principal da história supracitada, nosso querido asno, e guardadas as devidas proporções, o cidadão brasileiro comum. Durante anos, teve como única fonte de informação o telejornalismo de uma rede de televisão que alcança praticamente 100% do território nacional. Assim como meu tio fez com o asno, essa emissora incutiu diuturnamente nos telespectadores a ideia de informar a verdade com imparcialidade, sem indução ou subterfúgios.

Dessarte, podemos dissertar sobre a influência dos meios de comunicação na formação da opinião pública. A opinião pública expressa as opiniões do público sobre temas de interesse comum, diferenciando-se da opinião publicada, que é a apresentação pública da opinião. Essa distinção foi feita pela primeira vez por Allport (1937) no texto "Toward a Science of Public Opinion", afirmando que tratar opinião pública e publicada como sendo a mesma coisa é uma falácia.

A mídia é um mecanismo de reprodução social que influencia diretamente na formação da opinião pública, legitimando as diversas formas de dominação. Bourdieu e Passeron (1975) desenvolveram conceitos específicos, retirando os fatores econômicos do epicentro das análises da sociedade, e defenderam a não arbitrariedade da produção simbólica na vida social, advertindo para seu caráter efetivamente legitimador das forças dominantes, que se expressam por meio de gostos de classe e estilos de vida, gerando aquilo que ele reconhece como distinção social.

Em meados de 1950, os pensadores da Escola de Frankfurt atribuíram ao então nascente "mundo-mídia" um poder totalizante. Ao longo dessas décadas, o conceito de comunicação foi se transmutando até chegar hoje ao que Albino Rubim, em 2005, define como um conjunto de meios diferentes, cada vez mais refinados tecnologicamente.

Mídia não é tão somente o aparato tecnológico. Há que se compreender mídia como associação de um suporte tecnológico, uma linguagem adequada e uma estratégia de ação precisa e clara (SANTARENO, 2007).

Na década de 1980, o conceito de opinião pública era diversificado, não existindo um consenso nas Ciências Sociais, tanto em relação ao conceito quanto à sua formação. A teoria mais conhecida é a que procura explicar o processo de formação da opinião pública por meio do modelo cascata.

Para Lima (2005), o modelo cascata explica a formação da opinião pública como "resultado de um fluxo linear de informações do topo da pirâmide social até as ditas classes populares".

Às lideranças das elites sociais resta emitir suas opiniões, através dos meios de comunicação, para que as massas ignorantes as absorvam como suas novas verdades. Segundo essa proposta, a opinião pública se formaria a partir de pequenos grupos, situados no topo da pirâmide social, e depois viria "descendo", por degraus, até a base da pirâmide. No primeiro degrau dessa "cascata", estaria o pequeno grupo das elites econômicas e sociais; no segundo grupo, estariam o das elites políticas e, no terceiro, a mídia, seguida pelos chamados formadores de opinião – intelectuais, religiosos, artistas, educadores, líderes empresariais e sindicais, jornalistas – e, finalmente, no último degrau, a grande maioria que constitui a base da população.

Na maioria das vezes, "a literatura elitista apresenta a opinião pública como o resultado de uma série de processos sociais, nos quais há uma interação muito grande de elementos emocionais e manipulativos" (Lippmann, 1997), aliados "à pouca racionalidade" (Le Bon, 1999). No entanto, ao ser considerada um fator relevante para o funcionamento da democracia, a opinião pública foi conceituada por Bobbio (1998) como "pública" em um duplo sentido. Primeiro, "porque ela surge do debate público" e, segundo, "porque seu objeto é qualquer coisa", desde que seja de domínio público. Sendo assim, a opinião pública, para ele, é: (...) uma opinião sobre assuntos que dizem respeito à nação ou a outro agregado social, expressa de maneira livre por homens que estão fora do governo, mas que reclamam o direito de que suas opiniões possam influenciar ou determinar ações governamentais (Bobbio, 1998).

No debate atual sobre a opinião pública, o desempenho dos líderes de opinião reforça a ideia de uma inter-relação entre os meios de comunicação, os indivíduos portadores de características exemplares e o próprio público. É essa complexa relação que possibilita o fornecimento de informações à opinião pública.

Uma questão bastante relevante é a fonte que, em qualquer situação de persuasão, seja ela a mídia ou outro indivíduo em uma relação pessoal, "sempre tenta persuadir alguém a adotar determinada posição" (Lane e Sears, 1964). Nesse sentido, seria muito arriscado para a elite política tomar como princípio de sua atuação o atendimento à opinião pública, visto que ela pode ser, através de instrumentos específicos, manipulada para atender a determinados interesses que não são os do bem comum (Lippmann, 1997).

"Há uma proporção muito importante de pessoas que não leem nenhum jornal, que estão dedicadas de corpo e alma à televisão como fonte única de informações" (BOURDIEU, 1983).

Os jornalistas selecionaram categorias de percepção de acordo com suas respectivas visões de mundo. A categoria metafórica utilizada é a dos óculos, fruto da educação histórica deles, porque é "a partir dos quais veem certas coisas e não outras, e veem de certa maneira as coisas que veem. Eles operam uma seleção e uma construção do que é selecionado" (BOURDIEU, 1997).

A TV, segundo Bourdieu, de instrumento de registro torna-se um instrumento de criação de realidade, e assim, caminha-se "cada vez mais rumo a universos em que o mundo social é descrito e prescrito pela TV" (BOURDIEU, 1997). Para Flaubert, apud Bourdieu (1979), o "mundo são ideias aceitas por todo mundo", banais, convencionais comuns, ao ponto que quando aceitas, o problema da recepção não se coloca.

Portanto, é inegável que a mídia é a grande influenciadora na formação de opinião pública. No entanto, cabe aos receptores das informações a capacidade de discernir entre o que é verdade e o que é manipulação. Caso não haja esse discernimento, o cidadão estará, assim como o asno, fadado a andar eternamente em círculos, fazendo o errado com a convicção de que está fazendo a coisa certa.

Não aceite passivamente que o "açoite" recebido antes, influencie nas suas decisões presentes. Por mais que esteja convicto de que o certo é andar em círculos, considere a possibilidade de andar em linha reta, ou para a esquerda ou direita se necessário.

sábado, 22 de abril de 2017

Vossa Excelência Sergio Mauro e a partilha litigiosa de bens


Por Dag Vulpi 22/04/2017

Dias desses um velho conhecido, que eu omitirei o nome por razões que se provarão necessárias ao final deste texto, me ligou se dizendo um pouco mais animado, pois enfim seu advogado informou-lhe que havia sido marcada a audiência que tratará da divisão letigiosa dos bens que ele e sua ex-esposa haviam acumulado durante mais de 25 anos de matrimônio.

Eles já estavam separados há quase um ano, porém, o fato de seu ex-sogro ser juiz, sua ex-sogra ser uma bem sucedida advogada e um dos ex-cunhados ser deputado, acabou por fazer com que o meu velho conhecido saísse de casa com uma mão na frente e outra atrás, e assim permaneceria, ao menos até que o juiz determinasse como ficaria a partilha dos bens do casal.

Ele conseguiu através de muito trabalho e dedicação acumular um belo patrimônio naqueles 25 anos de casamento. Tinha um belo apartamento de frente para o mar, onde morou por mais de 15 anos com sua ex-esposa, tinha outros dois apartamentos que ele presenteou as filhas quando aquelas se casaram. Tinha um belo sitio na região das montanhas espírito-santense, dois carros importados, um para ele e outra da esposa, uma moto e tinha também uma bela quantia de dinheiro aplicada.

Ele sempre comentava com orgulho das suas conquistas obtidas graças a toda uma vida de dedicação ao trabalho e à família. Certa ocasião ele mencionou que quando mais jovem o único bem que possuía era um Fusquinha 66, Fusca esse que ele ainda guarda como relíquia na garagem da casa da sua mãe e que de vez em quando ele ainda dava umas voltas com a relíquia para matar a saudade. Agora ele está andando com o Fusquinha pra cima e pra baixo, afinal, é o único meio de transporte que lhes restou.

Mas voltando ao que de fato interessa que é a bendita partilha dos bens, ele pediu para que eu ficasse na torcida, pois sabia que não seria fácil conseguir uma partilha justa, afinal, sua ex-esposa estava muitíssimo bem guarnecida, com um juiz, dois advogados, sendo que um deles era sua ex-sogra, não bastando tinha ainda seu ex-cunhado que é deputado, enquanto ele contava apenas com um jovem e inexperiente advogado que conseguira na Defensoria Publica.

Diante desse quadro completamente desfavorável para ele sugeri que nos encontrássemos para conversar sobre o assunto pessoalmente e que talvez eu pudesse ajuda-lo. Marcamos um almoço para tratarmos do assunto. Ele chegou na hora combinada tentando demonstrar tranquilidade, mas percebi que ele estava tenso. Depois de colocar a conversa em dia, finalmente entramos no assunto que era o motivo de estarmos ali.

Depois de analisar os fatos e considerar os trâmites fui ao ponto que ele aguardava ansioso.  Estando ciente dos detalhes jurídicos e do real patrimônio do casal, busquei ser objetivo na formulação de uma proposta que poderia atender as expectativas dele e talvez, também as dela.

Lembrei que enquanto ele adorava o belo sitio do casal, sua ex-esposa simplesmente o detestava e que, em contrapartida, enquanto ele não morria de amores pelo apartamento na praia, ela o adorava. E que esse seria um facilitador, já que os valores dos dois imóveis se equivaliam. Lembrei também que o fato de terem dois carros facilitaria a divisão, e no caso da moto, sugeri que ele deixasse para ela ou para seu neto, e ele ficaria com o Fusca, lembrando-o que pelo fato de o Fusca estar registrado em seu nome, sua ex-esposa também teria direito. No caso do valor aplicado bastaria dividir em duas partes iguais e cada um ficaria com uma.

Ele coçou a cabeça e falou: “sabe que você tem razão, a partilha até que não será tão complicada como eu estava imaginando, mas é muita sacanagem ter que dividir em partes iguais, tudo o que consegui com uma vida de trabalho, eu quase não tenho dormido tanto que penso nisso”. Aí eu voltei argumentar, sempre na tentativa de deixa-lo mais tranquilo, que ele deveria considerar o fato de terem vivido harmoniosamente durante mais de 20 anos e que se não fosse sua ex-esposa ele não teria aquela bela família, suas filhas maravilhosas, que por sua vez já lhes deram duas netas e um neto e que tudo isso deveria ser levado em consideração.

Mais uma vez ele concordou comigo, dizendo que não havia nem pensado nisso, mas que de fato, sem ela não teria uma família, ao menos não aquela. E acabou concordando comigo. Ao final tomamos um café e quando íamos nos despedir ele me fez um pedido: “será que você não poderia me acompanhar até o Fórum no dia da audiência? Você me passa muita tranquilidade, coisa que meu advogado não consegue”. Eu respondi que por mim não havia problema, mas que talvez eu teria que sair antes dele, mas que mais tarde poderíamos conversar sobre o resultado da audiência.

Conforme o combinado no dia e hora marcados lá estava eu. Ele havia chegado mais cedo, foi com seu Velho fusquinha, que segundo ele, daria sorte, o Fusca era uma espécie de talismã pra ele. O jovem advogado chegou exatamente na hora em que eles foram chamados, uma pena, pois eu queria ter conversado com ele pra saber qual seria a sua linha de defesa e se as propostas que eu fiz seriam as melhores ou se ele teria tido alguma ideia melhor para o acordo na divisão dos bens.

Eles entraram na sala, eu encontrei alguns amigos, mas que infelizmente não tivemos tempo para trocar mais que três ou quatro palavras, afinal quem está ali está, ou a trabalho ou em atendimento à justiça. Fiquei mais alguns minutos e me retirei.

Mais tarde liguei pra ele, mas a ligação sempre caia na caixa postal, por certo ele deve estar sem bateria deduzi. Foi quando resolvi ir até a casa da mãe dele, que era onde ele estava morando ha mais de oito meses. Chegando lá fui recebido com um belo sorriso da sua mãe, fazia tempo que não nos víamos, ela sempre gentil me convidou para entrar e me serviu um café. Enquanto esperávamos ansiosos sua chegada. Ficamos recordando de como antes as coisas eram mais difíceis, mas mesmo com todas as dificuldades as pessoas pareciam serem mais felizes. Foi inevitável que o assunto acabasse no final do casamento do seu filho, mas ela entendeu que foi melhor assim, afinal, fazia tempo que seu filho estava infeliz e reclamava com ela dizendo não confiar mais na esposa. Segundo informações não confirmadas, sua ex-esposa estaria tendo um caso com um jovem advogado que não por acaso é apadrinhado por seu ex-sogro.

Passado algum tempo e nada dele chegar resolvi ir embora. Despedi-me e falei para a mãe dele que ligaria mais tarde para saber como tudo transcorreu. Sai, fazia um calor danado, atravessei a rua e fui até um bar na esquina. Pedi um chope e fiquei ali na esperança que ele chegasse e de preferencia com boas noticias. Eu já havia me decidido que se tudo desse certo eu iria passar um final de semana lá no sitio dele, juntos poderíamos nos divertir e tentar fazer com que ele esquecesse de uma vez por todas aquela triste situação da separação.

Tomei o chope e quando ia pedir o segundo me chamou a atenção um carro que passava em frente do bar. Olhei e não acreditei, mas acreditem, era o meu amigo dirigindo meio Fusca, isso mesmo, um Fusca cerrado ao meio foi o que lhes restou. Depois fiquei sabendo dos pormenores do ocorrido na audiência. O coitado do meu velho conhecido acabou ficando praticamente sem nada, o celular que liguei e ele não atendia também ficou para a ex-esposa. O Juiz que julgou o caso, um tal de Sergio Mauro, era amigão do ex-sogro dele, sua ex-esposa além de ter a mãe como advogada, que nunca perdeu uma causa e todos sabem por que, lá pelas tantas recebeu um telefonema durante a audiência pedindo para que passassem o celular para o juiz, era o irmão dela, o deputado. Ligou de Brasília para falar alguma coisa para o Mauro, e para não restar nenhuma dúvida do tamanho da sacanagem, o advogado que estava “defendendo” meu velho conhecido, aquele que foi conseguido na Defensoria Publica, era ninguém menos que o tal advogado apadrinhado do ex-sogro e que vinha saindo com a sua ex-esposa. Tá bom ou você quer mais.

Resumo da ópera: O juiz Mauro determinou que todos os bens ficassem para a ex-esposa, o apartamento de frente para a praia, o sítio nas montanhas espírito-santense, os dois carros importados, quase dois milhões de reais aplicados, o celular que havia sido presente da esposa e para acabar de vez, o juiz percebeu que entre os bens havia um Fusca 66 e para ser justo, como aquele bem foi adquirido  antes de eles se casarem, o juiz determinou que o Fusca fosse dividido em duas partes, cortado ao meio, cerrado em duas bandas como se faz com um pão francês. Pois isso seria o justo afiançou o nobre representante da lei, vossa meritíssima excelência Sergio Mauro. E assim foi feito.

Confira abaixo o vídeo que gravei de dentro do bar quando percebi que era o meu amigo que estava chegando da audiência de separação de bens litigiosa dirigindo agora o seu, meio Fusca 66.

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