Por Dag Vulpi - 15/07/25
"Deus dá o fardo, mas também o ombro", diz o provérbio. Mas e quando duvidamos que nossos ombros sejam os corretos para o peso que carregamos? Eis uma história sobre cruzes aparentes e pesos invisíveis.
Entre a multidão que avançava sob o peso de suas cruzes, um homem deteve-se ofegante. Sua cruz — talhada em madeira escura e duas vezes sua altura — arrastava-se no chão com um som surdo. Ao seu redor, outros seguiam com fardos aparentemente menores, até que seu olhar identificou três figuras conhecidas:
O Homem de Terno
Carregava uma cruz do tamanho de uma maleta executiva, tão polida quanto seus sapatos. Seu passo era ligeiro, quase despreocupado, como quem transporta não um fardo, mas uma necessária formalidade.O Senhor dos Paradoxos
Sua cruz oscilava entre leve e pesada conforme o terreno — às vezes puxava seus ombros para baixo, noutros momentos parecia flutuar. Os que passavam por ele dividiam-se entre acenos de gratidão e olhares reprovadores.A Mulher do Sorriso
Sua cruz era curta o suficiente para ser confundida com um galho caído. Carregava-a não nos ombros, mas entre as mãos, como quem segura um ramo de oliveira. Quando seus olhos encontraram os do homem, sorriu com a serenidade de quem reconhece um velho adversário.
— "Não é justo!", protestou o homem com os céus. "Por que carrego mais que esses três?"
Deus, que observava a cena do alto, respondeu:
— "Cada cruz foi medida pelo conteúdo, não pelo tamanho. A tua é do tamanho exato de tuas convicções."
O homem não se convenceu. Seu maior incômodo não era mais o peso — à qual já se acostumara — mas a leveza com que aqueles três avançavam. Insistiu tanto que Deus permitiu-lhe trocar de cruz com quem quisesse.
Triunfante, escolheu a menor de todas: a da Mulher do Sorriso.
— "Não é pessoal", justificou-se. "Apenas acho que deveríamos experimentar o fardo do outro."
No momento da troca, porém, ocorreu o inesperado:
Sua antiga cruz, agora nas costas da mulher, parecia ter encolhido
A pequena cruz que recebera pesava como se fosse feita de ferro
A Mulher do Sorriso acariciou a madeira da cruz agora reduzida e murmurou:
— "Obrigada. Você não imagina quanto tempo esperei para entender como era leve este peso quando dividido." Virou-se para seus companheiros e completou: — "Sabe, as cruzes diminuem quando as carregamos juntos."
O homem ficou paralisado. Enquanto lutava para não sucumbir ao novo fardo, viu os três seguirem adiante — o Homem de Terno ajustando o nó da gravata, o Senhor dos Paradoxos equilibrando seu peso variável, e a Mulher do Sorriso carregando o que fora sua cruz como quem leva um galho para acender o fogo do acampamento.
[MORAL FINAL]
Nossos julgamentos sobre os fardos alheios são sempre medidas defeituosas. O que te parece insuportável pode ser leve para outro — não por injustiça divina, mas porque cada cruz é talhada para ensinar o que precisamos aprender, não o que achamos que merecemos.
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Dag Vulpi