Dag Vulpi
A analogia do Estado como um leviatã*,
uma entidade colossal que demanda constante vigilância, não é
nova. No entanto, enquanto reconhecemos a necessidade de nos proteger
contra possíveis excessos estatais, é imperativo compreender que o
Estado, por mais imperfeito que seja, desempenha um papel crucial na
civilização. Este texto explora a dualidade do Estado, abordando a
desconfiança justificada, mas também reconhecendo sua importância
como um mal necessário na busca pelo equilíbrio social.
A concepção do Estado como um
leviatã, uma figura temida que demanda nossa constante vigilância,
reflete a inerente desconfiança que muitos nutrem em relação ao
poder central. Contudo, é crucial reconhecer que o Estado, mesmo
sendo um mal necessário moldado pelo processo civilizatório,
desempenha um papel fundamental na regulação dos conflitos de
interesses e na prevenção da anarquia.
Ao rejeitar a ideia da inexistência do
Estado, surge a consciência de que, sem sua presença, a lei do mais
forte se imporia com intensidade devastadora. A ausência de uma
estrutura estatal criaria um vácuo de poder propenso à concentração
desenfreada, assemelhando-se a uma forma de feudalismo cibernético,
onde a tirania dos mais fortes sobre os mais fracos atingiria níveis
inimagináveis.
Embora seja saudável questionar e
fiscalizar o Estado, é essencial reconhecer que sua existência é
um contrapeso necessário para evitar o caos social. O desafio reside
em encontrar o equilíbrio adequado, onde a desconfiança não ceda
lugar à anarquia, mas onde a estrutura estatal seja moldada e
monitorada para garantir que seu poder seja exercido em benefício da
sociedade, evitando abusos que poderiam transformar o leviatã em
algo mais ameaçador do que protetor.
*A palavra "Leviatã" tem
origens na Bíblia e, ao longo do tempo, adquiriu diversos
significados e interpretações. Inicialmente, o termo aparece no
Antigo Testamento, mais precisamente no Livro de Jó e no Livro de
Isaías, onde é descrito como um monstro marinho ou serpente
mitológica, representando forças caóticas e oponentes à ordem
divina.
No entanto, a interpretação mais
famosa e influente vem do filósofo inglês Thomas Hobbes, que
utilizou o termo como título para sua obra "O Leviatã",
publicada em 1651. No contexto do pensamento político de Hobbes, o
Leviatã simboliza o Estado soberano, uma entidade poderosa e
centralizada necessária para manter a ordem e evitar o caos na
sociedade. Hobbes argumenta que, sem um governo forte, a humanidade
estaria em um estado de natureza caótico, onde "a vida do homem
seria solitária, pobre, sórdida, bestial e curta".
Assim, o termo "Leviatã"
passou a ser associado, especialmente no campo da filosofia política,
a uma representação do Estado como uma entidade que detém o
monopólio do poder coercitivo para garantir a ordem social. Essa
concepção influenciou amplamente o pensamento político ocidental.
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Dag Vulpi