As
anulações das condenações de Lula
valeram para quais processos?
Por que STF
decidiu anular as decisões do ex-juiz Sergio Moro? Por que agora? Com a
anulação, Lula agora é considerado inocente? O que acontece agora? Veja
respostas para essas e outras perguntas.
Por Tahiane
Stochero, G1 SP — Brasília
O ministro
Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou em 8 de março todas as
condenações impostas pela Justiça Federal do Paraná ao ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva na Operação Lava Jato. Em 15 de abril, o plenário do
tribunal referendou, por 8 votos a 3, essa decisão de Fachin, que apenas seguia
jurisprudência já consolidada do Tribunal.
Com as
decisões, Lula recuperou os direitos políticos e se tornou elegível.
Abaixo,
veja perguntas e respostas sobre a decisão:
- A
anulação das condenações de Lula vale para quais processos?
- Por que
Fachin decidiu anular as condenações?
- Por que
Fachin tomou a decisão nesse momento e qual a relação com Moro?
- Fachin
absolveu Lula?
- O que
acontece depois da decisão de Fachin?
- O que
acontece com o processo em que Lula pedia suspeição de Moro?
- Supostos
crimes de Lula podem prescrever?
- Onde os
supostos crimes de Lula serão julgados?
1. A
anulação das condenações de Lula vale para quais processos?
Cronologia:
entenda os processos e condenações de Lula na Lava Jato
O triplex
do Guarujá – condenação em julho de 2017 (por corrupção e lavagem de dinheiro),
confirmada em 2ª e 3ª instâncias, que levou o ex-presidente a ficar preso por
580 dias.
O sítio de
Atibaia – condenação em fevereiro de 2019 (sob acusação de recebimento de
propina) e confirmada em 2ª instância.
As doações
ao Instituto Lula – neste caso, são duas ações, que ainda não foram julgadas.
No caso do
triplex no Guarujá, no litoral paulista, Moro havia condenado Lula a 12 anos e
1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
Já no caso
do sítio de Atibaia, no interior paulista, a juíza substituta Gabriela Hardt,
que estava no lugar de Moro, condenou Lula a 12 anos e 11 meses de prisão.
Com relação
ao Instituto Lula, havia duas ações:
Doações – a
denúncia do Ministério Público Federal (MPF) diz que o instituto recebeu R$ 4
milhões da Odebrecht disfarçados de doações. Essa ação está suspensa pelo
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).
Terreno e
apartamento – em dezembro de 2016, uma denúncia do MPF foi aceita pela Justiça
Federal do Paraná envolvendo a compra de um terreno para a construção da nova
sede do instituto e de um imóvel vizinho ao apartamento de Lula em São Bernardo
do Campo. Esse processo estava pronto para a sentença do juiz desde maio de
2020.
2. Por que
Fachin decidiu anular as decisões? Por que agora?
Segundo Fachin,
a 13ª Vara Federal de Curitiba – que estava nas mãos de Sergio Moro e depois
passou para Gabriela Hardt – não era o "juiz natural" dos casos.
Fachin
entendeu que não há relação entre os desvios praticados na Petrobras,
investigados na Lava Jato, e as irregularidades atribuídas a Lula, como o
custeio da construção e da reforma do tríplex.
Segundo o
ministro, em outros casos de agentes políticos denunciados em circunstâncias
semelhantes às de Lula, a 2ª Turma do Supremo já vinha transferindo esses processos
para a Justiça Federal do Distrito Federal.
O ministro
disse seguir decisões anteriores do STF que já determinaram que, na Lava Jato,
cabem à 13ª Vara Federal de Curitiba processos relacionados a crimes praticados
"direta e exclusivamente" contra a Petrobras.
Em 15 de
abril, o plenário do STF decidiu, por 8 votos a 3, confirmar a anulação.
3. Por que
Fachin tomou a decisão nesse momento e qual a relação com Moro?
Fachin
anulou as condenações antes que houvesse uma decisão sobre outro recurso da defesa
de Lula, que pede a suspeição de Moro.
O ministro,
assim, determinou a extinção desse pedido mas, dias depois, a 2ª Turma do STF
declarou Moro suspeito para julgar os processos de Lula. Isso porque o ministro
Gilmar Mendes – que está com o recurso de Lula desde 2018 – ignorou a decisão
de Fachin e submeteu a suspeição à 2ª Turma do Supremo. Esse trâmite estava
parado desde dezembro.
Em março, a
2ª Turma decidiu, por 3 votos a 2, declarar Moro parcial. E depois, em 22 de
abril, o plenário do STF formou maioria para manter a suspeição de Moro – o
julgamento não havia sido concluído até a última atualização desta reportagem
porque o ministro Marco Aurélio pediu vistas do processo.
4. Fachin
absolveu Lula?
Não. Ele
não tratou do mérito da condenação. Fachin tampouco disse, em hora nenhuma, que
Lula é inocente, mas considerou que não cabia a Moro (ou Hardt) julgá-lo nesses
processos específicos. Para ele, a sentença dada no Paraná foi irregular e, por
isso, inválida.
Vale
lembrar que a Constituição Brasileira prevê que ninguém será considerado
culpado até que se esgotem todos os recursos — ou quando um tribunal, como o
STF, der a última palavra no processo.
Mas,
enquanto esse processo corre — e independentemente de recursos —, o suspeito
pode ser preso. Foi esse o caso de Lula, que ficou um ano e meio em uma sala da
Polícia Federal em Curitiba.
5. O que
acontece depois da decisão de Fachin?
Com a
decisão de Fachin, 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, responsável no
Paraná pelos processos da Operação Lava Jato, determinou, em 25 de março, os
envios dos processos de Lula à seção judiciária federal do Distrito Federal
para uma reanálise. A decisão de enviar os processos para a Justiça do DF foi
confirmada em 22 de abril pelo plenário do STF.
O novo juiz
do caso vai poder decidir se os atos realizados nos quatro processos (1 do
triplex, 1 do sítio de Atibaia e 2 do Instituto Lula) são válidos ou se terão
de ser refeitos.
O novo juiz
pode até rejeitar as denúncias do MPF e absolver Lula sumariamente.
6. O que
acontece com o processo em que Lula pedia suspeição de Moro?
A decisão
monocrática de Fachin declarou a "perda do objeto" e extinguiu 14
processos que tramitavam no STF apontando suposta parcialidade do ex-juiz
Sergio Moro ao condenar Lula.
Mas, mesmo
assim, a suspeição de Moro foi julgada pela 2ª Turma da Corte, que entendeu que
Moro não tinha condições de analisar os processos do ex-presidente e foi ser
imparcial. Em 22 de abril, o plenário formou maioria para manter a suspeição de
Moro --o julgamento não foi concluído porque o ministro Marco Aurélio pediu
vistas do processo.
7. Supostos
crimes de Lula na Lava Jato podem prescrever?
Os supostos
crimes de Lula denunciados pela Lava Jato podem começar a prescrever a partir
de janeiro de 2022, segundo juristas ouvidos pelo G1.
Mas
especialistas alertam que existem diferentes entendimentos sobre o tema e que a
contagem dos prazos de prescrição pode variar, a depender da decisão da Justiça
do Distrito Federal, que ainda não saiu, de retomar os processos.
Nos quatro
processos, Lula foi denunciado pelos crimes de lavagem de dinheiro de forma
contínua, que podem prescrever em até 16 anos. Em três deles, foi denunciado
por corrupção passiva majorada, que pode prescrever em até 20 anos. Como o
ex-presidente tem mais de 70 anos, o prazo para prescrição cai pela metade,
para 8 e 10 anos, respectivamente.
Levando-se
em conta todas as denúncias apresentadas contra Lula na Lava Jato do Paraná, os
crimes mais antigos a ele atribuídos (de corrupção) teriam sido cometidos até
janeiro de 2012 – com prescrição, portanto, a partir de janeiro de 2022.
Já os
crimes de lavagem de dinheiro teriam sido praticados até 2014 ou 2016,
dependendo do processo. Nesses casos, os crimes poderiam prescrever,
respectivamente, a partir de março de 2022 ou 2024.
8. Onde os
supostos crimes de Lula serão julgados?
No Distrito
Federal, conforme decisão do plenário do STF dada em 22 de abril.
Em 14 de
abril de 2015, Fachin foi indicado pela presidente Dilma Rousseff para o cargo
de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), na vaga que estava em aberto
havia mais de oito meses, desde a aposentadoria de Joaquim Barbosa em 31 de
julho de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi