Por
Antonio Luiz Carlini - Santa Teresa – 13/07/2017.
Não
temos dúvidas que o álcool potencializa a capacidade de funcionamento dos
neurônios, conforme atestam vários ditos populares. Também, sabemos que o cego
embriagado vê no relógio, que ainda é cedo para encerrar. O perneta que
abandona suas muletas, para com a perna que lhe resta, chutar a mesa do boteco.
O
surdo ouvir uma fofoca sobre a alteração do seu inquestionável carácter. E o
mais impressionante: “O pobre, totalmente sem verba, assumindo que compra até o
bar, se tiver seu desejo de beber vedado pela falta de Crédito”.
Impressionantes transformações de personalidades, depois que as “águas que bois
não bebem”, agem no cérebro! Pois, tomando marula, até babuínos cavalgam em
javalis nas savanas africanas, enquanto Avelino Storch, lá na casa dos
Luxinger, depois de algumas doses, põe atrás da orelha um cigarro aceso, este
que lhe incendeia o chapéu de palha, levando o pequeno Lídio Luxinger, a
filosofar: - Mãe, o Avelino pensou demais, esquentou os neurônios, tanto que
incendiou o chapéu, ou talvez por razão de ter bebido, esquentou demais, a
cabeça?
Pois
bem, viveram no Recreio, Comunidade de São Sebastião, os Luxinger (LUX &
SINGER) e, com eles, outros três cidadãos solteiros, que para eles, prestaram
serviços braçais nas lavouras. Pessoas boas e trabalhadoras, embora tidas
na comunidade, como portadores de QI não muito elogiável. Porém, muito
potencializados quando aquela destilada entrava na corrente sanguínea deles por
via oral, celebrando eles, a qualquer tempo ou hora, desde que a ela tivessem
acesso, sua devoção sagrada ao Deus Dionísio ou Baco. Daí, hilários
acontecimentos com eles, inclusive, aparições sobrenaturais, como a PORCA
ENCANTADA, que do nada, lhes surgia á frente, nas estradas escuras e frias das
montanhas entre matas. Porca que não se deixava apanhar, entrando como uma
sombra, em um barranco de estrada, onde não havia túnel. Entretanto, devido às
muitas aparições, levou a comunidade a crer na assombração do Alto Recreio.
Contudo pessoas abstêmias, do precioso líquido, também foram assombradas pelo
fantasma suíno, mesmo que eles, ao chegar às casas, enlameados, afirmavam terem
sido driblados pela matriarca dos leitões, ali imitados por eles, com seus
tombos involuntários na lama, no trajeto entre o boteco e o Solar Luxinger!
Também
no Recreio de Santa Maria de Jetibá, quase divisa limítrofe com Santa Teresa
ES, viveu o germânico, que em sua propriedade mantinha um abatedouro de suínos,
usando da boa vontade de dois daqueles lavradores, para aos sábados, o
auxiliarem nas tarefas com os grunhidores, cujas carnes e banhas eram
comercializadas. Redundância informar que lá naquele peculiar frio do Recreio,
não estivesse presente ao menos um garrafão daquele precioso chá, extraído da
cana de açúcar, para com seu consumo, aliviar o sofrimento com as mágoas com
que a vida nos faz conviver, declamando: “Felizes os que conseguem afogar as
mágoas, antes que elas aprendam nadar e permaneçam vivas na serenidade dos que
sofrem!”.
Certo
sábado, lá pelo final dos anos setenta, dois deles, sendo Oto Ramos e Alfredo
Bausen, entraram pela tarde, tomando muitas doses do chá que esquenta, enquanto
ajudaram o conterrâneo, naquela chacina, ou suínocídio coletivo.
-Oto,
Otinho, Alfredo, por que estão bebendo tanto? Faltam muitas horas para
anoitecer!...
-
Estou com dó dos porcos! Os gritos me comovem! Bebendo fico mais calmo e
esqueço! Disse Otinho, quando Alfredo retrucou: - Nada disso, Otinho por pinga,
mataria até irmão. Aliás, se continuar nesse ritmo, também vai entrar na faca.
Pois, mais umas três doses ele vai ser confundido com o resto ainda presente lá
no chiqueiro!
Revolta!
Troca de insultos! Entra a turma do “deixa disso”! Os dois dispensados do
serviço pelo Pedro Stich. Entretanto, mais algumas doses são consumidas,
especialmente pelo Oto, que fora aconselhado não brigar com seu companheiro de
trabalho, ali já sem beber, para não cair, tal aconteceu com Oto, incapaz de
controlar o anseio pelo precioso líquido ardente.
Oto
desabou! Parecia irrecuperável! Alfredo não quis que seu consorte de labuta
ficasse ao relento quando anoitecesse. Por isso, mesmo bêbado era cônscio do
que seria para aquele homem, embora alcoolizado, ficar por horas na friagem
úmida do Recreio. Tomou de um carrinho de mão, daqueles totalmente artesanais,
“feito de dois caibros, um caixote de tábuas e uma roda de madeira presa a um
pedaço de caibro que lhe servia de eixo”. Nele colocou o amigo já em coma com a
bebida! Rumou para a direção da residência dos Luxinger, conseguindo chegar com
o desfalecido até o terreiro da habitação, quando, como que por uma ação do
encardido do inferno, mal fora despejado da CARRIOLA, OU CARRIOLE, já por lá
predominava línguas germânicas, Oto levantou do chão, xingando sombras e rumou
ao ferramenteiro, tomou de uma foice, partindo para cima do Alfredo, que bêbado
e cansado, correu para dentro da Residência, ocultando-se no quarto de Casal,
recebendo ajuda da Sra. Luxinger, enquanto Oto, aos xingamentos se rebelava a
todas as frases de Alfredo, sobre sua dignidade verbalmente agredida. Pois,
inicialmente, comparado aos porcos, depois tomado do chão como um em abate, em
seguida transportado como um deles e finalmente despejado do carrinho como se
Alfredo estivesse confirmando sua ciência de que Otinho era portador de
suinilidade. Passou-se longo tempo, para convencerem Oto de que, Alfredo havia
pulado a janela dos fundos e desaparecido mata adentro rumando na direção
norte.
Fora
uma noite de tensão por parte de todos, por que Otinho em seu cafofo no extremo
do quintal adormecia, mas em alguns intervalos levantava ameaçando ir pegar
Alfredo, que dormia fora do seu ninho. Afinal, além de ter trabalhado, bebeu,
carregou o companheiro, do qual fugiu como o Diabo foge da Cruz.
No
Domingo as coisas estiveram mais calmas e na segunda trabalharam perto. Porém,
Alfredo mantinha sempre distância segura, até que veio o outro sábado e o
perigo retornou. Alfredo havia aprendido que para fazer o bem, precisa sempre
ver a quem e que quanto menos pinga, mais agilidade nas “pernas para que te
quero”!
Lá,
em outro período, também viveram outros, depois que Otto e Alfredo, retiram-se
para rumos alhures. Também, lá na qualidade de CAMARADA, por certo tempo,
Antônio Föeger, consorte étnico, que mostrava certa incoerência com a
serenidade quando do uso do intelecto. As três ou quatro da manhã, como veio ao
mundo, banhava-se em uma bica d’água, em uma temperatura que até congelava as
mais simpáticas moradoras da moita de bananeiras, os idolatrados anfíbios, as
carinháveis pererecas. Não temia inverno, segundo os meninos Luxinger. Pois,
que sempre de “cabeça quente”, perdia seu cachimbo e esbravejava procurando-o,
mesmo estando com ele na boca. Ria ao ouvir falar que Avelino ameaçava ir e não
ia. Era cônscio de que sua vida devia ser noutro lugar. Foi comum
anoitecer, com Avelino dizendo que aquele havia sido seu último dia ali.
Proclamava em alto e bom som que sairia do Brasil, pois lá em Santa Leopoldina,
um espaço para si o aguardava. Aquilo incomodava os meninos, tanto que às duas
da manhã, o pequeno Lídio, acordava para esvaziar a bexiga e como havia
adormecido ouvindo Avelino prometendo ir, já que arrumava a mala, o menino
chamava-o:
-
Avelino!..., Avelino!... Avelino!... Você já foi embora?
-
Não, estou aqui! Vou amanha! Respondia o alienado
-
Tá bom, bacurau! Amanhã eu vou! Amanhã eu vou! Por enquanto vou dormir!
Bacurau!
-
É por isso que amanhã eu vou! Amanhã eu vou! Nem você me respeita aqui! Eu vou!
Antonio
Föeger, procurando o cachimbo levantava a hipótese de Avelino o ter levado,
enquanto os meninos riam de sua desatenção. Incoerentes, nem loucos, nem
normais, os Camaradas sempre deixaram lembranças de suas estadias, seja entre
os germânicos ou italianos, até que as necessidades de consumos impostas pela
cidade, às comunidades rurais, acabassem com a existência daquela categoria de
trabalhadores!
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