O
advogado do presidente Michel Temer, Antônio Cláudio Mariz, pediu que os
deputados da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) façam
justiça e votem contra a admissibilidade da denúncia oferecida pela
Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer.
Após
concluir a apresentação oral da defesa do presidente na CCJ, depois da leitura
de parecer favorável pela aceitação da denúncia feita pelo deputado Sergio
Zveiter (PMDB-RJ), Mariz criticou a possibilidade de Temer ser afastado em um
momento no qual o Brasil começa a dar sinais de recuperação econômica.
O
advogado sustentou que os deputados, como responsáveis por aceitar ou não o
prosseguimento da denúncia por corrupção passiva contra Temer, estarão julgando
o presidente. “Peço aos deputados que não deem autorização para que o
presidente da República seja julgado pelo Supremo [Tribunal Federal]. Façam
isso e estarão fazendo Justiça, como juízes primeiros da causa que são”, disse,
ao encerrar a defesa.
Ao
lado do também advogado de Temer Gustavo Guedes, Mariz compareceu à sessão, que
teve início após divergências entre deputados da base e oposicionistas quanto
aos procedimentos da comissão. O presidente da CCJ, deputado Rodrigo Pacheco
(PMDB-MG), concedeu a palavra à defesa após o relator, Sérgio Zveiter
(PMDB-RJ), recomendar a aceitação da denúncia. Embora dispusesse do mesmo tempo
utilizado por Zveiter, de 59 minutos, Mariz expôs suas argumentações durante
cerca de 40 minutos.
"Não
há sociedade nenhuma que tenha direito de achincalhar, de colocar na cadeia a
honra, a dignidade de alguém. Marca-se a honra com uma acusação infame",
afirmou Mariz.
De
acordo com a defesa, os fatos são inconsistentes para a aceitação da denúncia e
foram utilizados pela PGR de forma acelerada, sem a devida checagem das provas.
Após a leitura, o advogado concedeu entrevista à imprensa na qual disse
discordar completamente do parecer do relator. Mariz disse que o relatório de
Zveiter foi “muito bem escrito”, mas afirmou que entende haver sim a
necessidade de provas nesta fase do processo.
"Estamos
tratando de um eventual afastamento do presidente da República, com gravíssimos
prejuízos à governabilidade. Não é possível que se queira processar o presidente
da República, presidente de 200 milhões de pessoas, através de alegações fruto
de mera ilação, ficção, suposições e hipóteses", disse.
Após
a apresentação da defesa, os deputados solicitaram vista coletiva da matéria, o
que significa o pedido de mais tempo para analisar o relatório, antes do início
da discussão. Rodrigo Pacheco acatou os pedidos, o que deve adiar os debates
pelo prazo de duas sessões plenárias. Com isso, a análise do tema pelos membros
da CCJ deve ser feita a partir da próxima quarta-feira (12).
De
acordo com consciência
Integrante
do mesmo partido de Michel Temer, o relator do processo na comissão recomendou
a admissibilidade da denúncia por entender que há “indícios suficientes” de
“autoria e materialidade” de que o crime de corrupção passiva teria sido
cometido.
Em
entrevista após a apresentação da defesa, Sérgio Zveiter disse que votou de
acordo com sua consciência e que não teme uma retaliação do partido. “Estou com
a consciência tranquila, do dever cumprido, e eu faço parte de um poder
autônomo, independente, que é o Poder Legislativo. A minha filiação partidária,
é claro que sempre influencia em alguns votos que eu venha proferir, mas, neste
caso, o que prevaleceu mesmo foi a minha condição de deputado federal, titular,
eleito livremente e, portanto, com possibilidade de agir de acordo com minha
consciência”, declarou.
O
relator disse que caso venha a ser expulso do PMDB, a responsabilidade da
decisão será do partido. “Eu não tenho cargo no governo, eu não sou de
frequentar o Palácio [do Planalto], de frequentar ministério, não faço parte
nem do executivo, nem do Ministério Público, posso entrar e sair daqui com a
cabeça erguida. O que o PMDB vai fazer com relação ao meu voto é problema deles
e não meu”, disse.
Repercussão
Ao
final da sessão, deputados da base e da oposição se revezaram no microfone do
plenário da CCJ para repercutir a leitura do relatório. Para o deputado da base
aliada Alceu Moreira (PMDB-RS), os parlamentares não estão analisando o
julgamento de um crime e sim uma “chanchada novelesca”. “Ela foi escrita com
atores, ação, horário e palco, previamente. Ela previu o crime e instigou os
atores a cometê-los”, criticou.
Já
o deputado da oposição, Paulo Teixeira (PT-SP), reiterou o fato de Zveiter ser
integrante do PMDB, legenda da qual Temer já foi presidente nacional. “Quero
parabenizar o relator, deputado Sergio Zveiter. Ele é do mesmo partido do
senhor presidente da República. (….) E o deputado em seu relatório diz que há
indícios de prática de crime e há igualmente materialidade, o crime foi
praticado e há indícios da participação do presidente da República”, disse.
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