Por
11 votos a quatro, ficou decidido que senador não será nem investigado na Casa
pelas gravações com o dono da JBS, Joesley Batista
Julia
Lindner e Thiago Faria, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA
- Por 11 votos a quatro, o Conselho de Ética do Senado confirmou o arquivamento
do pedido de cassação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), alvo de representação
por quebra de decoro parlamentar. Desta forma, Aécio não será nem sequer
investigado na Casa pelas gravações entre ele e o dono da JBS, Josley
Batista.
Para
o senador Lasier Martins (PSD-RS), que votou pela admissibilidade do processo,
o resultado de hoje é negativo para Aécio. "Não estivemos agora julgando a
cassação, e sim a admissibilidade ou não da representação. Sempre defendi que o
processo seria saudável para Aécio provar que é inocente. Da maneira que ficou,
perdura a dúvida", avaliou Lasier.
Autor
da representação, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) declarou que há um
acordão entre os grandes partidos para salvar Aécio e blindar outros
parlamentares investigados. "Há dois tipos de julgamento, um dos que têm
poder político no Senado e outro dos que não têm."
Randolfe
lembrou o caso do ex-senador Delcídio Amaral, que foi cassado no ano passado
pelo Conselho após também ter sido gravado em conversas e acusado de tentar
obstruir a Justiça. "Acho que hoje o instituto da ética e do decoro
parlamentar pode ser sepultado. Não faz mais sentido ter Conselho de Ética
desse jeito. Se não há sentido investigar Aécio, por que nós cassamos o mandato
do senador Delcídio do Amaral?", questionou Randolfe.
Já
o presidente do Conselho, João Alberto Souza (PMDB-MA), voltou a afirmar que
"não há absolutamente nada" para condenar o senador tucano e que a
maioria dos integrantes do colegiado concordou que ele tinha razão ao decidir
pelo arquivamento. "Um senador que recebeu mais de sete milhões de votos
não pode ser jogado assim na opinião pública", defendeu.
Após
o pedido de cassação da Rede e do PSOL contra Aécio, em junho, João Alberto
decidiu monocraticamente arquivar a representação, que considerou
"improcedente". Randolfe, apoiado por cinco senadores que integram o
Conselho, entrou com um recurso para que o plenário reavaliasse a questão.
Nesta
quinta-feira, entretanto, apenas quatro parlamentares votaram pela
admissibilidade da denúncia: José Pimentel (PT-CE), Lasier Martins (PSD-RS),
João Capiberibe (PSB-AP) e Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). O senador Pedro
Chaves (PSC-MS), que havia assinado o recurso, recuou e votou contra o
documento que ele mesmo ajudou a validar. Segundo Valadares, houve ameaças para que ele mudasse de voto.
Votaram contra a representação os senadores Airton Sandoval (PMDB-SP), Romero Jucá (PMDB-RR), Helio José (PMDB-DF),
Davi Alcolumbre (DEM-AP), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Eduardo Amorim (PSDB-SE),
Gladson Camelli (PP-AC), Acir Gurgacz (PDT-RO), Telmário Mota (PTB-RR), Pedro
Chaves (PSC-MS), Roberto Rocha (PSB-MA) e João Alberto (PMBD-MA),
que não precisava votar, mas disse que fazia questão de se manifestar - seu
voto, porém, não entrou no placar.
Governo.
Durante
a discussão, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR) saiu em defesa de Aécio,
dizendo que só há "uma visão dos fatos" até o momento, que seria a do
Ministério Público Federal, responsável pela apresentação da denúncia contra o
tucano por corrupção passiva e obstrução de Justiça.
"Não
estamos determinando paralisação nenhuma de investigação no Supremo Tribunal
Federal. Nós estamos aqui dizendo que não vamos comer um processo cru. Querer
imputar ao senador Aécio qualquer tipo de penalidade por uma versão do MP é
injusto", disse.
Presidente
licenciado do PSDB, Aécio retomou esta semana o mandato parlamentar com um
discurso de defesa ao governo. Ele faz parte de uma área minoritária da legenda
no Senado que quer que o partido permaneça na base aliada do presidente Michel
Temer.
O
senador Aécio Neves respondeu, por meio de nota, que considera que a
decisão “demonstra a absoluta inexistência de qualquer ato que possa ser interpretado
como quebra de decoro parlamentar". Para o tucano, a decisão demonstra
ainda o "caráter estritamente político da iniciativa e impede que o
Conselho de Ética do Senado se transforme em cenário de disputas políticas
menores."
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