O
presidente do conselho de administração da Construtora Norberto Odebrecht
(CNO), Emílio Odebrech, e dois executivos da empreiteira prestaram depoimento
ontem (5) ao juiz Sergio Moro na ação que investiga se um imóvel que
supostamente seria destinado ao Instituto Lula seria pagamento de propina para
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais uma vez, houve bate-boca, por
diversas vezes, entre a defesa de Lula e o juiz responsável pelos inquéritos da
Operação Lava Lajo na primeira instância.
De
acordo com o Ministério Público Federal, a DAG Construtora, ligada à Odebrecht,
comprou um imóvel que seria usado como sede o Instituto Lula como retribuição a
atuação do ex-presidente em favor da construtora. A defesa de Lula nega.
A
defesa do ex-presidente tentou suspender os depoimentos marcados para essa
segunda-feira, alegando não ter tido tempo para preparar as perguntas. Moro
negou e disse que, posteriormente, a defesa poderia pedir outra oitiva.
Discussão
O
ex-executivo da DAG João Alberto Lovera disse em depoimento que não houve
locação e nem venda de imóvel para o instituto. “O [Instituto Lula] nunca foi
proprietário. Comprou-se, tentou-se viabilizar [o imóvel], e não houve
[negócio], então, vendeu-se, como outro empreendimento qualquer”, disse Lovera.
“Esse caso específico do Instituto Lula seria tratado com outro empreendimento
que a gente emprestou para empresários, uma iniciativa privada como outra
qualquer. Não tinha conceito de qualquer subterfúgio”.
Moro
perguntou, insistentemente, a Lovero sobre um e-mail no que ele fala
de um pagamento de R$ 500 mil refente ao imóvel. O depoente, disse que não se
lembrava. O advogado de Lula, Cristiano Zanin, interrompeu e questionou a
insistência do juiz, que estaria, segundo ele, assumindo a tese do Ministério
Público Federal. Moro respondeu que o advogado estava atrapalhando.
“Vossa
excelência, se quiser, represente à OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]. Tenho
o direito”, disse Zanini. Moro rebateu, advertindo Zanini sobre seu
“comportamento inapropriado à audiência”. O advogado respondeu que não cabia
advertência. “Represente à OAB. Estou dizendo que não há premissas colocadas
por vossa excelência”, disse.
Moro,
interrompeu e pediu silêncio. “Sua questão foi indeferida. O senhor está
interrompendo. Respeite o juízo”. E o advogado retrucou: “Casse a palavra [da
defesa]”.
O
juiz voltou a questionar Lovera sobre o e-mail e o ex-executivo
respondeu que não lembrava. Moro pergunta então quem estava liberando o
adiantamento. “Provavelmente a área financeira da DAG, porque tínhamos
pagamentos a fazer: IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), segurança”,
diz a testemunha. Moro então pergunta se não era a CNO (Odebrecht) que estava
liberando e a testemunha disse que não sabia.
Odebrecht
Emílio
Odebrecht, ao responder o Ministério Público, disse desconhecer que o
ex-presidente Lula tinha o codinome “Amigo”, como afirmou seu filho Marcelo
Odebrecht. Perguntado sobre a fala de Marcelo de que teria destinado R$ 300
milhões a Lula, Emílio diz que recebeu a informação do filho, mas que não
repassou o dado para o ex-presidente.
“Tive
conhecimento que Marcelo me trouxe para informar o presidente Lula e eu não
levei ao presidente. Eu não levava números para ele. O que perguntei foi: 'você
[Marcelo] e o interlocutor indicado pelo presidente, vocês acertaram?' Eu não
levei, mas esse número [R$ 300 milhões], ele [Marcelo] me falou que tinha
acertado para o partido. Isso foi que ficou, acertado. Essas notas que ele não
fala, não deu para interpretar complemente. Não fico seguro como entre outras
notas”, disse Emílio.
O
ex-vice-presidente da Brasken e ex-diretor de novos negócios da Odebrecht,
Alexandrino Alencar, disse acreditar que o imóvel comprado pela DAG seria uma
“contrapartida” ao que Lula fez no passado para a empresa, mas disse que não
participou da decisão. “Soube depois que o nosso grupo teria comprado, não um
terreno, mas um imóvel, e que esse imóvel seria para o Instituto Lula. O
ex-presidente não quis e conversei com Paulo Okamotto para que buscasse outra
alternativa de imóvel, aí que eu entro”, disse o ex-executivo,
Outro lado
A
defesa do ex-presidente Lula disse que “ficou claro nos depoimentos prestados
que o Instituto Lula jamais solicitou ou recebeu a posse ou a propriedade do
imóvel”.
“Louveira,
o único que participou do processo de compra do imóvel, depôs sob o compromisso
de dizer a verdade e afirmou que a Odebrecht Realizações viu uma oportunidade
de negócio, sendo uma hipótese a venda ou locação ao Instituto Lula. Confirmou
que, após visita ao local por parte da diretoria do Instituto, o interesse não
se materializou”, afirmou a defesa.
No
documento, os advogados do ex-presidente dizem que os depoimentos “mostram,
mais uma vez, o caráter irreal da acusação, pois o MPF tenta atribuir a Lula,
ou a pessoa a ele relacionada, um imóvel que jamais solicitou ou recebeu.”
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