Por
Antonio Luiz Carlini em 17/10/1987
Muita
agitação no terreiro da Moradia de Basílio Sipolatti, naquele inicio da década
mil novecentos e trinta, quando estavam em um sábado de março e já havia sido
iniciada a colheita do café, não com peneiras, mas as tarefas da capina e
arruação, bem como o excesso de zelo na preparação do terreiro, onde secariam
os grãos, depois de colhidos do chão e lavados naquele poço raso, sempre
instalado, ou escavado em uma das bordas do terreirão.
Todos
colocando em dia suas obrigações, por que no Domingo, iriam todos para a Capela
de São José do Caldeirão, onde o Frade já estava desde aquela manhã. Ah! Querem
saber como já sabiam que o Frade estava lá? “- Pois, segundo Jácomo Loss,
concunhado de Basílio Sipolatti, o cachorro dos Coser, considerado por Basílio
Sipolatti, o cão mais inteligente da história, naquela manhã latiu e riu ao
mesmo tempo, quando perto de sua casa passou, mesmo que a cavalo, um homem
barbudo usando saia marrom. O cachorro cumpria sua obrigação de latir para
estranhos, mas tinha mesmo era vontade de rir daquela situação! Jácomo Loss,
esbravejava, mas se continha para não puxar as orelhas de Basílio”.- Mas
Basílio Sipolatti e Rosina Ziviani, junto aos filhos alguns adolescentes, por
que alguns já adultos estavam fora por casamentos contraídos antes. No Domingo,
às três da manhã, preparam as obrigações indispensáveis em um sítio, tais como
ordenhar vacas de leite, separar bezerros, alimentar porcos e galinhas e, com
estas últimas, a tarefa mais nobre de um caipira, apalpar para saber qual teria
ovo! – Destarte comentar, para quem não viveu na roça, informar que apalpar
galinhas foi motivo de muita gargalhada, depois que causou muitos traumas, se
aquela tarefa coubesse a um rapaz, ou menino adolescente-.
Nas
cinco primeiras décadas do século XX, depois de cinco do século XIX, mas não
sei quando começou, a “Santa Madre Igreja Católica” celebrava “SANTAS
MISSAS”, (EM LATIM), sempre nas primeiras horas da manhã, por que quando da
“Santa Ceia” ou seja, a ‘EUCARISTIA”, os fiéis confessados, deviam ir em Jejum
para receber a “COMUNHÃO”. Por isso as confissões ocorriam de madrugada.
Segundo um Bispo, que ocupou o mais alto cargo da Santa Sé, isto também
prevenia a presença de embriagados no ritual!
Três
da manhã. Quatro panelas contendo alimentos, como se fossem levar almoço na
roça. Todos ávidos pela aparência com sua única roupa de Missa. Sob luz de
lamparina, observação à procura de uma possível mancha. Paletós e vestidos
sacudidos na Varanda. Descobrem que um dos adolescentes esquecera-se de
engraxar as Botas do Basílio e que uma das mocinhas não deu brilho nos sapatos
da Rosina. Os demais iriam descalços, embora que usando terno ou vestido de
renda. “Manhã iniciada com algumas blasfêmias e muitos “antidios”“, por parte
daquele patriarca, que em seus anos convivendo com brasileiros de várias
regiões, adicionou ao seu trivial das figuras de linguagem, o cacoete de sempre
acrescentar como sufixo ou prefixo em todas as frases, a abreviatura de “Lo
juro davante Dio”, para um simples “antidio”. Vê-se ali uma hipócrita maneira
de disfarçar outra blasfêmia, pois, TOMAR O SANTO NOME EM VÃO, para juras ou
injúrias, feria o Segundo mandamento: -“Não jurarás, tomando o Santo Nome de
Deus”! Tampouco cometerás injurias, invocando “Seu Sagrado Santo Nome”!
Aquele
cacoete herdou-o os filhos, Severino, Ângelo e Aristides, que equivocadamente
usufruíram da fama de serem autores, mas o autor foi o Pai Basílio.
Uma
das características peculiar em Basílio era nunca pronunciar uma frase com mais
de quatro palavras, sem citar qualquer um dos objetos sagrados de sua Santa
Igreja, tais como, sacramento, Hóstia, Porco Dio ou Porca Madona. Quem conviveu
com ele, afirmavam que o dito cujo nunca esqueceu estas comuns palavras para
blasfemar e que o fazia sem perceber. Porém, Rosina Ziviani, sua esposa, muito
carismática, no que concerne guardar e respeitar as Coisas Sagradas, sentia-se
incomodada com aquela situação e aplicou nele, a greve do leito. A principio
ele blasfemou e desdenhou. Mas passados alguns dias, foi ele procurá-la para
tanto e ouviu, vindo dela, a seguinte resposta: “-Só vai ter de novo, quando
for ao confessionário e pedir a absolvição por parte do “ Frade”, se é que ele,
não vai te excomungar! De agora em diante, só terá “aquilo” de novo, quando
estiver sem pecado” -. “Segundo ele contou para o Sobrinho, meu Nonno João
Carlini, depois de alguns dias de jejum e abstinência “daquela especial e
perseguida carne”, descobriu que qualquer sacrifício seria pouco, se acabasse
com aquela greve”. Pois, aquela era a mãe dos filhos e ele sentia obrigação em
respeitar um pouco das aspirações dela para com seu credo, mesmo por que à
força, cairia no descrédito dos filhos, além de magoá-la. Resolveu então que
confessaria e comungaria, fazendo como os demais, a Sagrada Páscoa, naquele
domingo de março.
Uma
vez na Capela, ao romper do Dia, chegam e encontram quase toda a população de
Caldeirão, ocupando os bancos da Nave do Templo. Somente Jácomo Loss em pé,
indicando a ordem dos que iam ao Confessionário, enquanto os demais rezavam o Rosário,
que dado o numero de candidatos ao Confessionário, com apenas um Frade, vários
terços foram ditos.
O
cito local, atualmente ainda é uma colina, onde uma brisa, ou os ventos mais
fortes, tornam o ambiente mais frio que todo vale, especialmente nos meses de
março a agosto. Isso devido à atmosfera em acordo com as estações. (...) Chegou
a vez do Basílio, que ao passar perto do Jácomo Loss, não gostou do sorrisinho
daquele sacristão, pois, deixou até aparecer os dentes debaixo daquele vasto
bigode, mantido por Jácomo como uma marca pessoal para impor respeito.
Ocorreu
nas conjecturações de Basílio, que talvez Jácomo soubesse de sua abstinência de
leito, já que Rosina e Carmelina Corteleti eram comadres, sendo que a Carmelina era casada com o Jácomo. “Teria Rosina confidenciado à Carmelina, que contou a Jácomo, seu
infortúnio em casa?” (...) Mas, por cargas d’água, já que estava ali, primeiro
iria ver o Frade e depois, quando este fosse para o desjejum na Canônica,
inquiriria ao sorridente só com ele!
Ajoelhado
no confessionário, pela telinha viu o Frade, lembrou-se do cão dos Coser.
Pensou rir, mas, aquele sorriso do Jácomo o incomodava. O Frade, com
aquele exagerado sotaque siciliano, deu início à conversa: - Buom Giorno,
sinhore! L’ei fredo, nó? (Bom Dia Senhor, está frio não é?).
Basílio responde com educação: - “Hóstia”, está muito frio! E ainda para
piorar, tem este “sacramento” deste maldito vento, que ao certo o “ pórco Dio”
do diabo, trouxe para esta Igreja!
Réplica
do Sacerdote: - Até aqui no confessionário o senhor tem que blasfemar? Tem que
parar com isso! Sabia o Senhor, que está ofendendo Deus e a Santa Madre Igreja
com essas palavras?
-
Hóstia, claro que sei! Sacramento! Por isso estou aqui, ‘”porca madona’”!
-O
Senhor continua proferindo blasfêmias! Tem que parar! Se continuar te expulso
da Igreja!
-
Eu quero parar, Pórco Dio! Má Sacramentos, hóstias e pórcos dios, já estão na
minha saliva!
-
Continua blasfemando! Tem que parar!
-
Eu sei, hóstia!
-De
novo! Outra blasfêmia! Vai ter que rezar ao menos uns quarenta terços e pagar
ao menos umas doze arrobas de café! Depois vamos pensar se Deus te concede a
indulgência!
-
Sacramento! Doze arrobas? O que Deus vai fazer com tanto café, pórco dio?
-
Vai, Deus não pode te absolver! Mas se prometer pagar vinte arrobas, talvez
ainda eu possa te conceder a absolvição!
-
Sacramento! O que vou dizer para a Rosina se eu não for perdoado!
-
Está bem! Procure não blasfemar mais, porém, faça uma doação para a Construção
da Matriz e do Seminário lá em Santa Teresa. Assim vai poder comungar, mas não
se esqueça das doações, se quiser a indulgência!
-
Sacramento! Anti Dio que por essa eu não esperava, hóstia!
Saiu
do confessionário e foi para os bancos ajoelhar-se e rezar, sabe-se lá pensando
o quê!
O
Frade interrompeu o recebimento de confissões e foi para os fundos. Passados
dez minutos Jácomo o trouxe de volta. O frade esboçava risos, mas os bigodes de Jácomo tremulavam, pois, acreditaram as testemunhas, meus avós e meus tios mais
velhos, que Basílio provocou risos no Frade, dado o seu modo peculiar de falar,
sempre blasfemando.
Matheus
Ângelo Ziviani, filho caçula de Francisco Ziviani, estava entre os fiéis lá
presentes, sentado e quietinho, ao lado da mãe. Narrou-me tal episódio em minha
adolescência, com riqueza muito maior de detalhes do que o aqui exposto, depois
que em minha infância, já o tinha ouvido de meus tios e do Nonno Carlini.
Gostaria que fosse corrigido o equívoco "irmãs Ziviani". Está me parecendo que cometi erro naquela afirmação!
ResponderExcluirBom dia, Antonio.
ExcluirFarei a correção agora mesmo.
Dag Vulpi