O
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes disse hoje (19), no
Recife, que o novo pedido de impeachment apresentado contra ele
ocorreu por causa do "momento muito politizado" vivido no país. O
novo pedido foi protocolado no último dia 14, no Senado, pelo
ex-procurador da República Claudio Fonteles e pelo professor da Universidade de
Brasília (UnB) Marcelo Neves.
Os
juristas apresentaram o pedido com base na gravação de uma conversa
com o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) com Mendes, na qual o político
mineiro pede que o magistrado interceda junto a parlamentares a favor do
projeto de abuso de autoridade. O grupo também pediu que o STF e a
Procuradoria-Geral da República investiguem se a conduta de Mendes é compatível
com o cargo que ocupa. Pedido de impeachment semelhante feito pelos
juristas ao Senado foi indeferido pelo então presidente da Casa, Renan
Calheiros (PMDB-AL).
No
Recife, Gilmar Mendes confirmou que atuou junto a parlamentares para tratar de
projetos de leis, ao responder sobre o teor da conversa telefônica com Aécio
Neves, gravada pela Polícia Federal (PF).
"O
momento é muito politizado e sempre surge esse tipo de questão. Amizade eu
tenho com vários políticos, estou em Brasília há muitos anos e tenho me
dedicado inclusive, nesses diálogos com os políticos, em realizar a reforma
política”, disse Gilmar Mendes. “Não vejo nenhum problema e tenho relações com
todas as forças político-partidárias e isso é reconhecido. Em relação ao
senador Aécio, nenhuma novidade também. Eu defendo a lei de abuso de autoridade
há muito tempo”.
Segundo
o ministro, a aprovação do projeto de lei de abuso de autoridade, que tornam
mais rígidas as punições a agentes públicos e militares de todos os poderes e
órgãos auxiliares, é “urgente” e afirmou que manteve conversas com
parlamentares no plenário do Senado sobre a necessidade de aprovação. Durante a
palestra no Recife sobre os desafios de governabilidade no Brasil, a convite do
LIDE Pernambuco, Mendes falou sobre a atuação de promotores e juízes na área
política, que segundo o ministro do STF, vai contra um Estado democrático.
“É
preciso que se respeite o Congresso Nacional. A política. Vamos abominar as más
práticas, mas não se faz democracia sem política e sem políticos. Deus nos
livre de um governo de juízes ou de promotores. Com os autoritarismos que vemos
aí, teríamos não um governo, mas uma ditadura”, disse, sendo aplaudido por
empresários e advogados de grandes escritórios – alguns dos quais criminais,
que atuam em casos de corrupção.
Outro
argumento apresentado no pedido de impeachment foi que Gilmar Mendes
cometeu crime de responsabilidade ao julgar habeas corpus do
empresário Eike Batista. A esposa do ministro, Guiomar, é sócia em um
escritório de advocacia que representa o réu na área cível. Sobre o tema,
Gilmar Mendes respondeu que o fato é "uma bobagem que já foi esclarecida”.
“A minha esposa atua num escritório de advocacia que não tem nada a ver com
esse processo, que atuou em outro processo de recuperação judicial de Eike
Batista. Não tem nada a ver com essa questão", disse.
Gilmar
Mendes também desqualificou os autores do pedido de impeachment,
chamando-os de “falsos juristas”. “Um é o Marcelo Neves. Muito mal sucedido na
carreira jurídica. Foi expulso da FGV [Fundação Getúlio Vargas] por problemas
comportamentais. Na UnB, se deu muito mal e inclusive contou com minha ajuda
quando precisou de emprego, inclusive no CNJ [Conselho Nacional de Justiça]. E
Claudio Fonteles foi um péssimo procurador-geral da República. Era chamado no
Supremo de doutor inépcia, tal o seu despreparo. Uma piada ambulante no
tribunal”.
TSE não serve para cassar
mandato
Ao
ser questionado por um integrante da plateia sobre o julgamento da chapa Dilma
Rousseff e Michel Temer, Gilmar Mendes, que também preside o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) disse que a Justiça Eleitoral “não existe para cassar mandatos,
quanto menos do presidente da República”, mas para garantir a “lisura das
eleições e a transparência do processo”. Gilmar Mendes deu o voto de
minerva contra a cassação da chapa.
Ele
disse que, no caso da cassação de mandatos, “a diferença entre remédio e veneno
está na dosagem”. “Não queríamos buscar substitutos para os políticos na
procuradoria, na magistratura, e muito menos nos quarteis”.
Depois,
em entrevista à imprensa, Gilmar Mendes afirmou que a discussão no julgamento
foi de ordem técnica.
Sobre
economia, Gilmar Mendes defendeu as privatizações como instrumento de
combate à corrupção. “Como um sistema dessa magnitude [o desvio de recursos da
Petrobras] pode se estruturar? Por que não soubemos fazer instituições que
impedissem esse tipo de prática? Isso tem a ver com a presença do Estado na
economia. O que faz a economia dependente do Estado”, disse.
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