Por
James Connolly do Santa
Eu
não preciso dizer a vocês que a política brasileira está vivendo seu crepúsculo
dos deuses. As principais lideranças político-partidárias do país foram
abatidas, e nos mesmos escândalos de corrupção (em especial nas propinas da JBS
e da Odebrecht). Se caciques do PMDB e do PSDB foram implicados, Lula e algumas
eminências pardas do PT também, e não há sinal de que irão sair ilesos também. No entanto, os elementos agregadores do futuro ainda estão em
construção, e nem sempre sinalizam algo de bom: Dória e Bolsonaro tentam agitar
a direita brasileira, mas falta ao primeiro resultados concretos e ao segundo
inteligência, e a ambos falta empatia e compreensão com a população mais
humilde e marginalizada. Marina Silva não tem mais o mesmo charme de outrora, tendo em vista que levanta nos ricos desconfiança de que irá levar a
cabo suas reformas e nos pobres levanta desconfiança de que irá efetivamente
proteger seus direitos, e a Rede ainda não decidiu o que quer ser, além de uma
grande tenda mais ou menos libertária.
O Psol ainda precisa gastar sola de sapato e língua nas periferias, deixar ocupar-se mais pela favela, campo e precariado, e construir um programa econômico mais consistente antes de se constituir em uma alternativa séria para o país. Ciro se mostra como uma alternativa por sua boquirrotisse, conseguiu um programa econômico que não é necessariamente progressista (em alguns pontos é francamente de direita) e tem passados (o mais recente é o de governador do Ceará) a lhe assombrarem. Finalmente, existem os aventureiros que são incensados aqui e ali, mas que possuem como projeto algo que vai pouco além do “consertar o Brasil”, se tanto.
No entanto, existem pessoas dentro dos partidos de esquerda e movimentos sociais, e mesmo fora deles (eu diria que a grande maioria está nesta situação) que não gostariam de ficar à mercê dos acontecimentos, que gostariam de discutir a crise das lideranças, e que estão atualmente sem espaço para fazer qualquer coisa.
Seja
por não saber como articular um movimento, ou mesmo por não saber que podem fazer tal coisa, estas pessoas hoje em dia se veem órfãs, quando
não descambam para o niilismo e a desesperança. Tal realidade precisa mudar,
caso queiramos ter um futuro, e eu penso que posso apontar um dos caminhos
alternativos. Notem bem: estou elucubrando aqui como faria em uma mesa de bar
ou assistindo um jogo do meu querido Santa Cruz Futebol Clube, o tricolor do
Arruda. Não estou dizendo que é pra fazer as coisas desse jeito, mas ficaria
feliz se alguém tomasse esse rumo.
Eu visualizo o surgimento de Círculos de Estudos e Atividades, onde o propósito seria, bem, estudos e atividades relacionadas a tudo aquilo que se encontre no campo do progressismo. Estes círculos poderiam constituir-se em nível de bairro, município, estado e nacionalmente, e ainda de forma temática, ou ainda virtualmente. Quem conheceu a Raiz vai ver ecos de sua organização aqui, e não por acaso, já que eu já fui parte atuante dela. A organização nestes círculos é uma das coisas boas que ela gerou, e de forma alguma é responsável por sua degeneração (algo que poderemos tratar em outra ocasião). É democrática e comporta ampliação com facilidade.
Estes círculos teriam como responsabilidade a discussão ampla e democrática de alternativas para problemas locais, regionais e nacionais. Nenhuma proposta, no entanto, deve deixar de lado o escrutínio da população onde o círculo está inserida, que fará o juízo final de sua aplicabilidade e evita que se “viaje demais”. As propostas deveriam comportar o seu versionamento, tanto para prover uma contínua atualização bem como recuperação das ideias anteriores para reanálise – e autocrítica por eventuais bobagens ditas anteriormente.
Por envolver a população, é imprescindível que tais círculos realizem um amplo trabalho de divulgação de suas ideias. Seja pelos meios tradicionais (jornais, panfletos, reuniões públicas), seja utilizando novas mídias, é importantíssimo que as ideias saiam da torre de marfim e cheguem a todos. Também por isso, os círculos deverão priorizar o contato com as populações da periferia, os trabalhadores urbanos precários, as comunidades rurais e tradicionais e as pequenas cidades do interior.
O objetivo seria criar uma frente progressista nacional e independente, de caráter suprapartidário, que admitiria a entrada de membros filiados a partidos ou não, embora imagine que um mínimo de identidade com as pautas das mais diferentes esquerdas seja necessário para o bom funcionamento.
Tal frente não impediria os membros de se filiarem a partidos políticos ou outros movimentos (incluso aqui as federações anarquistas), mas se reservaria o direito de endossar candidaturas que tenham identidade com suas propostas, levadas à frente por seus filiados ou não.
Ao mesmo tempo, esta frente também poderia realizar atividades de militância clássicas, como a participação em protestos e atos públicos, greves, pressão junto a parlamentares, etc. Promoveria palestras e reuniões periódicas em espaços públicos abertos à comunidade, como escolas, praças, centros comunitários, associações de moradores, etc. Ofereceria oficinas e cursos com o intuito de oferecer medidas de autonomia econômica e social. Apoiaria medidas de autogestão, como cooperativas populares de produção, fábricas ocupadas, bem como de apoio, como por exemplo a manutenção de uma banca de aconselhamento jurídico para presos injustos, políticos e de consciência.
Até aqui tudo bem, mas eu tenho consciência das broncas que tal iniciativa enfrentaria, que são assunto pro próximo texto.
rsrsrs Esquerda: no Brasil so o Psol,por enquanto! ate chegar ao poder...
ResponderExcluirigual ao pt foi ate 2002.