A tarde dessa
quarta-feira (11) em Manaus foi de chuva forte, o que não impediu que um grupo
de mães e mulheres de presos na Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal
Pessoa, no centro de Manaus, se mantivesse em frente ao local à espera de
notícias. O grupo, formado por sete mulheres, está há quase duas semanas em uma
espécie de vigília.
“A gente não
está conseguindo visitá-los. Eles [funcionários da cadeia] só falam que está
tudo bem. Se estivesse tudo bem, não tinha entrado ambulância aí, não tinha
preso ferido”, diz uma delas. Com medo de represálias, elas pedem para não ser
identificadas. Relatam a entrada de homens do Batalhão de Choque e de um
batalhão com cães. “A notícia que eles dão para todas é 'está bem'. E por que
entra cachorro aí dentro?”, disse dona Augusta*.
As mulheres se
instalaram do outro lado da rua, em frente à cadeia. Se revezam nas poucas
cadeiras de plástico disponíveis na calçada para descansar. Vez ou outra,
atravessam a rua e gritam por notícias, agarradas à grade do local. Lá dentro,
na porta da cadeia, policiais militares apenas observam o movimento. Maria
Tereza* é outra que espera notícias. Agitada, anda de um lado para outro, grita
em direção à cadeia pedindo informações.
Com telefones
celulares nas mãos, são alimentadas de informações por grupos de WhatsApp de
outros parentes de presos. Cada mensagem é recebida com indignação. Um dos
grupos foi batizado de “As Guerreiras”. São informadas de que seus parentes,
apesar de receberem roupas que as famílias entregam, estão apenas de cuecas lá
dentro. Então, Maria Tereza vai até o portão da cadeia pública e grita: “onde
estão as roupas que trouxemos para eles?”
A rotina, que
está perto de chegar a duas semanas, deixa dona Augusta angustiada e cansada.
Enquanto conversava com a reportagem, tinha crises de choro. Se recompunha e
minutos depois, chorava novamente, principalmente quando falava do filho, preso
por porte de drogas. “Meu filho é viciado, ele é. Mas eu sei que meu filho vai
sair daí vivo, eu sei! E meu filho nunca mais vai fazer besteira”, diz, em uma
nova crise de choro. “Eu já tô revoltada, cansada. Eu não aguento mais isso
não”.
Ela conta que desde a rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), nos dias 1º e
2 de janeiro, não vai para casa. “Meu marido já ligou e disse que nem me quer
mais, porque 'não tem mais mulher'. Eu sei que aqui fora a gente não faz nada,
mas só de estar aqui sinto que estou salvando meu filho”.
Na espera por
notícias, as mães e esposas se ajudam. São senhoras e jovens grávidas,
esperando pelos pais dos seus filhos. Compartilham comida e carinho. “A gente
não sabe mais o que é dormir. Quando uma vai para casa, as outras ficam aqui.
Às vezes, a gente tem pena umas das outras e fala 'vai, mana, vai para casa
tomar um banho'. Tem que estar aqui direto”, diz Maria Tereza, sob os olhares
de aprovação de outra mãe, Nilza*, uma senhora de cabelos brancos e olhar
cansado.
O filho de Nilza
está preso há um ano e dois meses. Já existe um alvará de soltura, mas o
recesso do Judiciário, segundo ela, atrasa a libertação do rapaz. “A gente
chega de manhã e não tem hora para sair. Na última terça-feira [10], eu saí
daqui quase à meia-noite. É muito difícil a gente, como mãe, passar por isso”.
Em frente à
cadeia, outro grupo reza. Com bíblias, parentes e amigos de presos cantam
louvores e estendem as mãos em direção à porta do local. Algumas choram,
enquanto cantam pedindo proteção aos detentos, na torcida para que não haja
mais mortes, a exemplo do que ocorreu no início da semana, quando quatro
presos morreram .
“Liberdade!”
Minutos após a
conversa com o grupo de mulheres, uma movimentação discreta chama a atenção
delas. Um preso é libertado e muitas comemoram, com grito de “liberdade!”.
Outra abraça o rapaz, que estampa um sorriso tímido e, ao mesmo tempo,
aliviado. Acompanhado por um funcionário da cadeia, ele deixa o local
rapidamente.
Em seguida,
outro é liberado. Entra em um carro do governo do estado do Amazonas e,
acompanhado pela mãe, também ganha liberdade. Logo, os ânimos cessam. As
pessoas que rezavam em frente à cadeia vão embora, mas dona Augusta, Maria
Tereza, Nilza e as outras continuam lá, vigilantes e angustiadas.
Suspensão
de visitas
A Secretaria
de Estado de Administração Penitenciária (Seap) informou, em nota, que as visitas
aos presos estão suspensas por período indeterminado. A justificativa é a
segurança deles e dos familiares.
“[...] está
temporariamente suspensa a entrega de alimentos e materiais em todas as
unidades prisionais e a visita de familiares aos internos durante o fim da
semana. A medida visa a garantir a segurança e a integridade física dos
familiares, funcionários e internos do sistema prisional”, diz a secretaria.
O órgão também
confirma que os alimentos entregues por parentes não estão sendo repassados aos
presos, mas não explicou o motivo. “A Seap reforça que as refeições diárias
dentro das unidades prisionais permanecem como programadas, e que os internos
não estão recebendo apenas os alimentos trazidos pelos familiares. A Seap
esclarece que assim que a situação no sistema for estabilizada, os
procedimentos voltados para os familiares serão retomados”.
Agencia Brasil
eu cercava as penitenciarias .
ResponderExcluire deixava esses animais si matarem