A juíza Maria Priscilla Veiga de Oliveira, da 4ª Vara Criminal de São
Paulo, encaminhou à 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) o processo que
apura se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu crime de
lavagem de dinheiro. Na semana passada, o Ministério Público de São
Paulo ofereceu denúncia e pediu a prisão preventiva de Lula sob a
acusação de que o ex-presidente é o proprietário oculto de um
apartamento tríplex no Guarujá, litoral paulista.
Na decisão,
Maria Priscilla justifica que os possíveis delitos relacionados ao
imóvel estão sob apuração da Operação Lava Jato e devem ser investigados
dentro do contexto do esquema nos inquéritos abertos na esfera federal.
Com isso, o processo passará a integrar o conjunto sob responsabilidade
do juiz federal Sérgio Moro.
“O pretendido nestes autos, no que
tange às acusações de prática de delitos chamados de 'lavagem de
dinheiro' é trazer para o âmbito estadual algo que já é objeto de
apuração e processamento pelo Juízo Federal da 13ª Vara Federal de
Curitiba/PR e pelo MPF [Ministério Público Federal], pelo que é inegável
a conexão, com interesse probatório entre ambas as demandas, havendo
vínculo dos delitos por sua estreita relação”, diz a decisão. A
magistrada também retirou o sigilo do processo.
Defesa
Em
nota, os advogados do ex-presidente Lula, Roberto Teixeira e Cristiano
Zanin Martins, informaram que irão pedir a impugnação da decisão e irão
recorrer ao Tribunal de Justiça de São Paulo. "Não há qualquer elemento
concreto que possa vincular o triplex ou a suposta reforma realizada
nesse imóvel a “desvios da Petrobras”, como afirma a decisão; o que
existe é imputação de uma hipótese, insuficiente para motivar uma
acusação criminal", argumentam os advogados, em nota publicada no
Instituto Lula.
"Os depoimentos opinativos colhidos pelos três
promotores de justiça do Ministério Público de São Paulo que assinaram a
denúncia contra o ex-presidente Lula e seus familiares não podem se
sobrepor ao título de propriedade, que goza de fé pública, e indica a
empresa OAS como proprietária do imóvel", acrescentam. "Mesmo que fosse
possível cogitar-se de qualquer vínculo com “desvios da Petrobras”, isso
não deslocaria o caso para a competência da Justiça Federal; a
Petrobras é sociedade de economia mista e há posição pacífica dos
Tribunais de que nessa hipótese a competência é da justiça estadual;
mesmo que fosse possível cogitar-se, por absurdo, de qualquer tema da
competência da Justiça Federal, não seria do Paraná (PR), pois o imóvel
está localizado no Estado de São Paulo (SP) e nenhum ato foi praticado
naquele outro estado".
"Além disso, os advogados do ex-presidente Lula também confiam que o
Supremo Tribunal Federal irá decidir pela atribuição do Ministério
Público do Estado de São Paulo, através de um promotor natural,
escolhido por livre distribuição, para conduzir o caso, conforme recurso
já interposto. Com essas medidas, a defesa do ex-presidente Lula busca
que os fatos sejam analisados pelas instâncias corretas, de acordo com a
Constituição Federal e a Lei. Não se pretende evitar qualquer
investigação. Ao contrário, o que se busca é evitar que alguns vícios
evidentes no processo venham a motivar, no futuro, a sua nulidade, como
já ocorreu em outros casos de grande repercussão".
A denúncia
Os
promotores do Ministério Público de São Paulo (MP) Cássio Conserino,
José Carlos Blat e Fernando Henrique Moraes de Araújo disseram ter
colhido duas dezenas de depoimentos que comprovariam que o apartamento
era “destinado” ao ex-presidente e sua família. O MP acusa Lula de
lavagem de dinheiro – na modalidade ocultação de patrimônio – e
falsidade ideológica.
“Aproximadamente duas dezenas de pessoas
nos relataram que, efetivamente, aquele tríplex do Guarujá era destinado
ao ex-presidente Lula e sua família. Dentre essas pessoas figuravam
funcionários do prédio, o zelador do prédio, a porteira do prédio,
moradores do prédio, funcionário da OAS, ex-funcionário da OAS, e o
proprietário da empresa que fez a reforma naquele imóvel e, pelos
relatos, fez uma reunião para apresentar parte da reforma efetuada, com a
presença da ex-primeira dama e de seu filho, além do senhor Léo
Pinheiro”, disse o promotor Cassio Roberto Conserino ao apresentar a
denúncia à imprensa.
Além de Lula, foram denunciados por lavagem
de dinheiro e falsidade ideológica, sua esposa, Marisa Letícia, por
participação em lavagem de dinheiro; e seu filho, Fábio Luiz Lula da
Silva, por participação em lavagem de dinheiro.
Na ocasião, o
Instituto Lula voltou a negar que o ex-presidente seja dono do
apartamento tríplex, alvo das investigações, e diz que o procurador
Cássio Conserino usa a investigação para fins políticos. “Cássio
Conserino, que não é o promotor natural deste caso, possui documentos
que provam que o ex-presidente Lula não é proprietário nem de tríplex no
Guarujá, nem de sítio em Atibaia, e tampouco cometeu qualquer
ilegalidade. Mesmo assim, solicita medida cautelar contra o
ex-presidente em mais uma triste tentativa de usar seu cargo para fins
políticos."
"Tais documentos foram encaminhados ao promotor. Já
era previsível, no entanto, que Conserino encaminhasse a denúncia, já
que declarou à revista Veja que considerava o ex-presidente
culpado antes mesmo de ouvir a defesa de Lula", acrescentou o instituto.
"O ex-presidente Lula já desmentiu essa acusação mais de uma vez,
frente às autoridades e em discursos. O ex-presidente Lula não é
proprietário nem de tríplex no Guarujá, nem de sítio em Atibaia, e não
cometeu nenhuma ilegalidade. Ele apresentou sua defesa em documentos que
provam isso às autoridades competentes."
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