Criado na Gávea e vendido em 2002, jogador diz que não precisava de apresentação, elogia diretoria e chama de "lenda" desconfiança sobre lesões: "Todos se machucam"
Quase quatorze anos depois da despedida, Juan está de volta ao Flamengo. O zagueiro, contratado ainda no fim de 2015, foi o primeiro jogador a ser apresentado oficialmente neste sábado pelo clube, após treino em Mangaratiba, onde o elenco faz a pré-temporada. A cerimônia foi uma espécie de sessão nostalgia. Em tom misto de desabafo e de satisfação ao torcedor rubro-negro que vai vê-lo de volta muitos anos depois, o jogador explicou o baixo número de jogos em 2015 no Internacional. Juan relativizou as 24 partidas - menos de 40% dos jogos do Colorado ano passado - e atribuiu ao rodízio do técnico Diego Aguirre, às duas lesões que sofreu na temporada passada e ao fato de ter perdido espaço no fim da temporada com Argel.
- Ano passado tive duas contusões. Números que dentro do calendário são normais. Depois, quem acompanha o Inter sabe que o Aguirre fazia rodízio. Depois que chegou o Argel, machuquei o (músculo) adutor, fiquei 20 dias fora, perdi espaço. O número baixo de jogos do ano passado se deve a isso, mais pelo rodízio do que pela parte física. Claro que jogador acima de 35 anos merece atenção especial. Sempre tive atenção especial. Nunca fui jogador muito forte, mas nunca deixei de trabalhar com o grupo, sempre fiz o que todos fazem. Isso no futebol brasileiro é um pouco de lenda. Todos se machucam. Calendário é muito desgastante. Batem sempre na mesma tecla da idade, mas gosto de bater no contexto: o que fazemos é sobre-humano - desabafou Juan.
Juan veste a camisa rubro-negra: zagueiro retorna ao Fla mais de 13 anos depois (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)
Tímido, veja um trecho da coletiva no acima, Juan mostrou a seriedade habitual que o caracteriza em campo em pouco menos de 20 minutos de entrevista coletiva. Ele vestiu a camisa 12 - em homenagem ao torcedor rubro-negro -, mas vai ser mesmo número 4 - que estava vago com a saída de Samir. Revelado pelo Flamengo, ele afirmou que muita coisa mudou no clube mais de uma década depois. E fez questão de elogiar as últimas transformações, referindo-se à diretoria que o trouxe de volta.
- O futebol hoje pede isso. É um time que luta para vencer, tem DNA de clube vencedor. (Os dirigentes) entenderam no clube que não basta só vencer, mas ficar o maior tempo possível no topo. O Flamengo está se estruturando para isso. Vamos dar resposta positiva dentro de campo para o colocar o Flamengo no patamar de outros times - disse Juan.
Juan fez 246 jogos pelo clube, do qual saiu em 2002 para jogar na Europa - defendeu o Bayer Leverkusen-ALE e o Roma-ITA. Marcou 30 gols com a camisa rubro-negra e conquistou títulos como o tricampeonato Carioca de 1999, 2000 e 2001 e a Copa Mercosul de 1999. Ainda no fim do ano passado, com seu contrato expirando no Internacional, chegou a um acordo para defender a equipe carioca e assinou contrato até dezembro. Na apresentação, disse que dispensava a formalidade de uma entrevista coletiva, o que é praxe na chegada de reforços.
- É estranho ser apresentado. Particularmente, nem precisava de apresentação. Eu me sinto em casa aqui. Metade da minha vida futebolística eu passei aqui. É estranho ser apresentado ou reapresentado pelo seu clube de coração - disse o defensor logo na primeira fala da entrevista com os jornalistas.
O diretor de futebol do Flamengo, Rodrigo Caetano, reforçou a confiança no futebol de Juan e deixou brecha para a renovação de contrato no fim da temporada. O zagueiro do Flamengo completa 37 anos dia 1º de fevereiro.
- Por questão de respeito, iniciamos as apresentações dos reforços pelo Juan. Tem identificação grande, fez esforço de voltar ao clube e abdicou de outras propostas. Além de o Flamengo desejar o retorno, foi um peso fundamental ele querer voltar. É sinal do que gente quer em 2016: comprometimento, profissionalismo - disse Caetano.
Para o setor, o clube contratou Antônio Carlos, que veio do Avaí, e ainda tem no radar dois zagueiros argentinos: Alejandro Donatti, do Rosario Central, e Luciano Lollo, do Racing.
Outros trechos da coletiva de apresentação de Juan:
Ser capitão
Só um detalhe para mim. Nunca deixei de exercer liderança, mas nunca fui capitão. Nunca deixei de exercer liderança técnica ou fora de campo. O Flamengo tem jogadores capazes de liderar, não sou obcecado por isso. Se o Muricy precisar, e os companheiros entenderem que é bom para o time, vou pegar. Se não for, vou continuar a fazer o que sempre fiz.
Por que não voltou antes?
Entendo o lado do torcedor. Por muito tempo fui torcedor. Naquela época não cheguei a um acordo, fiz de tudo, mas futebol tem dessas coisas. Nem sempre jogadores que são criados e torcem conseguem voltar para o clube de origem. Graças a Deus, continuei jogando em alto nível para voltar a vestir a camisa do Flamengo.
Novo velho Juan
Só um detalhe para mim. Nunca deixei de exercer liderança, mas nunca fui capitão. Nunca deixei de exercer liderança técnica ou fora de campo. O Flamengo tem jogadores capazes de liderar, não sou obcecado por isso. Se o Muricy precisar, e os companheiros entenderem que é bom para o time, vou pegar. Se não for, vou continuar a fazer o que sempre fiz.
Por que não voltou antes?
Entendo o lado do torcedor. Por muito tempo fui torcedor. Naquela época não cheguei a um acordo, fiz de tudo, mas futebol tem dessas coisas. Nem sempre jogadores que são criados e torcem conseguem voltar para o clube de origem. Graças a Deus, continuei jogando em alto nível para voltar a vestir a camisa do Flamengo.
Novo velho Juan
O nível de jogo muda muito. Era um garoto, tinha 23 anos, depois rodei o mundo, joguei em países com cultura de futebol totalmente diferente do Brasil, peguei um pouco de cada país em que joguei. Volto mais velho, mais experiente, sem aquela volúpia de antes, mas com o mesmo entusiasmo.
Zaga do Flamengo
As opções são boas. Temos experiência, temos o Wallace, que é jovem, mas experiente, uma liderança positiva do grupo. Os jogadores são mais jovens. Muita vontade de trabalhar, de jogar em alto nível. Sabemos sempre que a responsabilidade é muito grande. As pessoas gostam de mim, mas também sofri muito. Comecei a jogar muito cedo no profissional. Tem que evoluir, aprender. Temos um grande treinador, boas opções na zaga. Futebol não é só zaga que toma gol, só defesa que falha. Tem que procurar equilíbrio da equipe, continuar o que foi feito ano passado para conseguir chegar mais longe.
Rafael Dumas, promovido dos juniores para o time principal
Meio caladão, pode ser essa a comparação comigo. Tem muita qualidade, espero que consiga colocar tudo para fora, evoluir. Só assim vai poder atingir nível alto.
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Dag Vulpi