Por Dag Vulpi
- 09/11/2015
Enfim o grande
dia da derrubada da presidente aparentemente ‘indederrubável’ havia chegado. O
amanhecer foi maravilhosamente ensolarado naquela segunda feira, nove de
novembro de 2015. Parecia que até a natureza vibrava com a possibilidade de
enfim se ver livre daquela ‘desinfeliz’.
Arlindo
Orlando acordou junto com o galo, passou aquele café encorpado no coador de
pano e com a bebida ainda fervente encheu a caneca esmaltada e tascou uma
talagada pra dentro, acendeu um belo dum cigarro de palha que preparara
cuidadosamente enquanto esperava a água ferver, deu umas duas ou três
baforadas e foi ligar o motor do seu possante caminhão que descansava na
garagem. Voltou, tomou o resto do café secando a caneca e foi até o quarto dar
um tchau pra patroa, passou nos quartos das crianças, deu um beijo em cada uma,
pegou seu chapéu e partiu.
Ele, como
todos que já ouviram a banda blitz tocar, sabem que é aquele caminhoneiro
conhecido da pequena e pacata cidade de Miracema do Norte, aquele mesmo, que
abandonou a mariposa apaixonada e Guadalupe no dia em que seria o dia mais
feliz da vida dela. Ele fugiu, desapareceu, escafedeu-se. Mas ele se
reencontrou, voltou para a pequena cidade com os faróis baixos, e com os
para-choques duros para fazer a felicidade da mariposa local.
Subiu na
boleia e deu partida rumo à cidade grande, levava uma carga de produtos
perecíveis. Logo hoje, exatamente no dia da derrubada da inderrubável ele dera
o azar de carregar uma carga perecível, mas se preciso fosse ele estava
preparado, perderia a carga mais salvaria o Brasil, ao menos foi o que o patrão
dele havia prometido numa reunião realizada no sábado que antecedeu a
derradeira segunda feira. A ordem era pra se preciso fosse todos pararem e
apoiarem a derrubada, certamente que o ônus do prejuízo não poderia ficar nas
costas do patrão, afinal, se ele quebrasse pra quem eles iriam trabalhar
naquela região. Ficou combinado na reunião que as perdas seriam descontadas nos
fretes futuros e, estando todos de acordo saíram animados da reunião, enfim era
a chance de tornarem-se heróis do povo brasileiro.
Ele já havia
percorrido mais de 300 km e nada de paralização até que, quando passava por uma
estrada de outra pequena cidade do interior do Brasil percebeu três Caminhões
parados. De imediato ele pensou: "deve ser a greve que chegou até aqui
nesse fim de mundo". Ele deu meia volta, estacionou seu caminhão ao lado
dos outros três e foi até o local onde os três motoristas estavam e perguntou:
-
Companheiros, vocês pararam aqui por quê? É pra fazer greve?
E aí os três
responderam ao mesmo tempo:
- Não
companheiro, paramos pra almoçar porque a próxima parada só daqui a uns 500 km.
Ele olhou para
um lado, olhou pro outro e pensou: "Que se dane aquela cambada de ladrão
corrupto, ali num escapa um, tão querendo tirá a mulher prá botá outro safado
nu lugar".
Aí ele
virou-se para o dono do estabelecimento e falou:
- Moço, desce
uma pinga e um prato caprichado igual ao dos companheiros ai.
- Eu sô lá
besta de ficar parado perdendo meu dinheiro enquanto os políticos e o patrão
que estão mandando a gente fazer greve tão nadando em dinheiro.
- Se eles
quiserem que eles arrumi outro trouxa.
- E lasquera
essa é da boa, desceu que desceu queimando o bucho.
- Saúde e
trabalho pra nós amigos!
Tim! Tim!
E assim a
inderrubável se manterá no poder, ao menos mais um dia.
É uma pena que ao envelhecermos não melhoremos nem o carater nem a inteligência.
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