terça-feira, 10 de novembro de 2015

O dia da derrubada da presidente inderrubável


Por Dag Vulpi - 09/11/2015

Enfim o grande dia da derrubada da presidente aparentemente ‘indederrubável’ havia chegado. O amanhecer foi maravilhosamente ensolarado naquela segunda feira, nove de novembro de 2015. Parecia que até a natureza vibrava com a possibilidade de enfim se ver livre daquela ‘desinfeliz’.

Arlindo Orlando acordou junto com o galo, passou aquele café encorpado no coador de pano e com a bebida ainda fervente encheu a caneca esmaltada e tascou uma talagada pra dentro, acendeu um belo dum cigarro de palha que preparara  cuidadosamente enquanto esperava a água ferver, deu umas duas ou três baforadas e foi ligar o motor do seu possante caminhão que descansava na garagem. Voltou, tomou o resto do café secando a caneca e foi até o quarto dar um tchau pra patroa, passou nos quartos das crianças, deu um beijo em cada uma, pegou seu chapéu e partiu.

Ele, como todos que já ouviram a banda blitz tocar, sabem que é aquele caminhoneiro conhecido da pequena e pacata cidade de Miracema do Norte, aquele mesmo, que abandonou a mariposa apaixonada e Guadalupe no dia em que seria o dia mais feliz da vida dela. Ele fugiu, desapareceu, escafedeu-se. Mas ele se reencontrou, voltou para a pequena cidade com os faróis baixos, e com os para-choques duros para fazer a felicidade da mariposa local.

Subiu na boleia e deu partida rumo à cidade grande, levava uma carga de produtos perecíveis. Logo hoje, exatamente no dia da derrubada da inderrubável ele dera o azar de carregar uma carga perecível, mas se preciso fosse ele estava preparado, perderia a carga mais salvaria o Brasil, ao menos foi o que o patrão dele havia prometido numa reunião realizada no sábado que antecedeu a derradeira segunda feira. A ordem era pra se preciso fosse todos pararem e apoiarem a derrubada, certamente que o ônus do prejuízo não poderia ficar nas costas do patrão, afinal, se ele quebrasse pra quem eles iriam trabalhar naquela região. Ficou combinado na reunião que as perdas seriam descontadas nos fretes futuros e, estando todos de acordo saíram animados da reunião, enfim era a chance de tornarem-se heróis do povo brasileiro.

Ele já havia percorrido mais de 300 km e nada de paralização até que, quando passava por uma estrada de outra pequena cidade do interior do Brasil percebeu três Caminhões parados. De imediato ele pensou: "deve ser a greve que chegou até aqui nesse fim de mundo". Ele deu meia volta, estacionou seu caminhão ao lado dos outros três e foi até o local onde os três motoristas estavam e perguntou:

- Companheiros, vocês pararam aqui por quê? É pra fazer greve?

E aí os três responderam ao mesmo tempo:

- Não companheiro, paramos pra almoçar porque a próxima parada só daqui a uns 500 km.

Ele olhou para um lado, olhou pro outro e pensou: "Que se dane aquela cambada de ladrão corrupto, ali num escapa um, tão querendo tirá a mulher prá botá outro safado nu lugar".

Aí ele virou-se para o dono do estabelecimento e falou:

- Moço, desce uma pinga e um prato caprichado igual ao dos companheiros ai.

- Eu sô lá besta de ficar parado perdendo meu dinheiro enquanto os políticos e o patrão que estão mandando a gente fazer greve tão nadando em dinheiro.

- Se eles quiserem que eles arrumi outro trouxa.

- E lasquera essa é da boa, desceu que desceu queimando o bucho.

- Saúde e trabalho pra nós amigos!

Tim! Tim!


E assim a inderrubável se manterá no poder, ao menos mais um dia. 

Um comentário:

  1. É uma pena que ao envelhecermos não melhoremos nem o carater nem a inteligência.

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Dag Vulpi

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