Trechos da
última coluna que Sidney publicou em seu blog: "Há uma má vontade dos
colegas que se especializaram em política e economia. A obsessão em ver no
Governo o demônio, a materialização do mal, ou o porto da incompetência, está
sufocando a sociedade e engessando o setor produtivo. (...) O Governo acumula
trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na dimensão precisa. Da mesma forma
que os acertos também devem ser publicados. E não são. Eles são escondidos.
(...) Uma trupe de jornalistas parece tão certa de que o impedimento da
presidente Dilma Rousseff é o único caminho possível para a redenção nacional
que se esquece do nosso dever principal, que é noticiar o fato, perseguir a
verdade." Leia na íntegra:
Nas últimas duas décadas, Sidney Rezende construiu uma carreira respeitada no Rio de Janeiro. Dedicado como poucos à profissão, conquistou espaços importantes em rádio, com sua atuação constante na CBN; na TV, onde era um dos âncoras mais destacados da Globo News, além de apresentador de telejornais da TV Globo; e, também, na Internet, onde foi um dos desbravadores do potencial oferecido pelo web jornalismo
Mas tudo isso não foi suficiente para mantê-lo na emissora onde estava há quase 20 anos.
Leia também: New York Times diz que a Globo é a TV que ilude o Brasil
Em reportagem publicada no Diário do Centro do Mundo, o articulista Kiko Nogueira escreveu uma introdução, antes de mostrar aos leitores a bombástica coluna de Sidney:
"Chega de notícias ruins": a sinceridade da última coluna de um apresentador da Globo
É certo que a Globo News está realizando o que se chama eufemisticamente de "reestruturação" - aka, demitindo. No mês passado, foi o apresentador Eduardo Grillo, que trabalhava no canal desde o início, em 1996.
Agora chegou a vez de Sidney Rezende, que integrava o estafe há 18 anos. "Ao dar a notícia de que o contrato não seria renovado, Ali Kamel, diretor de jornalismo e esporte, fez questão de enaltecer para Sidney Rezende a sua qualidade profissional e o excelente desempenho dele nos muitos anos que trabalhou para a TV Globo", diz um comunicado oficial publicado no dia 13 (sexta).
Também é certo que a última coluna que Rezende escreveu em seu blog, datada de 12 de novembro, é intitulada "Chega de Notícias Ruins". Poderia ser endereçada a praticamente todo o time de articulistas da Globo.
Ei-la:
Em todos os lugares que compareço para realizar minhas palestras, eu sou questionado: "Por que vocês da imprensa só dão 'notícia ruim'?"
O questionamento por si só, tantas vezes repetido, e em lugares tão diferentes no território nacional, já deveria ser motivo de profunda reflexão por nossa categoria. Não serve a resposta padrão de que "é o que temos para hoje". Não é verdade. Há cinismo no jornalismo, também. Embora achemos que isto só exista na profissão dos outros.
Os médicos se acham deuses. Nós temos certeza!
Há uma má
vontade dos colegas que se especializaram em política e economia. A obsessão em
ver no Governo o demônio, a materialização do mal, ou o porto da incompetência,
está sufocando a sociedade e engessando o setor produtivo.
O "ministro" Delfim Netto, um dos mais bem humorados frasistas do Brasil, disse há poucas semanas que todos estamos tão focados em sermos "líquidos" que acabaremos "morrendo afogados". Ele está certo.
Outro dia, Delfim estava com o braço na tipoia e eu perguntei: "o que houve?". Ele respondeu: "está cada vez mais difícil defender o governo".
Uma trupe de jornalistas parece tão certa de que o impedimento da presidente Dilma Rousseff é o único caminho possível para a redenção nacional que se esquece do nosso dever principal, que é noticiar o fato, perseguir a verdade, ser fiel ao ocorrido e refletir sobre o real e não sobre o que pode vir a ser o nosso desejo interior. Essa turma tem suas neuroses loucas e querem nos enlouquecer também.
O Governo acumula trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na dimensão precisa. Da mesma forma que os acertos também devem ser publicados. E não são. Eles são escondidos. Para nós, jornalistas, não nos cabe juízo de valor do que seria o certo no cumprimento do dever.
Se pesquisarmos a quantidade de boçalidades escritas por jornalistas e "soluções" que quando adotadas deram errado daria para construir um monumento maior do que as pirâmides do Egito. Nós erramos. E não é pouco. Erramos muito.
Reconheço a importância dos comentaristas. Tudo bem que escrevam e digam o que pensam. Mas nem por isso devem cultivar a "má vontade" e o "ódio" como princípio do seu trabalho. Tem um grupo grande que, para ser aceito, simplesmente se inscreve na "igrejinha", ganha carteirinha da banda de música e passa a rezar na mesma cartilha. Todos iguaizinhos.
Certa vez, um homem público disse sobre a imprensa: "será que não tem uma noticiazinha de nada que seja boa? Será que ninguém neste país fez nada de bom hoje?". Se depender da imprensa brasileira, está muito difícil achar algo positivo. A má vontade reina na pátria.
É hora de mudar. O povo já percebeu que esta "nossa vibe" é só nossa e das forças que ganham dinheiro e querem mais poder no Brasil. Não temos compromisso com o governo anterior, com este e nem com o próximo. Temos responsabilidade diante da nação.
Nós devemos defender princípios permanentes e não transitórios.
Para não perder viagem: por que a gente não dá também notícias boas?
Taí uma boa pergunta, cuja resposta Rezende sabe.
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Dag Vulpi