Críticas à
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que transfere a decisão sobre
demarcação de terras indígenas do Ministério da Justiça para o Congresso
Nacional e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), deram a tônica dos
discursos durante o painel internacional sobre agricultura familiar indígena.
Os fóruns sociais indígenas, com apresentação de painéis e debates, fazem parte
da programação dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI).
O público
presente aplaudiu a fala de Diva Máximo, da etnia Wassu-Cocal, de Alagoas.
“Essa PEC 215 quer acabar com os indígenas, tirar de nós os costumes
tradicionais. E não é esse evento lindo e maravilhoso, feito com dinheiro que
poderia ser usado para demarcar terra indígena, que vai me calar”.
A indígena
Cristiane, da etnia Xucuru Kariri, também de Alagoas, pediu a palavra para se
opôr à proposta que tramita no Congresso Nacional. “A PEC 215 está aí. Estamos
clamando e chorando para que ela não aconteça. É preciso que o governo
brasileiro respeite os povos indígenas do Brasil”.
Na cerimônia
de abertura dos jogos, ocorrida na última sexta-feira (23), o líder Jeremias
Xavante também chamou atenção para a questão. Ele aproveitou a lacuna no
roteiro e tomou a palavra. Jeremias se dirigiu à presidenta Dilma Rousseff,
presente no local, pedindo providências contra a PEC.
O
representante do Panamá na Aliança pela Soberania Alimentar na América Latina,
Jorge Stanley, lamentou a situação pela qual passam os indígenas brasileiros.
“Sem território, não é possível ter soberania alimentar. Existe acordo
internacional pelos direitos dos povos indígenas, é preciso apenas ratificar,
mas a luta se faz no campo, se faz todo dia”.
Diva também
mostrou um panfleto do Ibama orientando os turistas a não comprarem artesanato
feito com penas de animais, e informando ser crime vender ou comprar artesanato
feito com penas de animais silvestres. “Eu não posso pegar as penas das araras
para fazer o meu artesanato, mas o fazendeiro pode desmatar nossas terras e
expulsar os animais. Muitos índios estão sendo multados por causa de uma peça
que leva duas penas de louro, duas penas de papagaio”.
Em seguida, a
indígena Cristiane, da etnia Xucuru Kariri, de Alagoas, também criticou a
postura do Ibama. “É triste ver a perseguição contra nossos parentes, que
sobrevivem do artesanato. E o pessoal do Ibama multa e apreende nossos
artesanatos, que vendemos para sustentar nossa família”.
De acordo com
o Ibama, os índios podem usar peças feitas com partes de animais por questões
culturais e tradicionais, mas não podem comercializá-las. A lei prevê prisão e
multa de até R$ 5 mil por peça.
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Dag Vulpi