Leandro
Prazeres Do UOL
Dois dos
principais delatores da operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef e o
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, mencionaram nesta
terça-feira (25) que políticos do PSDB receberam recursos desviados de empresas
estatais como a Petrobras e Furnas. Entre os beneficiados estariam o
ex-presidente nacional partido Sérgio Guerra e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
As declarações
de Costa e Youssef foram feitas durante uma acareação
realizada nesta terça-feira na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da
Petrobras na Câmara. Costa e Youssef disseram que Sérgio Guerra recebeu R$
10 milhões para "abafar" uma CPI no Congresso Nacional para investigar
irregularidades na Petrobras em 2009. O dinheiro, segundo a dupla, teria sido
pago pela empreiteira. Segundo Youssef, o dinheiro foi pago pela empreiteira
Camargo Correa, uma das investigadas pela operação Lava Jato.
Costa disse
que foi procurado por Guerra e pelo deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE)
para que o dinheiro fosse encaminhado ao líder tucano. "De minha parte,
posso dizer que eles receberam", afirmou Costa. Sérgio Guerra morreu em
março de 2014.
Deputados do
PT seguiram questionando os dois delatores sobre suspeitas de pagamento de
propina a líderes tucanos. Jorge Sola (PT-BA) perguntou a Youssef se ele tinha
conhecimento das informações de que o senador Aécio Neves teria recebido
dinheiro de propina relativa a contratos da estatal Furnas. "O senhor
confirma que Aécio recebeu dinheiro de corrupção de Furnas?", indagou
Sola. Youssef disse ter ouvido sobre isso do ex-deputado José Janene, morto em
2010: "Eu confirmo por conta do que eu escutava do deputado José Janene,
que era meu compadre, e eu era operador dele", disse Youssef. Janene é
apontado como o responsável pela indicação de Paulo Roberto Costa à direção de
Abastecimento da Petrobras.
Em nota
oficial, o diretório nacional do PSDB rebateu as afirmações dos delatores.
"Como já foi afirmado pelo advogado de Alberto Youssef e, conforme
concluiu a Procuradoria Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal
(STF), as referências feitas ao senador Aécio Neves são improcedentes e carecem
de quaisquer elementos que possam minimamente confirmá-las."
O texto
prossegue questionando as motivações de tais declarações: "Não se tratam
de informações prestadas, mas sim de ilações inverídicas feitas por terceiros
já falecidos, a respeito do então líder do PSDB na Câmara dos Deputados,
podendo, inclusive, estar atendendo a algum tipo de interesse político de quem
o fez à época."
A partir das
menções feitas a Aécio Neves e a Sérgio Guerra, deputados do PT e da oposição
travaram uma espécie de "batalha" ao longo da acareação. Em diversos
momentos, quando deputados oposicionistas faziam perguntas sobre líderes do PT,
deputados governistas gritavam o nome de Aécio.
Youssef disse
ainda que chegou a enviar recursos oriundos de propina a Belo Horizonte, mas
negou que fossem direcionados ao senador Antonio Anastasia (PSDB-MG).
"Com
referência ao Anastasia, eu mandei, sim, dinheiro para Belo Horizonte, mas não
fui que fui entregar. Então, a mim não foi dito que era para o Anastasia. Mas
quem foi lá entregar foi o Jayme [Alves de Oliveira Filho], então só ele pode
dizer a quem ele entregou. Eu posso dizer que recebi um endereço, um nome, e
mandei entregar. Esse nome que eu recebi, me lembro muito bem, não era o
Anastasia. Tinha outro nome e tinha outro endereço", afirmou.
Em março deste
ano, Aécio
negou participação no esquema de Furnas. "A chamada lista de
Furnas - relação que contém nomes de mais de 150 políticos brasileiros de
diferentes partidos - é uma das mais conhecidas fraudes políticas do País e já
foi reconhecida como falsa em 2006 pela CPMI dos Correios", disse o tucano
em nota. Segundo a nota, a "lista de Furnas" surgiu em 2005 como "tentativa
de dividir atenção da opinião pública" em meio à revelação do mensalão.
Em relação ao
PT, Youssef
disse que a presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) tinham conhecimento do esquema de desvios de recursos
públicos da Petrobras investigado pela Polícia Federal e pelo MPF (Ministério
Público Federal). Ambos negam.
Leia a seguir
a íntegra da nota oficial do PSDB sobre os depoimentos dos delatores:
"Como já
foi afirmado pelo advogado de Alberto Youssef e, conforme concluiu a
Procuradoria Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF), as
referências feitas ao senador Aécio Neves são improcedentes e carecem de
quaisquer elementos que possam minimamente confirmá-las.
Não se tratam
de informações prestadas, mas sim de ilações inverídicas feitas por terceiros
já falecidos, a respeito do então líder do PSDB na Câmara dos Deputados,
podendo, inclusive, estar atendendo a algum tipo de interesse político de quem
o fez à época.
Em seu depoimento à Polícia Federal, conforme a petição da PGR, Youssef afirma que: "Nunca teve contato com Aécio Neves" (página 18) e que "questionado se fez alguma operação para o PSDB, o declarante disse que não" (página 20).
Na declaração feita hoje, diante da pressão de deputados do PT, Yousseff repetiu a afirmativa feita meses atrás: de que nunca teve qualquer contato com o senador Aécio Neves e de que não teve conhecimento pessoal de qualquer ato, tendo apenas ouvido dizer um comentário feito por um terceiro já falecido.
Dessa forma, a tentativa feita pelo deputado do PT Jorge Solla, durante audiência da CPI que investiga desvios na Petrobras, buscou apenas criar um factoide para desviar a atenção de fatos investigados pela Polícia Federal e pela Justiça e que atingem cada vez mais o governo e o PT."
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