O
recesso parlamentar chega ao fim nesta segunda-feira e, com a volta dos
congressistas ao trabalho, crescem as expectativas sobre como será a atuação do
presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), após romper
publicamente com o governo Dilma Rousseff.
Cunha, que
acusa o Planalto de agir contra ele na Operação Lava Jato, já disse que
colocará em votação as análises de contas pendentes desde o governo Collor,
limpando o caminho para a apreciação dos números da era Dilma.
Espera-se que
o TCU (Tribunal de Contas da União) decida neste mês se aprova ou não as contas
de 2014 da gestão petista, questionadas por causa das manobras que ficaram
conhecidas como "pedaladas fiscais" – o governo adiou repasses
devidos a bancos públicos para segurar as despesas.
A rejeição das
contas de Dilma no Congresso, seguindo uma eventual recomendação do TCU, pode
embasar um pedido de impeachment da presidente.
Cunha, como
chefe da Câmara, é quem decide se os pedidos de afastamento são colocados em
tramitação ou não.
A tensão entre
o deputado e o governo, porém, não surgiu agora. Relembre os principais
embates:
MP dos Portos
Em 2013,
quando era líder do PMDB na Câmara, Cunha foi o principal opositor à medida
provisória que definiu novas regras para o setor portuário.
Ele sugeriu
emendas ao texto. Com outros congressistas, defendia, por exemplo, permitir a
renovação de concessões em portos públicos assinadas após 1993.
O então
deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), apelidou a medida de "MP dos
Porcos" e acusou o PMDB de apresentar emendas que atendiam a interesses
empresariais. Ele e Cunha chegaram a bater boca no plenário.
Para conseguir
a aprovação da MP, que demandou longas e tensas sessões no Congresso, o governo
teve de ceder a parte das alterações sugeridas pelos parlamentares.
Dilma acabou
vetando alguns dos pontos incluídos na Câmara, provocando acusações de Cunha de
quebra de acordo. No episódio, ele criticou duramente a articulação política do
governo.
Blocão
Em 2014, ano
da eleição presidencial, Cunha organizou um bloco com parlamentares de partidos
aliados insatisfeitos, como o seu PMDB, o PSC e o PTB, e da oposição, como o
Solidariedade.
Apelidado de
"blocão", esse grupo passou a atuar contra propostas defendidas pelo
Planalto. Entre elas, o Marco Civil da Internet, que acabou aprovado após o
governo fazer concessões.
À época, Cunha
protagonizou, pela imprensa, bate-bocas com o presidente do PT, Rui Falcão, e
chegou a defender publicamente que o PMDB rompesse com o partido de Dilma.
Comando da Câmara
Entre a base aliada,
era claro o favoritismo de Cunha para assumir a presidência da Câmara dos
Deputados neste ano.
Mesmo assim, o
governo tentou evitar sua vitória bancando a candidatura de Arlindo Chinaglia
(PT-SP) à mesma cadeira. Durante a campanha, surgiram relatos de que ministros
de Dilma usaram cargos para pressionar deputados aliados a votarem no petista.
Mas a
operação, além de piorar a relação entre governo e Cunha, não deu certo: o
peemedebista teve 267 votos, mais que a soma dos outros três candidatos, e acabou
eleito com folga.
Derrotas no
plenário
O temor do
governo com a eleição de Cunha parecia fazer sentido: presidida por ele, a
Câmara tem aplicado várias derrotas à gestão petista.
Com o poder de
decidir o que vai ou não ser votado, o peemedebista levou à apreciação do
plenário a PEC da Bengala, na gaveta desde 2005, quando veio do Senado. A
Câmara aprovou a medida, que permite à cúpula do Judiciário se aposentar aos 75
anos, e não aos 70.
Na prática, o
texto retirou de Dilma a certeza de que indicaria ao menos mais cinco ministros
do STF (Supremo Tribunal Federal) durante seu segundo mandato.
Para tentar
melhorar a relação com o Congresso, Dilma escalou o vice-presidente da
República, Michel Temer (PMDB-SP), para assumir a articulação política.
Mesmo assim,
vieram novas derrotas. Cunha conseguiu a aprovação, por exemplo, de uma
proposta de redução da maioridade penal – o governo é contra. Na aprovação de
projeto regulamentando a terceirização, a Câmara não adotou mudanças desejadas
pelo governo, mesmo depois de pedido do ministro Joaquim Levy (Fazenda).
Operação Lava Jato
Com a
divulgação da lista de políticos investigados sob suspeita de envolvimento no
esquema de corrupção na Petrobras, em março, Cunha passou a acusar o governo de
orquestrar as denúncias contra ele.
"O
procurador agiu como aparelho visando a imputação política de indícios como se
todos fossem participes da mesma lama", publicou no Twitter à época, em
referência ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que segundo ele
atendeu a pressões do governo para incluí-lo na lista.
Em meados de
julho, após a divulgação do depoimento em que o delator Julio Camargo acusa
Cunha de ter recebido US$ 5 milhões (R$ 16,7 milhões) de propina do esquema, a
crise atingiu seu auge até agora, com o deputado convocando jornalistas para
anunciar seu rompimento com o governo.
"O
governo não me engole, tem ódio, uma oposição pessoal contra mim. Tem um bando
de aloprados no Palácio (do Planalto) que vive de criar constrangimento. Eles é
que precisam ser investigados", afirmou.
Da BBC Brasil
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