A situação da
revista Veja e da Editora Abril, que atingiu o fundo do poço da credibilidade
no último fim de semana, com a capa criminosa contra a presidente Dilma
Rousseff, acusada sem provas pela publicação, pode se tornar ainda mais grave.
Reportagem do
jornal Valor Econômico, publicada nesta quinta-feira, revela algo escandaloso:
o "depoimento" do doleiro Alberto Youssef que ancora a chamada
"Eles sabiam de tudo", sobre Lula e Dilma, simplesmente não existiu.
Foi uma
invenção de Veja, que atentou contra a democracia, tirou cerca de 3 milhões de
votos da presidente Dilma Rousseff e, por pouco, não mudou o resultado da
disputa presidencial, ferindo a soberania popular do eleitor brasileiro.
Quem afirma
que o depoimento não existiu é ninguém menos que o advogado Antônio Figureido
Basto, que representa o doleiro. "Nesse dia não houve depoimento no
âmbito da delação. Isso é mentira. Desafio qualquer um a provar que houve
oitiva da delação premiada na quarta-feira", disse ele.
Basto também
nega uma versão pró-Veja que começou a circular após as eleições – a de que
Youssef teria feito um depoimento e depois retificado. "Não houve
retificação alguma. Ou a fonte da matéria mentiu ou isso é má-fé mesmo",
acusa o defensor de Youssef.
Com isso, a
situação de Veja torna-se delicadíssima. No fim de semana, a publicação passou
por uma das maiores humilhações de sua história, ao ser obrigada a publicar um
direito de resposta contra um candidato – no caso, a presidente Dilma Rousseff
– em pleno dia de votação.
Agora, a
revista pode ser condenada a circular neste próximo fim de semana com uma capa
e páginas internas, também com direito de resposta. A decisão está nas mãos do
ministro Teori Zavascki, que pode decidir monocraticamente – ou levar a questão
ao plenário do Supremo Tribunal Federal. Mas mesmo no plenário Veja tende a
perder. Afinal, como os ministros justificariam o direito de informar uma
mentira, com claras finalidades eleitorais e antidemocráticas?
Veja cometeu
um atentado contra a democracia brasileira, que envergonha o jornalismo, e este
crime é apontado pelo próprio advogado do doleiro Youssef. Os responsáveis diretos
são: Giancarlo Civita, controlador da Abril, Fábio Barbosa, presidente da
empresa, e Eurípedes Alcântara, diretor de Redação de Veja.
Por André
Guilherme Vieira | De São Paulo
O advogado que
representa Alberto Youssef, Antonio Figueiredo Basto, negou envolvimento na
divulgação de informações que teriam sido prestadas pelo doleiro no âmbito da
delação premiada, sobre o conhecimento de suposto esquema de corrupção na
Petrobras pela presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) e pelo ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. "Asseguro que eu e minha equipe não tivemos
nenhuma participação nessa divulgação distorcida", afirmou ao Valor
Pro. A informação de que Dilma e Lula sabiam da corrupção na Petrobras foi
divulgada na sexta-feira passada pela revista "Veja".
No mesmo dia,
o superintendente da Polícia Federal (PF) no Paraná, delegado Rosalvo Ferreira
Franco, determinou abertura de inquérito para apurar "o acesso de
terceiros" ao conteúdo do depoimento prestado por Youssef a delegados da
PF e a procuradores da República.
"Acho
mesmo que isso tem que ser investigado. Queremos uma apuração rigorosa",
garante Basto, que já integrou o conselho da Companhia de Saneamento do Paraná
(Sanepar). "Eu não tenho nenhuma relação com o PSDB. Me desliguei em 2002
do conselho da Sanepar [controlada pelo governo do Estado]. Não tenho vínculo
partidário e nem pretendo ter. Nem com PSDB, nem com PT, nem com partido
algum", afirma. O Paraná é governado por Beto Richa desde janeiro de 2011.
Ele foi reconduzido ao cargo no primeiro turno da eleição deste ano.
A reportagem
menciona que a declaração de Youssef teria ocorrido no dia 22 de outubro.
"Nesse dia não houve depoimento no âmbito da delação. Isso é mentira.
Desafio qualquer um a provar que houve oitiva da delação premiada na
quarta-feira", afirma, irritado, Basto. O advogado diz ser falsa a
informação de que o depoimento teria ocorrido na quarta-feira para que fosse
feito um "aditamento" ou retificação sobre o que o doleiro afirmara
no dia anterior: "Não houve retificação alguma. Ou a fonte da matéria
mentiu ou isso é má-fé mesmo", acusa o defensor de Youssef.
Iniciadas no
final de setembro, as declarações de Youssef que compõem seu termo de delação
premiada são acompanhadas pelo advogado Tracy Joseph Reinaldet dos Santos, que
atua conjuntamente com Basto.
O Valor PRO apurou
que o alvo principal da operação Lava-Jato disse em conversas informais com
advogados e investigadores, que pessoalmente considerava "muito
difícil" que o presidente da República não tivesse conhecimento de um
esquema que desviaria bilhões de reais da Petrobras para abastecer caixa dois
de partidos e favorecer empreiteiras.
"Todo
mundo lá em cima sabia", teria dito o doleiro, sem, no entanto, citar
nomes ou apresentar provas.
O esquema de
corrupção na diretoria de Abastecimento da Petrobras teria começado em 2005,
segundo a investigação e o interrogatório à Justiça Federal do ex-diretor de
Abastecimento da petrolífera, Paulo Roberto Costa. Era o segundo ano do
primeiro mandato do então presidente Lula. Dilma foi nomeada ministra de Minas
e Energia em 2003.
Segundo a
versão de Costa à Justiça, Lula teria cedido à pressão partidária para nomeá-lo
diretor da Petrobras, sob risco de ter a governabilidade ameaçada pelo
trancamento da pauta do Congresso. "Mesmo que essa declaração do Paulo
Roberto [Costa] seja fato e que a comprovemos nos autos, qual é o crime que
existe nisso?", questiona um dos investigadores da Lava-Jato. "Uma coisa
é a atividade política. Outra é eventual crime dela decorrente. Toda a delação
de Costa e outras que venham a ocorrer serão submetidas ao crivo do inquérito
policial e da devida investigação", esclarece.
A PF também
instaurou inquérito para apurar supostos vazamentos da delação premiada de
Costa.
Investigações
sobre vazamentos podem resultar em processo penal. No dia 21 deste mês, o
deputado federal Protógenes Queiroz (PC do B-SP) foi condenado pela 2ª Turma do
Supremo Tribunal Federal (STF) por violação de sigilo funcional qualificada.
Queiroz, que é delegado da PF, foi responsabilizado por "vazar"
informações da operação Satiagraha, deflagrada em São Paulo em 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi