Ministro do TSE João Otávio de Noronha - Ailton de Freitas / O Globo |
Ministro do
TSE afirmou que falta ‘seriedade’ ao pedido de auditoria de tucanos
Por Cristiane
Jungblut no Globo
BRASÍLIA — O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro João Otávio de Noronha, disse nesta sexta-feira que o PSDB prejudica a imagem do processo eleitoral e democrático do país ao apresentar um pedido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de “auditoria especial” sobre o resultado da eleição do último domingo. Sem esconder a irritação com a atitude do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), coordenador-jurídico da campanha de Aécio Neves, Noronha disse que o Brasil não é a Venezuela ou a Bolívia e que o PSDB não apresentou nenhum fato concreto para questionar o resultado.
— Não somos a
Venezuela, a Bolívia. O Brasil é um país democrático e temos uma Justiça
Eleitoral democrática. Não acredito que o Aécio esteja por trás disso. É muito
negativo para a imagem do processo eleitoral e para o processo democrático.
Estão questionando o próprio processo, ao insinuar que ele está viciado. Sou
corregedor: que me apontem o erro, os vícios — reclamou.
O ministro afirmou inclusive que falta “seriedade” ao pedido dos tucanos.
— O que me
leva a crer na falta de seriedade do pedido é se dizer que seria bom auditar
por causa da rede social, onde se escreve o que se quer. O fato (que embasa o
questionamento) não pode ser fofoca, rede social — disse Noronha, afirmando que
o pedido do PSDB não traz nenhum fato concreto.
Noronha, que
embarcou ontem para Nova York, disse que a oposição nunca havia feito esse tipo
de questionamento antes e acredita que o próprio Aécio poderá sair desgastado
por sua equipe tomar tal atitude. O ministro, no entanto, preferiu atribuir a
iniciativa ao deputado Carlos Sampaio.
— Eles (a
oposição) saíram fortalecidos e acho que agora ele vai sofrer um desgaste. Não
teve problema no passado sobre a seriedade da Justiça brasileira. E talvez por
isso, agora, esteja sim chorando o leite derramado — disse Noronha.
Já o ministro
Gilmar Mendes — integrante do TSE e do Supremo Tribunal Federal — disse que o
corregedor e o próprio TSE deveriam encarar o pedido com “serenidade”. Para
ele, será uma oportunidade de o TSE esclarecer dúvidas e mostrar toda a seriedade
do processo.
— É a
oportunidade de o TSE encerrar os boatos e dialogar com a comunidade. É preciso
serenidade para encarar isso (o pedido). Não é motivo para grande preocupação
(esse pedido). Estou convencido de que o sistema é seguro, mas é preciso convencer
os usuários. Há um imaginário sobre isso, muita lenda urbana — disse Gilmar
Mendes.
Autor do
pedido de auditoria, o deputado Carlos Sampaio afirmou ao GLOBO ter comunicado
sua iniciativa ao candidato derrotado na eleição presidencial, senador Aécio
Neves (PSDB-MG). Segundo Sampaio, Aécio não teria feito nenhuma ponderação para
impedi-lo de seguir adiante.
Sampaio conta
que telefonou a Aécio Neves na quinta-feira, por volta do meio-dia, e que os
dois tiveram uma conversa “rápida”, sem o detalhamento do pedido. Mas que Aécio
não teria colocado qualquer obstáculo para a decisão de seu coordenador
jurídico.
— Eu disse para o Aécio que tinha decidido pedir a auditoria e ele falou: “Carlão, você está na coordenação jurídica nacional, o que você achar que deve fazer, para mim tá bom”. Foi uma conversa muito rápida, de alguns segundos. Não entrei no detalhe jurídico de como isso seria feito, e ele não questionou nada – afirma Sampaio.
Após a
repercussão negativa, inclusive com ministros do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) demonstrando desconforto, Sampaio tentou minimizar o alcance do pedido e
alegou que sua intenção é apenas “tranquilizar” aqueles que questionaram o
resultado.
— Temos
tranquilidade em relação ao resultado, mas não é esse o sentimento de uma
parcela significativa do país. Pedimos essa auditoria para tranquilizar a
população. O ministro Noronha não entendeu. Vou pessoalmente fazer esse
esclarecimento a ele. Não sei como alguém pode entender que isso faz mal ao
TSE. Não apontei uma única fraude ou denúncia, mas tem pessoas coletando
assinaturas para anular a eleição, recebo nas redes sociais milhares de
reclamações e denúncias de fraude. Não é o meu sentimento, mas para quê ver o
país nessa agonia? — questionou.
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