Por David Friedlander da
Folha de S.Paulo
O Banco
Santander demitiu quatro funcionários e, não apenas um, como se imaginava até
agora por causa do polêmico informe
distribuído a clientes VIPs em julho, no qual descreve a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT)
como uma ameaça à economia do país.
Enviada a
correntistas de alta renda, a análise provocou reações agressivas do governo e
do PT, que falaram em terrorismo eleitoral e em boicote contra o banco. O Santander assumiu ter cometido
um erro e pediu desculpas publicamente.
No mercado
financeiro, passou-se a especular que a direção do Santander teria cedido a
pressões e promovido as demissões para acalmar Dilma e seu partido.
"Não recebemos, e nem aceitaríamos, qualquer
tipo de pressão externa para adotar as medidas que tomamos" disse à Folha Marcos
Madureira, vice-presidente de Comunicação, Marketing, Relações Institucionais e
Sustentabilidade do banco.
O executivo
não quis falar sobre o número de demitidos apurado pela Folha. Mas disse
que foram dispensados por
"desrespeitar" o código de conduta interno, que proíbe os
funcionários de fazer "análises e posicionamentos com conteúdo político ou
partidário" em nome do banco.
"O descumprimento dessa diretriz nos colocou
no centro de um debate político, que não nos cabe", afirmou Marcos Madureira.
Os quatro
demitidos eram da área Select, focada nos clientes com renda acima de R$ 10 mil
por mês. A autora da análise, enviada junto com o extrato dos clientes, foi a
gerente de investimentos.
O trecho crítico dizia que, se Dilma melhorasse
nas pesquisas, os juros e o dólar subiriam e a Bolsa cairia.
Os outros três
colegas perderam o emprego porque deixaram o texto passar desse jeito. A mais
graduada era Sinara Polycarpo Figueiredo, superintendente da área.
A Folha não
conseguiu localizar os demitidos. À revista "Exame" Sinara disse:
"Minha trajetória é impecável e bem-sucedida. Portanto, jamais poderá
estar associada a qualquer polêmica".
AGRESSIVIDADE
No mercado
financeiro, houve surpresa com a reação do governo e a agressividade do PT. Em
sabatina promovida pela Folha em parceria com o portal UOL, o SBT e a
rádio Jovem Pan, Dilma disse que
o episódio era "lamentável" e inadmissível".
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a responsável pela análise
não entendia nada de Brasil. "Pode mandar ela embora e dar o bônus dela
para mim".
A Folha conversou
com os presidentes de dois bancos e de um fundo de investimentos estrangeiros.
Eles pediram para não ter seus nomes publicados, mas disseram que o governo
teria usado o episódio para explorar politicamente o papel de vítima do mercado
financeiro.
Afirmam que o
episódio os deixou inseguros e por isso aumentaram os filtros sobre as análises
que produzem, para torná-las "menos enfáticas", como disse um deles.
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