Em 2010, ela
era uma candidata de protesto. Agora, tem chance de ganhar a eleição. Precisa,
no entanto, mostrar ao eleitor que tem propostas sólidas e sabe fazer política
Aline Ribeiro
e Alberto Bombig*
>> Trecho
da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana:
Na madrugada
do dia 30 de agosto de 2009, Marina Silva despertou num quarto de hotel em São
Paulo e não dormiu mais. Ela acabara de romper com o PT – e seus pensamentos
foram tomados por rostos e lembranças de bons amigos com quem, nos últimos 30
anos, dividira uma vida de militância política, lutas e sonhos. Chorou até o
amanhecer. O descontrole era tanto que uma de suas filhas saltou da cama e
seguiu em sua direção. “Mamãe, estou preocupada com você”, disse. Na tentativa
de se recompor, Marina levantou, tomou um banho e fez uma oração. Em algumas
horas, num bufê sofisticado, uma grande festa a esperava para consagrar sua
filiação ao Partido Verde. Marina foi aplaudida de pé por mais de 1.500 pessoas
quando chegou. Ao olhar ao redor, numa busca por feições familiares, sentiu-se
sozinha em meio a uma multidão de desconhecidos.
Na quarta-feira passada, uma semana depois da súbita morte de Eduardo Campos,
Marina se viu em situação semelhante, ao recomeçar em território estranho. Seu
desafio agora é maior, por várias razões. A primeira é que, além de construir
relações fluidas e de confiança dentro de um partido em que nem bem ingressou,
Marina terá de fazê-lo em meio à recente perda do amigo e aliado político.
Pior: sem contar com a proteção dele. Até a tragédia que interrompeu seus
planos políticos, era Campos o maior conciliador dos conflitos (e eles não são
poucos) entre os caciques do PSB e Marina, sua então vice. Sem Campos para
pacificar visões políticas e de mundo tão divergentes, Marina precisará domar suas
convicções para não se tornar vítima delas.
A segunda razão é que, pela primeira vez, Marina Silva aparece com chances
reais de ser presidente da República. Na primeira pesquisa eleitoral posterior
à morte de Campos, feita pelo instituto Datafolha e divulgada no início da
semana passada, Marina aparece em empate técnico com Aécio Neves num cenário de
primeiro turno – 21% contra 20%, para 36% de Dilma Rousseff. Tal cenário
levaria a eleição para o segundo turno – e, nesse caso, ela venceria Dilma por 47%
a 43%. Trata-se de uma situação bem diferente de 2010, quando Marina era uma
espécie de candidata de protesto. Na época, além de empolgar evangélicos e
ecologistas, ela cortejava aqueles que estavam cansados tanto de petistas
quanto de tucanos. Candidatos de protesto podem ser intransigentes em certos
casos, não precisam apresentar propostas viáveis e não precisam de coligações
amplas. Candidatos de verdade precisam ser agregadores e ter propostas
realistas. E aí surge a pergunta: Marina está preparada para ser uma candidata
de verdade?
* com Leandro Loyola
e Marcelo Rocha
Na quarta-feira passada, uma semana depois da súbita morte de Eduardo Campos, Marina se viu em situação semelhante, ao recomeçar em território estranho. Seu desafio agora é maior, por várias razões. A primeira é que, além de construir relações fluidas e de confiança dentro de um partido em que nem bem ingressou, Marina terá de fazê-lo em meio à recente perda do amigo e aliado político. Pior: sem contar com a proteção dele. Até a tragédia que interrompeu seus planos políticos, era Campos o maior conciliador dos conflitos (e eles não são poucos) entre os caciques do PSB e Marina, sua então vice. Sem Campos para pacificar visões políticas e de mundo tão divergentes, Marina precisará domar suas convicções para não se tornar vítima delas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi