Centro da
atual crise de segurança pública que vive o Maranhão, o sistema penitenciário
do Estado enfrenta problemas que foram diagnosticados há, pelo menos, meia
década, pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário, que
funcionou na Câmara dos Deputados. Superlotação, instalações inadequadas, falta
de higiene, deficiência na vigilância e déficit de defensores públicos foram
apontados como algumas das causas da crise no setor.
Criada em
2007, a CPI percorreu os 26 Estados mais o Distrito Federal e traçou um
diagnóstico do sistema prisional do País. No capítulo dedicado ao Maranhão, a
CPI informou que, em 2008, quando foi aprovado o relatório final dos trabalhos,
o Estado tinha 5.258 presos para apenas 1.716 vagas, com déficit de 3.542
lugares.
A falta de
ações concretas para mudar esse quadro culminou nos problemas enfrentados nas
últimas semanas pelo Maranhão e, em especial, pela capital São Luís. Segundo
autoridades estaduais, partiu de dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas,
o maior do Estado, a ordem para os ataques a ônibus e delegacias de polícia
ocorridos na noite da última sexta-feira.
A ação foi uma
resposta dos criminosos às mudanças impostas pela Polícia Militar e pela Força
Nacional de Segurança no interior do presídio onde, segundo o Conselho Nacional
de Justiça (CNJ), ao menos 60 presos foram assassinados em 2013. Neste ano,
dois detentos foram mortos.
"O que
ocorre hoje é o que chamo de tragédia anunciada. O governo não tomou as
providências que a CPI recomendou, e agora o negócio explodiu", disse à
Agência Brasil o deputado Domingos Dutra (SDD-MA), que foi relator da CPI.
"O sistema está apodrecido. Estão misturados presos que cometeram homicídio
no interior (do Estado), com chefes de tráfico e quadrilha da capital. Estão
misturando toda a espécie de criminosos em um caldeirão. Presos jovens com mais
velhos, violentos com ladrões de galinha, só pode dar nisso", acrescentou
Dutra.
Em fevereiro
de 2008, a CPI esteve no Maranhão e fez diligências na Penitenciária de
Pedrinha, na Central de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ), na Casa de
Detenção Masculina e na Delegacia Especial de Paço do Lumiar, para mulheres. Em
todos os locais, a mesma realidade: superlotação e condições desumanas. "O
local é um horror: sujo, fétido, insalubre", diz trecho do relato sobre o
Centro de Custódia, localizado no bairro do Anil.
Sobre
Pedrinhas, a CPI disse que "vários internos apresentaram marcas de
espancamentos, denunciando práticas constantes de tortura". Além disso,
relatou que a unidade é antiga e "inadequada" e que o prédio é
"velho" e em manutenção. "As paredes são sujas, os
corredores escuros e há lixo em abundância. Doentes presos com HIV e
tuberculose em celas coletivas revelam ausência de assistência médica",
diz trecho do relatório final do colegiado.
De lá pra cá,
quase nada mudou, ressalta Dutra. "No Maranhão, 98% dos presos não
trabalham e não estudam. A superlotação é muito grande. A mistura de presos é
absurda. Só tirar os líderes para outros presídios não resolve o
problema", disse. Além disso, acrescentou Dutra, o governo estadual
deveria investir na ressocialização dos detentos.
Para o relator
da CPI do Sistema Carcerário, as disputas políticas no Estado e a proximidade
com as eleições têm dificultado a implementação de medidas necessárias. Na
avaliação de Dutra, que sempre fez oposição à governadora Roseana Sarney, há a
necessidade de "normalização do estado político" local.
A reportagem
tentou contato, por telefone, com a Secretaria de Comunicação do governo do
Maranhão, mas não obteve retorno até a publicação da matéria. O relatório final
da CPI está disponível na internet.
Agência Brasil
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