Por Leandro
Roque,
Primeiro
passo:
mantenha no Ministério da Fazenda um indivíduo que não sabe a diferença entre
câmbio fixo e câmbio flutuante, que acha que a "carestia" se combate
manipulando alíquotas de imposto, e que passou toda a sua vida pública defendendo
explicitamente a ideia de que "mais inflação gera mais
crescimento".
Segundo
passo: dê a
este cidadão o controle total da economia, transformando-o em um genuíno czar.
Terceiro
passo:
coloque na presidência do Banco Central um sujeito completamente submisso,
inócuo e apagado, sem nenhum histórico fora da burocracia estatal, sem voz
própria e sem nenhuma presença impositiva. Para garantir que este cidadão
não passará aos mercados a "perigosa impressão" de ser um sujeito
vigoroso e durão no trato dos juros, escolha um indivíduo de aparência cômica,
de rosto rotundo, fala mansa e com uma vultosa protuberância ventral (não, isso
não é um ad hominem; pode parecer besteira, mas em um ramo que denota
extrema autoridade, como o de estar no controle da moeda do país, a aparência e
a postura são fundamentais para se transmitir confiança. Compare o
grandalhão e charuteiro Paul
Volcker, de voz firme e gestos decididos, ao delicado e vacilante Ben
Bernanke, de voz macia e gestos hesitantes, e veja a diferença entre o respeito
que cada um deles impõe. Ou compare Henrique Meirelles e Gustavo Franco a
Alexandre Tombini).
Quarto
passo:
ordene a este desmoralizado cidadão que ele seja totalmente submisso às ordens
expedidas pelo bufão que ocupa o Ministério da Fazenda, desta forma
transformando aquele ministro no real presidente do Banco Central, e o
presidente do Banco Central em uma mera marionete que está ali apenas para
passar a impressão de que o Banco Central possui alguma independência.
Quinto
passo: com
grande frequência, coloque esta dupla para dizer aos jornais que o governo não
medirá esforços para derrubar os juros bancários, estimular o crédito (leia-se:
o endividamento e o consumismo) e desvalorizar o real em relação ao dólar.
Sexto
passo: feche
os portos aumentando as alíquotas de importação de praticamente todos os
produtos estrangeiros: de automóveis a produtos têxteis; de calçados e
brinquedos a artefatos de madeira, de palha e de cortiça; de lâmpadas e sapatos
chineses a pneus, batata, tijolos, vidros e vários tipos de máquinas; de
reatores para lâmpadas a vagões de carga; de triciclos, patinetes, bonecos,
trens elétricos e quebra-cabeças a produtos lácteos (leite integral, leite
parcialmente desnatado e queijo muçarela) e pêssegos. (Sério, está tudo aqui eaqui).
Sétimo
passo: diga
a todas as grandes empresas do país que elas são obrigadas a produzir
utilizando uma determinada porcentagem de insumos fabricados no Brasil.
Oitavo
passo: peça
encarecidamente aos privilegiados fabricantes destes insumos que não se
aproveitem deste monopólio para aumentar seus preços (eles obviamente não
atendem ao seu pedido).
Nono
passo: para
ajudar as grandes empresas a adquirir estes agora mais caros insumos, e
simultaneamente para ajudá-las em seus projetos de investimento, libere o BNDES
para lhes emprestar dinheiro público a rodo, tudo a juros subsidiados. E
como o BNDES não tem todo esse dinheiro, peça ao Tesouro para arrecadar mais
dinheiro emitindo títulos da dívida, fazendo com que a dívida bruta do país
chegue a R$ 2,823 trilhões em dezembro de 2012.
Décimo
passo: para
comprar estes títulos emitidos pelo Tesouro, o sistema bancário cria dinheiro
do nada, pois opera com reservas fracionárias. Essa inflação monetária,
somada a toda a expansão do crédito já feita para estimular o consumismo
(expansão essa que também é feita por meio da criação de dinheiro pelos
bancos), aumenta enormemente a quantidade de dinheiro na economia, aditivando o
aumento generalizado dos preços.
Décimo
primeiro passo:
para conter toda a escalada de preços gerada por estas medidas
intervencionistas, pela expansão monetária e pela desvalorização cambial,
comece a mexer nas alíquotas de impostos que incidem sobre vários produtos na
esperança de mascarar seu encarecimento. Peça para as empresas de energia
elétrica reduzirem suas tarifas e ordene à estatal petrolífera que não suba
seus preços (embora ela também seja obrigada a utilizar insumos nacionais mais
caros em suas plataformas).
Décimo
segundo passo:
consiga a façanha de fazer com que essa petrolífera estatal, que detém as
melhores jazidas de petróleo do país, produza
menos petróleo do que no ano anterior. E que ela perca 40%
do seu valor em três anos.
Décimo
terceiro passo:
faça cara de paisagem (mas com muito laquê) para o fato de que, em apenas 2
anos de governo, o índice de preços oficial — cuja metodologia é pra lá de branda
— já acumulou um aumento de 14%. (A título de comparação, a economia
suíça precisa de 14 anos para acumular este mesmo aumento inflacionário).
Após tudo
isso, diga que tudo de ruim é culpa da crise europeia (ou, quando possível,
daquele cidadão que saiu da presidência no final de 2002), e que tudo de bom
que continua funcionando é mérito exclusivamente seu. Desfrute de mais de
80% de aprovação de um povo incapaz de estabelecer uma relação de causa e
efeito.
Leandro
Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises
Brasil.
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