segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A estagnação de Dilma e a cristianização de Aécio

Por Aldo Fornazieri* no GGN
As últimas pesquisas de avaliação e de intenção de voto apontam para uma lenta recuperação, praticamente uma estagnação, no desempenho do governo e da presidente Dilma. A pesquisa CNT/MDA, divulgada na semana passada, mostra que a avaliação positiva do governo subiu de 38,1% em setembro, para 39%. O desempenho pessoal da presidente subiu de 58% para 58,8%. Na intenção de voto estimulada, Dilma aparece com 43,5%, Aécio Neves com 19,3% e Eduardo Campos com 9,5%. Num segundo cenário, ela fica com 40,6%, Marina Silva com 22,6% e Aécio com 16,5%. Em todos os cenários de segundo turno, Dilma venceria as eleições.

Por indicar que Dilma venceria no primeiro turno, a pesquisa pode mascarar uma situação de falso conforto da presidente. Ela deverá chegar, de fato, nas eleições presidenciais na condição de favorita. Mas a conjuntura apresenta turbulências e algumas incertezas que poderão complicar a reeleição. Com três candidaturas competitivas, dificilmente Dilma vencerá no primeiro turno. E um segundo turno, dependendo do desdobramento do processo eleitoral, poderá implicar numa batalha muito dura com o adversário e complicações para a reeleição. Note-se que em novembro de 2009, um ano antes das eleições, a avaliação positiva do governo Lula era de 70%. Mesmo assim, houve segundo turno em 2010.

Turbulências e incertezas

As turbulências dizem respeito ao próprio desempenho do governo. Na área econômica, as ambigüidades, as indecisões e as emissões de sinais errados aprofundaram as incertezas dos agentes econômicos, fator que agrava a possibilidade de um crescimento mais vigoroso. Porquanto, o crescimento forte era o núcleo do discurso e o objetivo central do governo, as medidas que foram tomadas agiram contra esse próprio objetivo. O resumo dos números que geram incertezas e desconfianças em relação ao governo são os seguintes: relação dívida/PIB acima de 60% e com tendência de alta; déficit em conta corrente em torno de 3,6%; inflação instável em torno de 6% e com alguns preços reprimidos, como é o caso do preço da gasolina. O governo parece ter adotado uma postura esquizofrênica em relação a esses fatos: ao invés de reconhecê-los e engajar-se positivamente para enfrentá-los nega o princípio da realidade com ambigüidades e tergiversações. Alem de aumentar as incertezas, essa conduta erode a confiança na condução econômica.

As possíveis aprovações do Orçamento Impositivo e da renegociação da dívida dos Estados e Municípios no Congresso sinalizam um relaxamento para com a Lei de Responsabilidade Fiscal. O governo Dilma emitiu vários sinais que permitem classificá-lo como um governo não prudente, pois o princípio básico da prudência governamental é o equilíbrio fiscal. 

No campo social a situação não é mais confortável. De acordo com a pesquisa CNT/MDA, a Saúde, com 87,4%, continua, disparado, o setor que mais precisa melhorias urgentes aos olhos da população. O programa “Mais Médicos”, em que pese o apoio popular, ainda não surtiu efeitos práticos. A Segurança tornou-se preocupação para 91,5% dos brasileiros – área que mais causa apreensões. Não é para menos. Dados divulgados na semana passada pelo Anuário Estatístico de Segurança Pública mostram que em 2012 ocorreram 50 mil mortes por homicídio. Outra pesquisa revelou que 70% das pessoas não confiam nas polícias. Esses dados negativos da segurança pública atingem também o governo federal, pois não há um esforço significativo da parte do mesmo para enfrentar o problema. Programas nessa área, como o combate ao crak, não passam de fracassos. A reforma política é apontada como a reforma mais urgente. A pesquisa revela ainda que as preocupações com a inflação, com o custo de vida, com as dívidas pessoais e com o desemprego são altas – todas acima de 50%. Estes dados são reveladores da intranquilidade dos brasileiros. A situação para Dilma só não é mais complicada porque o emprego e a renda se mantêm estáveis.

As manifestações de junho e os protestos que se sucederam, além de apontar para a crise dos serviços urbanos, trouxeram à tona os limites dos programas de inclusão social, a exemplo do Bolsa Família. Os protestos expuseram o quanto o Brasil ainda está longe de uma sociedade de direitos sociais efetivos, uma sociedade equitativa, justa e equilibrada. A violência nos protestos nas periferias, nas desocupações, na repressão a camelôs e com os Black Blocs é um sintoma da intranqüilidade, da crise de perspectivas do país e do esgarçamento das instituições. Além da tragédia da segurança pública, chama a atenção o dado de que 83% dos brasileiros se declaram preocupados com a corrupção. O ano de 2014 será marcado também pelo imponderável de novas manifestações num contexto em que nem Dilma e nem a oposição conseguem apontar claramente uma direção e um sentido para o país, circunstância reveladora da crise política e de liderança por que passa o Brasil.

A cristianização de Aécio Neves

Se a situação de Dilma não é confortável, a das oposições não é melhor. O cenário sucessório não está ainda plenamente definido. No PSB, Campos poderá ceder seu lugar para Marina Silva se não conseguir encorpar suas intenções de voto. No PSDB, corre-se grande risco no governo de Minas Gerais. Sem Aécio e sem Anastasia na disputa, o PT poderá crescer e levar o governo do Estado, além de ajudar Dilma na disputa presidencial. Em São Paulo, embora favorito, o governador Geraldo Alckmin deverá disputar uma eleição difícil.

Mas o que mais atrapalha o PSDB neste momento são as disputas internas e sinais prematuros de cristianização da candidatura de Aécio Neves. O termo “cristianização” decorre da situação enfrentada por Cristiano Machado, candidato à presidência da República em 1950, pelo Partido Social Democrático. No decurso da campanha, os correligionários o abandonaram para apoiar a candidatura de Getúlio Vargas.

No presente momento, setores do PSDB, particularmente em São Paulo e no Paraná, indicam que poderão abrir espaços para Eduardo Campos em seus palanques estaduais. Isto seria fatal para Aécio Neves, pois quebraria a confiança em sua candidatura. Aécio Neve e Eduardo Campos serão adversários diretos na disputa por uma vaga no segundo turno. Quem piscar nesta percepção deverá definir uma estratégia eleitoral equivocada e perderá pontos.

Os motivos da cristianização de Aécio ainda não estão claros. Especula-se com sua possível substituição por José Serra. De fato, Serra pode estar vendo nas eleições de 2014 sua última oportunidade de chegar à presidência da República. Ou é isso ou é contentar-se com uma candidatura a deputado federal ou senador. Setores do PSDB dizem que Aécio não inspira confiança em parte do partido e em parcelas da sociedade. Teria dificuldade de viabilizar-se como candidato competitivo. Se Campos se viabilizar eleitoralmente, poderá tornar-se o “plano C” também de parte dos tucanos.

É verdade que Campos tem uma estrutura menor de campanha se comparado com Dilma e Aécio. Mas é preciso olhar para a conjuntura. Setores sociais significativos não estão satisfeitos com o atual estado de coisas e querem mudanças. Campos, mais do que Aécio, poderá viabilizar-se como representante das mudanças. Para crescer, Campos terá que concentrar-se menos na crítica ao presente dos petistas e ao passado dos tucanos e mais no que será capaz de oferecer como novo e promissor para o futuro. Só empolgará se desencadear as esperanças recolhidas da sociedade, se quebrar esta crise de perspectivas e se for capaz de apontar rumo e sentido para o país.

*Aldo Fornazieri – Cientista Político e professor da Escola de Sociologia e Política


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