Por Aldo
Fornazieri* no GGN
As últimas
pesquisas de avaliação e de intenção de voto apontam para uma lenta
recuperação, praticamente uma estagnação, no desempenho do governo e da
presidente Dilma. A pesquisa CNT/MDA, divulgada na semana passada, mostra que a
avaliação positiva do governo subiu de 38,1% em setembro, para 39%. O
desempenho pessoal da presidente subiu de 58% para 58,8%. Na intenção de voto
estimulada, Dilma aparece com 43,5%, Aécio Neves com 19,3% e Eduardo Campos com
9,5%. Num segundo cenário, ela fica com 40,6%, Marina Silva com 22,6% e Aécio
com 16,5%. Em todos os cenários de segundo turno, Dilma venceria as eleições.
Por indicar
que Dilma venceria no primeiro turno, a pesquisa pode mascarar uma situação de
falso conforto da presidente. Ela deverá chegar, de fato, nas eleições
presidenciais na condição de favorita. Mas a conjuntura apresenta turbulências
e algumas incertezas que poderão complicar a reeleição. Com três candidaturas
competitivas, dificilmente Dilma vencerá no primeiro turno. E um segundo turno,
dependendo do desdobramento do processo eleitoral, poderá implicar numa batalha
muito dura com o adversário e complicações para a reeleição. Note-se que em
novembro de 2009, um ano antes das eleições, a avaliação positiva do governo
Lula era de 70%. Mesmo assim, houve segundo turno em 2010.
Turbulências e
incertezas
As
turbulências dizem respeito ao próprio desempenho do governo. Na área
econômica, as ambigüidades, as indecisões e as emissões de sinais errados
aprofundaram as incertezas dos agentes econômicos, fator que agrava a
possibilidade de um crescimento mais vigoroso. Porquanto, o crescimento forte
era o núcleo do discurso e o objetivo central do governo, as medidas que foram
tomadas agiram contra esse próprio objetivo. O resumo dos números que geram
incertezas e desconfianças em relação ao governo são os seguintes: relação
dívida/PIB acima de 60% e com tendência de alta; déficit em conta corrente em
torno de 3,6%; inflação instável em torno de 6% e com alguns preços reprimidos,
como é o caso do preço da gasolina. O governo parece ter adotado uma postura
esquizofrênica em relação a esses fatos: ao invés de reconhecê-los e engajar-se
positivamente para enfrentá-los nega o princípio da realidade com ambigüidades
e tergiversações. Alem de aumentar as incertezas, essa conduta erode a
confiança na condução econômica.
As possíveis
aprovações do Orçamento Impositivo e da renegociação da dívida dos Estados e
Municípios no Congresso sinalizam um relaxamento para com a Lei de
Responsabilidade Fiscal. O governo Dilma emitiu vários sinais que permitem
classificá-lo como um governo não prudente, pois o princípio básico da
prudência governamental é o equilíbrio fiscal.
No campo
social a situação não é mais confortável. De acordo com a pesquisa CNT/MDA, a
Saúde, com 87,4%, continua, disparado, o setor que mais precisa melhorias
urgentes aos olhos da população. O programa “Mais Médicos”, em que pese o apoio
popular, ainda não surtiu efeitos práticos. A Segurança tornou-se preocupação
para 91,5% dos brasileiros – área que mais causa apreensões. Não é para menos.
Dados divulgados na semana passada pelo Anuário Estatístico de Segurança
Pública mostram que em 2012 ocorreram 50 mil mortes por homicídio. Outra
pesquisa revelou que 70% das pessoas não confiam nas polícias. Esses dados
negativos da segurança pública atingem também o governo federal, pois não há um
esforço significativo da parte do mesmo para enfrentar o problema. Programas
nessa área, como o combate ao crak, não passam de fracassos. A reforma política
é apontada como a reforma mais urgente. A pesquisa revela ainda que as
preocupações com a inflação, com o custo de vida, com as dívidas pessoais e com
o desemprego são altas – todas acima de 50%. Estes dados são reveladores da
intranquilidade dos brasileiros. A situação para Dilma só não é mais complicada
porque o emprego e a renda se mantêm estáveis.
As
manifestações de junho e os protestos que se sucederam, além de apontar para a
crise dos serviços urbanos, trouxeram à tona os limites dos programas de
inclusão social, a exemplo do Bolsa Família. Os protestos expuseram o quanto o
Brasil ainda está longe de uma sociedade de direitos sociais efetivos, uma
sociedade equitativa, justa e equilibrada. A violência nos protestos nas
periferias, nas desocupações, na repressão a camelôs e com os Black Blocs é um
sintoma da intranqüilidade, da crise de perspectivas do país e do esgarçamento
das instituições. Além da tragédia da segurança pública, chama a atenção o dado
de que 83% dos brasileiros se declaram preocupados com a corrupção. O ano de
2014 será marcado também pelo imponderável de novas manifestações num contexto
em que nem Dilma e nem a oposição conseguem apontar claramente uma direção e um
sentido para o país, circunstância reveladora da crise política e de liderança
por que passa o Brasil.
A
cristianização de Aécio Neves
Se a situação
de Dilma não é confortável, a das oposições não é melhor. O cenário sucessório
não está ainda plenamente definido. No PSB, Campos poderá ceder seu lugar para
Marina Silva se não conseguir encorpar suas intenções de voto. No PSDB,
corre-se grande risco no governo de Minas Gerais. Sem Aécio e sem Anastasia na
disputa, o PT poderá crescer e levar o governo do Estado, além de ajudar Dilma
na disputa presidencial. Em São Paulo, embora favorito, o governador Geraldo
Alckmin deverá disputar uma eleição difícil.
Mas o que mais
atrapalha o PSDB neste momento são as disputas internas e sinais prematuros de
cristianização da candidatura de Aécio Neves. O termo “cristianização” decorre
da situação enfrentada por Cristiano Machado, candidato à presidência da
República em 1950, pelo Partido Social Democrático. No decurso da campanha, os
correligionários o abandonaram para apoiar a candidatura de Getúlio Vargas.
No presente
momento, setores do PSDB, particularmente em São Paulo e no Paraná, indicam que
poderão abrir espaços para Eduardo Campos em seus palanques estaduais. Isto
seria fatal para Aécio Neves, pois quebraria a confiança em sua candidatura.
Aécio Neve e Eduardo Campos serão adversários diretos na disputa por uma vaga
no segundo turno. Quem piscar nesta percepção deverá definir uma estratégia
eleitoral equivocada e perderá pontos.
Os motivos da
cristianização de Aécio ainda não estão claros. Especula-se com sua possível
substituição por José Serra. De fato, Serra pode estar vendo nas eleições de
2014 sua última oportunidade de chegar à presidência da República. Ou é isso ou
é contentar-se com uma candidatura a deputado federal ou senador. Setores do
PSDB dizem que Aécio não inspira confiança em parte do partido e em parcelas da
sociedade. Teria dificuldade de viabilizar-se como candidato competitivo. Se
Campos se viabilizar eleitoralmente, poderá tornar-se o “plano C” também de
parte dos tucanos.
É verdade que
Campos tem uma estrutura menor de campanha se comparado com Dilma e Aécio. Mas
é preciso olhar para a conjuntura. Setores sociais significativos não estão
satisfeitos com o atual estado de coisas e querem mudanças. Campos, mais do que
Aécio, poderá viabilizar-se como representante das mudanças. Para crescer,
Campos terá que concentrar-se menos na crítica ao presente dos petistas e ao passado
dos tucanos e mais no que será capaz de oferecer como novo e promissor para o
futuro. Só empolgará se desencadear as esperanças recolhidas da sociedade, se
quebrar esta crise de perspectivas e se for capaz de apontar rumo e sentido
para o país.
*Aldo
Fornazieri – Cientista Político e professor da Escola de Sociologia e Política
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