Jornalistas Sérgio Aspahan e Márcio Godinho lançam livro baseado em relatos escritos na época da ditadura militar
Em 1976, época em que o Brasil encontrava-se na ditadura militar, dois jovens de 19 anos, Sérgio Aspahan e Márcio Godinho, desbravaram cidades do Norte e Nordeste brasileiros divulgando o jornal de esquerda “Movimento” e registrando toda a experiência. Depois de 37 anos, os diários foram reabertos e tornaram-se base para o livro “Mochileiros nos Anos de Chumbo – Diário de Viagem de Dois Estudantes de Jornalismo no Brasil da Ditadura Militar”, que será lançado hoje na livraria Leitura Pátio.
O livro é uma reinterpretação dos relatórios do cotidiano escritos durante a viagem de quatro meses dos então estudantes de jornalismo da PUC Minas e da UFMG. Todo o conteúdo está distribuído em 344 páginas compostas por textos, fotos e recortes de jornais além de relatos descritivos sobre cada um dos dias em que eles passaram por 54 cidades. O foco da obra, porém, é outro. “Quando decidimos fazer o livro, optamos por dar um enfoque político. Por isso, fizemos uma releitura dos diários acrescentando muita pesquisa”, conta um dos autores, Sérgio Aspahan.
Assim, as primeiras páginas da obra apresentam informações sobre o Golpe de 1964, o movimento estudantil, os setores progressistas da Igreja Católica e a imprensa alternativa da época. A intenção, segundo Sérgio, é mostrar a realidade da ditadura militar brasileira para os leitores.
“É importante que as pessoas, principalmente os jovens de hoje, entendam o contexto político da ditadura militar. Em Diamantina, quando apresentamos o livro em um debate, fiquei impressionado com a quantidade de questionamentos dos jovens sobre o período”, relata Sérgio.
OUTRO A história da viagem contou com um terceiro personagem que não era de carne e osso, mas que acompanhou os amigos na trajetória. O jornal “Movimento”, um dos poucos de esquerda que circulavam naquele período, foi fundado por Fernando Gasparian e contou com a colaboração do artista Chico Buarque, do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, do indigenista Orlando Villas-Bôas e do novelista Aguinaldo Silva. Todos esses e outros nomes deram vida ao semanário que impulsionaria a viagem de Sérgio e Márcio.
Tudo começou quando a dupla foi incentivada a vender assinaturas do jornal por representantes e a escrever artigos para o mesmo. Sérgio e Márcio empolgaram-se ainda mais para fazer a viagem com a possibilidade de custeá-la por meio das vendas. Além disso, eram apreciadores das ideias contra a ditadura divulgadas na publicação. “O jornal ‘Movimento’ existiu de 1975 a 1981. Até 1978, sob censura prévia”, conta Sérgio.
No livro, os escritores revelam também os cenários e costumes das cidades que visitaram, por meio de uma linguagem objetiva que foi usada intencionalmente pela dupla. “Optamos por ser mais coloquiais ao transcrever o conteúdo dos diários, para facilitar aos leitores o acesso às informações”, revela Sérgio.
Um passeio por fatos curiosos da obscuridade dos tempos da ditadura militar também faz parte da obra. Entre os assuntos abordados nesse âmbito, as mortes dos generais Costa e Silva, Castelo Branco, João Goulart e Juscelino Kubitschek.
Depois do lançamento em Belo Horizonte, os amigos partem para mais uma jornada. O livro está previsto para ser lançado em outras 11 capitais. Além disso, eles preparam-se para divulgar suas ideias em ambientes acadêmicos. “Queremos realizar diversas palestras em escolas e universidades para discutir a situação do jornalismo hoje”, antecipa Sérgio.
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