Antes mesmo
que o projeto chegue ao Senado, começa na Casa o debate a respeito do Marco
Civil da Internet. Em duas audiências, uma na terça (27) e outra na
quinta-feira (29), os senadores da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação,
Comunicação e Informática (CCT) vão ouvir as opiniões de especialistas, de
representantes do governo e das empresas de telecomunicação e de tecnologia a
respeito do projeto (PL
2.126/2011) que estabelece os direitos e deveres básicos dos internautas.
Pessoas de
todo o país podem enviar perguntas e comentários para as audiências, desde já,
por meio do portal e-Cidadania. Também é possível a interação peloFacebook, pelo Twitter e pelo
Alô Senado (0800-612211).
Relatada pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ), a proposta ainda não foi votada na Câmara dos Deputados por falta de acordo. Os dispositivos que tratam da chamada “neutralidade da rede”, da privacidade do usuário e do armazenamento de dados do internauta sofrem oposição das empresas de telecomunicações e de tecnologia. Esses pontos, além da espionagem de dados de internautas brasileiros feita pelo governo americano, devem estar no centro dos debates da CCT.
Relatada pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ), a proposta ainda não foi votada na Câmara dos Deputados por falta de acordo. Os dispositivos que tratam da chamada “neutralidade da rede”, da privacidade do usuário e do armazenamento de dados do internauta sofrem oposição das empresas de telecomunicações e de tecnologia. Esses pontos, além da espionagem de dados de internautas brasileiros feita pelo governo americano, devem estar no centro dos debates da CCT.
O projeto de
Marco Civil da Internet foi apresentado pelo governo em 2011, tendo como base o
documento “Princípios para a governança e o uso da internet”, do Comitê Gestor
da Internet no Brasil (CGI.br), que passou por consulta pública entre 2009 e
2010. O texto reconhece que o acesso à internet é essencial ao exercício da
cidadania e estabelece que a disciplina do uso da rede no país deve ser
norteada pela defesa da liberdade de expressão e de manifestação de pensamento,
pela proteção da privacidade e pela preservação da segurança, da estabilidade e
da natureza participativa da rede. Também são especificados no PL 2126/2011 os
objetivos da lei, sendo os principais a universalização do direito de acesso à
internet e a promoção da inovação na área.
Entre os
direitos assegurados aos internautas, o projeto menciona a inviolabilidade e o
sigilo de suas comunicações, exceto em caso de ordem judicial; a não suspensão
do acesso à internet, a não ser por falta de pagamento do serviço; a manutenção
da qualidade contratada; a clareza e transparência nos contratos; e a proteção
dos dados de acesso e uso da rede, que não poderão ser fornecidos a terceiros,
exceto com prévio consentimento do usuário.
Pontos
polêmicos
Os pontos mais
polêmicos são os que estabelecem deveres para as empresas que lidam com
internet: provedores de acesso, operadoras de telefonia celular e sites em
geral. O princípio da neutralidade da rede obriga o tratamento isonômico de
qualquer pacote de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço
ou aplicativo, proibindo discriminar ou degradar o tráfego em decorrência
disso. Operadoras de celular alegam que esse ponto prejudica seu modelo de
negócios: muitas delas vendem pacotes de tráfego de dados que permitem o acesso
somente a sites e serviços específicos, como e-mail e redes
sociais, bloqueando o acesso a páginas em geral. Com o projeto, isso não seria
mais permitido. Elas argumentam também que o usuário acabaria prejudicado, por
ter menos opções de pacotes para contratar.
As empresas de
telecomunicação também se queixam das regras relativas à privacidade do
usuário. O projeto proíbe o armazenamento desses dados por parte dos provedores
de acesso, mas, segundo essas companhias, não impede que grandes sites como
Google e Facebook façam o mesmo.
Outro artigo
que gera controvérsias é o que corresponsabiliza os sites por danos decorrentes
de conteúdos gerados por terceiros nos casos em que não for cumprida ordem
judicial para apagar o conteúdo infringente. Ou seja, um site como o
Youtube poderá ser responsabilizado caso seja notificado judicialmente para
tornar indisponível algum vídeo, mas não o fizer em tempo hábil.
Já empresas
como Facebook criticam uma proposta que não consta do projeto original, mas
cuja inclusão é defendida pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo: o
armazenamento dos dados dos internautas brasileiros em território nacional. Em
audiência na Câmara dos Deputados no dia 14 de agosto, ele propôs a medida como
forma de dificultar ações como a espionagem feita pelo governo americano e
denunciada recentemente pelo ex-agente de inteligência Edward Snowden. No dia
seguinte, em audiência no Senado sobre o mesmo assunto, o representante do
Facebook, Bruno Magrani, disse que o alto custo de manter bancos de dados no
Brasil pode inviabilizar a atuação de muitas empresas de internet no país.
Direitos
Humanos
Apesar das
controvérsias, em maio, o projeto ganhou um importante apoio: o cientista
britânico Tim Bernes-Lee, considerado o “pai da web”, elogiou
a proposta durante uma conferência no Rio de Janeiro, dizendo que o
Brasil está à frente dos demais países por discutir o tema sob a perspectiva dos
direitos humanos.
O autor do
requerimento para a realização dos debates é o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).
Foram convidados para a audiência de terça-feira o presidente da Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel), João Batista de Rezende; o secretário de
telecomunicações do Ministério das Comunicações, Maximiliano Martinhão; o
secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Marivaldo de
Castro Pereira; o diretor técnico da Associação Brasileira de Emissoras de
Rádio e Televisão (Abert), José Francisco de Araújo Lima; e a advogada do
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Veridiana Alimonti.
Para a
audiência de quinta-feira são esperados o relator do projeto na Câmara,
deputado Alessandro Molon; o diretor de políticas públicas do Google Brasil,
Marcel Leonardi; o diretor-presidente do Núcleo de Informação e
Coordenação do Ponto BR (NIC.br), Demi Getschko; o professor Carlos Affonso
Pereira, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ); o
diretor-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço
Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil), Eduardo Levy Cardoso Moreira; e o
presidente do Conselho Consultivo Superior da Associação Brasileira de Internet
(Abranet), Eduardo Parajo.
As duas
audiências públicas estão marcadas para as 8h15, nas respectivas datas, na sala
2 da Ala Senador Nilo Coelho.
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