Há um sentimento de frustração na economia. Os dados decepcionantes
divulgados ao longo do ano derrubaram o ânimo dos empresários e dos
consumidores brasileiros e levaram os índices de confiança para o nível de 2008
e 2009, quando o mundo sentiu os impactos da crise internacional.O aumento nos
indicadores de confiança virou peça-chave na tentativa de acelerar o
crescimento econômico. A falta de confiança faz os empresários deixarem de
investir e os consumidores pouparem com medo do que virá pela frente, o que
prejudica ainda mais as expectativas do crescimento brasileiro.
"O ano começou com uma expectativa de crescimento mais forte, mas
os indicadores não estão decolando. Atualmente, se percebe também um mercado de
trabalho menos favorável e os juros estão subindo. Tudo isso tem uma
retroalimentação (para o enfraquecimento da confiança)", diz o economista
do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre),
Aloisio Campelo. As sondagens do instituto mostram a confiança do consumidor,
indústria e serviços no nível de 2009.
A queda de confiança na economia ligou o sinal de alerta no governo, que
aumentou a carga do discurso para dissipar a desconfiança. No início do mês, no
Rio Grande do Sul, a presidente Dilma Rousseff comemorou o baixo resultado do
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho e garantiu que a
inflação está sob controle. Na sexta-feira, em São Paulo, o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, afirmou que análises mais pessimistas não têm
fundamento.
Causas
O comportamento da confiança entre consumidores e empresários têm motivações
diferentes. Para o consumidor, pesou mais a inflação elevada e uma preocupação
com o crescimento do desemprego. Em julho, o Índice Nacional de Expectativa do
Consumidor (Inec) ficou em 110 pontos e apresentou estabilidade em relação a
junho (110,1), segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A pesquisa verificou, porém, que a expectativa em relação à inflação
ficou no nível mais baixo desde 2001. Do lado do empresário, o desempenho da
atividade econômica é o que preocupa mais. "A queda de confiança do
consumidor tem se refletido nas vendas, principalmente na venda a prazo",
afirma o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, Roque
Pellizzaro Junior.
Na visão de alguns analistas, a forte queda de confiança surpreende
porque o Brasil ainda cresce e o mercado de trabalho não foi fortemente afetado
pela desaceleração econômica - não estamos numa recessão.
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do município de São Paulo teve
em julho a sexta queda consecutiva. Numa escala de 0 a 200, o indicador,
apurado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São
Paulo
(Fecomércio-SP), ficou em 136,7 pontos - uma queda de 14,8% no período de 12
meses. "Uma confiança ruim do consumidor vai tornar mais difícil uma recuperação
econômica", afirma Fabio Pina, economista da Fecomércio-SP.
Protestos
A piora refletida nos indicadores de confiança teve um fator adicional.
Em junho e julho, as manifestações nas principais cidades brasileiras revelaram
a insatisfação da população com a classe política. Levantamento do Ibre/FGV
mostra que 35,2% das empresas foram afetadas pelas manifestações. O comércio
foi o setor mais impactado pelos protestos, com 46,7%, seguido dos serviços
(36,1%), indústria (28%) e construção (23,5%).
Pessimismo com o Brasil aumenta também no exterior
A falta de confiança com a economia brasileira também aumentou no
ambiente externo e ficou evidente no comportamento do chamado risco país do
Brasil. O credit default swap (CDS) do Brasil – indicador que mede o quanto os
investidores pagam por um seguro contra calote de papéis públicos do País – se
descolou da média dos índices de Colômbia, Peru, Chile e México. Na
quinta-feira, o índice do Brasil ficou 70 pontos acima da média dos quatro
países, mostra compilação da Tendências Consultoria.
O início do descolamento começou no segundo semestre de 2011, mas foi no
fim de 2012 que a pontuação brasileira começou a superar a da América Latina em
maior escala. "Foi um conjunto de fatores que levou a esse aumento de desconfiança
do investidor internacional com o Brasil", diz Rodolfo Oliveira,
economista da Tendências. "É um governo menos comprometido com inflação e
metas fiscais, e com menor crescimento."
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