O jornalista americano Glenn Greenwald, correspondente do jornal The
Guardian no Brasil, afirmou à BBC que o seu parceiro brasileiro, detido em
um aeroporto de Londres, foi interrogado sobre futuras reportagens sobre a
Agência de Segurança Nacional Americana (NSA, na sigla em inglês).
O brasileiro David Miranda, que vive com Greenwald no Rio de Janeiro, ia
de Berlim para o Rio e foi obrigado a ficar no aeroporto de Heathrow por nove
horas.
Na cidade alemã, Miranda teria encontrado a cineasta americana Laura
Poitras, que vem investigando com o jornal e Greenwald as informações vazadas
pelo pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden, atualmente exilado na Rússia.
Segundo documentos revelados por Snowden, a NSA teria cometido abuso de
autoridade em milhares de ocasiões, tendo violado leis que protegem a
privacidade de cidadãos.
Greenwald confirmou ao jornal The New York Times que o
companheiro teve a viagem para Berlim paga pelo Guardian, para levar
informações e receber documentos a respeito do trabalho que o jornalista e a
cineasta fazem sobre os documentos vazados por Snowden.
'Ataque à liberdade de imprensa'
Segundo o Guardian, a Scotland Yard apenas confirmou que "um
homem de 28 anos foi detido em Heathrow sob a lei antiterrorismo, às 8h05
(horário local). Ele não foi preso. E foi liberado às 17h", sem dar
detalhes quanto ao motivo de sua detenção temporária.
Miranda teve equipamentos eletrônicos que carregava confiscados pela
polícia, incluindo um laptop, telefone celular, câmera fotográfica, cartões de
memória, DVDs e consoles de videogame.
Greenwald disse que a detenção de Miranda foi uma forma de
"intimidá-lo" e um "profundo ataque à liberdade de
imprensa".
"Eles (Scotland Yard) jamais perguntaram a ele (David) uma só
questão sobre terrorismo ou relacionada a organizações terroristas", disse
Greenwald à BBC.
"Passaram o dia todo perguntando a ele sobre a reportagem que eu
estou fazendo e sobre o que outros jornalistas do Guardian estão
fazendo".
'Questão de polícia'
O jornalista diz que foi informado a respeito do questionamento pelas
próprias autoridades britânicas e mobilizou advogados do jornal e autoridades
brasileiras.
A lei permite que cidadãos em aeroportos britânicos sejam interrogados
(sem que haja necessariamente uma suspeita contra eles), revistados e detidos
por até nove horas - depois disso, têm que ser liberados caso não sejam
formalmente acusados.
Mas, de acordo com dados do governo Britânico, 97% desses
interrogatórios duram em média uma hora. Miranda, no entanto, ficou retido pelo
tempo máximo, sem direito a um advogado, até ser liberado sem acusações
formais.
O Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha disse ao The New
York Times que se tratava de uma "questão de polícia" e não iria
comentar o caso.
Grave preocupação
O Itamaraty divulgou nota na noite deste domingo manifestando
"grave preocupação com o episódio".
"Um cidadão brasileiro foi retido e mantido incomunicável no
aeroporto de Heathrow por período de 9 horas, em ação baseada na legislação
britânica de combate ao terrorismo. Trata-se de medida injustificável por
envolver indivíduo contra quem não pesam quaisquer acusações que possam
legitimar o uso de referida legislação. O governo brasileiro espera que
incidentes como o registrado hoje (domingo) com o cidadão brasileiro não se
repitam", diz o comunicado.
Um porta-voz do Guardian disse que a empresa está
"consternada com o fato de o parceiro de um jornalista do jornal que tem
escrito sobre serviços de segurança ter sido detido por quase nove horas".
BBC Brasil
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