O xadrez da política, para o governo Dilma, consistirá em administrar a exacerbação atual da política, em um ambiente econômico desfavorável, sem permitir a erosão da base de apoio parlamentar.
por Luis Nassif no site Carta Capital
Todo setor
organizado precisa exercitar a visão prospectiva para balizar suas ações. Há
que se ter sensibilidade para identificar a dinâmica dos grandes fatores
centrais determinantes do futuro, fugindo do imediatismo das medidas pontuais.
Se seis meses atrás
o governo Dilma Rousseff conseguisse identificar a dinâmica desses fatores:
1. Desgaste
com seu governo em círculos formadores de opinião.
2. Desgaste com a opinião pública midiática por conta da campanha sistemática da mídia.
3. Desgaste
com o mercado devido à dubiedade das contas fiscais.
4. Desgaste com movimentos sociais e sindicatos, partidos políticos e associações empresariais devido à falta de diálogo.
poderia estar
há seis meses agindo pro-ativamente sobre cada um.
Obviamente
seria difícil prever a explosão das redes sociais. Mas os demais fatores
estavam no horizonte.
O desafio
agora é aproveitar as lições e preparar a estratégia para os próximos
semestres.
Os dados
centrais de análise:
1.
Economia - Apesar da perspectiva de algumas boas notícias na frente
econômica - sucesso nas concessões e inflação refluindo um pouco -, o quadro
econômico tende a se agravar. Ao contrário do que diz Guido Mantega, o crédito
bancário não irá se recuperar; há dados do varejo demonstrando desaceleração do
consumo; e as contas externas continuarão se deteriorando.
2. Velha
opinião pública - A guerra da informação se acirrará, ainda mais após a
velha mídia constatar a fragilização da candidatura Dilma em 2014.
3. Nova
opinião pública - Classe média, direita, esquerda, partidos, sindicatos,
todos parecem dispostos a mostrar a musculatura nas manifestações de rua e nas
redes sociais.
4.
Justiça - A eleição da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o fim do
mandato de Roberto Gurgel na Procuradoria Geral da República (PGR), e a
indicação de Ministros maduros para o STF (Supremo Tribunal Federal) refrearão
as interferências políticas do órgão. Mas novos movimentos de opinião
pública têm efeitos imprevisíveis sobre o STF.
5.
Congresso – Não se encontra um parlamentar sequer que se sinta
participante do projeto de governo de Dilma - seja do PT ou de partidos da
base.
O xadrez da
política, para o governo Dilma, consistirá em administrar a exacerbação atual
da política, em um ambiente econômico desfavorável, sem permitir a erosão da
base de apoio parlamentar.
Ações:
1. Preparar
a opinião pública para os baixos resultados econômicos do segundo semestre e
criar expectativas favoráveis para o próximo ano.
2. Preparar,
desde já, um conjunto de políticas a serem trabalhadas com participação ampla
dos setores envolvidos. E planejar a divulgação para se contrapor à safra de más
notícias econômicas.
3. Sair
definitivamente do isolamento, institucionalizando a interlocução com os
diversos setores sociais. Reuniões esporádicas não serão suficientes.
4. Monitorar
de forma profissional o universo de notícias, de maneira a esclarecer e evitar
a formação de ondas.
5. Recompor
a interlocução com o Congresso. A partir de 20 de agosto há o risco da
derrubada em série dos vetos às medidas provisórias.
6. Uma
reforma ministerial, de preferencia com reestruturação dos Ministérios, para
servir de ponto de corte para a nova etapa.
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