Foi aberta a discussão entre a sociedade civil e o ministério de Paulo Bernardo. Basta saber a disposição em traduzi-la em política concreta. Por Coletivo Intervozes
Paulo Bernardo, ministro das Comunicações |
por Coletivo Intervozes, no Carta Capital.
Foram,
praticamente, dois anos de indisposição do Ministério das Comunicações
(MiniCom) em estabelecer um espaço institucionalizado de discussão com os
movimentos e entidades da sociedade civil para tratar das políticas de comunicação
do governo federal. A proposta de criar uma mesa de diálogo para discutir esses
temas, em especial o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), quase se estabeleceu
em 2011, quando o ministro interrompeu a iniciativa diante da notícia de que os
movimentos sociais preparavam um ato para criticar os acordos assinados com as
teles para a oferta de planos de banda larga popular, na época, recentes.
Desde então,
seguiram-se momentos de pressão para que o processo fosse retomado, até que
a Campanha
Banda Larga é um direito seu! foi recebida em audiência com o
ministro Paulo Bernardo em abril deste ano. Nessa oportunidade, as entidades,
que apresentaram a proposta da Campanha para a Universalização do Acesso à Banda Larga no
País, repudiaram a possibilidade, em avaliação pelo órgão, de os bens públicos
da concessão de telefonia fixa serem trocados por investimentos das teles em
redes próprias. Mais uma vez, pressionaram pela criação da mesa de diálogo.
Agora, o nó
desatou e, com a ajuda da Secretaria-Geral da Presidência da República, o
processo foi retomado.
A primeira reunião
da mesa ocorreu em 10 de julho com a presença do Secretário Executivo da
Secretaria-Geral da Presidência da República e representantes de diferentes
áreas do MiniCom. A dinâmica ali proposta foi discussão do Planejamento Estratégico do Ministério, que está sendo
atualizado. Com objetivos gerais relacionados às políticas de comunicação, o
planejamento engloba, entre outros, os temas de infraestrutura, inclusão e cultura
digitais, pluralidade, diversidade e competição nos meios de comunicação e
transparência e participação social no órgão.
As entidades
presentes ressaltaram que há assuntos relevantes que são transversais, cabendo
à mesa promover encontros que não se encerrem no MiniCom. Entre elas, foram
levantados o Marco Civil da Internet, a Reforma da Lei de Direitos Autorais e a
Radiodifusão Comunitária. A pauta, inicialmente focada nas políticas de acesso
à banda larga, foi ampliada, o que envolve outros atores e uma articulação mais
complexa do movimento de comunicação. Com uma agenda periódica de reuniões, a
princípio de 20 em 20 dias e divididas pelos objetivos estratégicos do
Planejamento ou temas transversais, os participantes mudarão de acordo com a
pauta, tendo sido criada uma Comissão Operativa para facilitar essa
organização.
Quanto à banda
larga, ficou evidente que o ministério comandado por Paulo Bernardo ainda não
tem uma posição em relação à proposta apresentada pela campanha. No momento,
preferem tratar de outros assuntos a compartilhar o que está em estudo no órgão
sobre a nova versão do PNBL. Uma participação efetiva na formulação desses
planos passa pela superação dessa postura e por um diálogo aberto entre
governo, sociedade civil e empresas, o que pode se dar, também, durante as
reuniões da mesa de diálogo. Vale lembrar que era essa a proposta inicial do
abandonado Fórum Brasil Conectado.
Apesar dos
limites do modelo e dos desafios que se colocam ao movimento pela
democratização da comunicação, apostamos no espaço que foi aberto e na sua
possibilidade de render avanços, mesmo que pontuais, às políticas do setor no
país.
O diálogo
parece estar restabelecido, resta saber qual a disposição do governo em
traduzi-lo em ações.
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