Por
Geraldo
Elísio, no site do Novo Jornal
“Assim,
sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão,
chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas
populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os
marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários,
mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessará de
ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não
mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo.
Quem duvida disso não conhece a natureza humana.” – Bakunin
Em
manchete de capa o jornal espanhol “El País”, informa em sua edição desta
terça-feira (2) que o Papa Francisco que chegará ao Brasil no próximo dia 22
foi informado diretamente das marchas em cursos nas ruas do Brasil, com a
participação majoritária de jovens que se declaram sem partido político. De
onde estiver o pensador russo Mikhail Aleksandrovitch Bakunin, um dos
principais expoentes do anarquismo no sentido filosófico do grego anarkós – sem
governo – obviamente desvinculado do pejorativo “bagunça”, em meados do século
XIX, deve estar feliz com o que eventualmente vê.
Calma
os mais afoitos, não estou fazendo nenhuma alusão do Vaticano com o anarquismo,
embora o professor mineiro Aníbal Vaz de Melo tenha escrito um livro, já
esgotado e nunca reeditado, cujo título é “Jesus Cristo o Primeiro dos
Anarquistas”, com o qual pessoalmente eu concordo.
No
Rio de Janeiro, Francisco irá falar para mais de um milhão de jovens que
estarão participando da Jornada Mundial da Juventude e abordará o tema dos
protestos que eclodiram no Brasil. O Papa já teria escrito o seu discurso e ao
ser informado dos acontecimentos brasileiros o reescreveu, e segundo o
periódico espanhol dirá que as reivindicações não vão contra as Sagradas
Escrituras.
“Amai-vos
uns aos outros assim como eu próprio vos amei”, o antídoto mais eficaz contra a
ganância e o egoísmo de fato, somado a outras exortações do Filho do Homem nada
tem de contraditório em relação aos pedidos dos jovens no sentido de poderem
dispor de um futuro com saúde, educação, cultura e segurança pública, sem o
qual nunca poderão dar cumprimento a outra máxima do Filho do Criador: “Crescei
e multiplicai-vos”. Certo Ele ter dito que a casa do Pai dele “tem muitas
moradas”, mas cabe ao homem “à Sua Imagem e Semelhança” contribuir para o
processo de crescimento da humanidade, posto não ser conveniente esquecer o
“Faça da sua parte que Eu farei da minha”.
Quem
sou eu para dizer que o Cristo diria a Milton Friedman Francis Fukuyama (aquele
que acredita que a História acabou e a todos os neoliberais que eles são
“sepulcros caiados”. Quem é o humilde repórter para pretender ser porta voz de
Deus, da mesma forma que não ouso dizer a outros, falando em nome de Bakunin
que “A liberdade do outro estende a minha ao infinito” e por isto mesmo
"Quem quer não a liberdade, mas o Estado, não deve brincar de
Revolução".
Evitando
canais diplomáticos três altos prelados brasileiros falaram pessoalmente com o
Papa Francisco: o arcebispo do Rio de Janeiro, Orani João Tempesta, responsável
pela organização da jornada, o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Cláudio
Hummes e o presidente da Conferência Episcopal do Brasil, cardeal Raymundo
Damasceno, cuja entidade em documento escrito apoiou os movimentos desde que
condicionados a uma ordem pacífica.
Outro
detalhe do qual Sua Santidade está informado é que os movimentos gritam contra
a corrupção – alertam mensaleiros de todos os partidos – a falta de
transparência na administração pública – aviso aos palácios, prefeituras e
câmaras – e a impunidade – mais do que explícito em relação ao Judiciário
brasileiro onde existe segundo a ministra Eliana Calmon, ex-presidente do
Conselho Nacional de Justiça – CNJ – “bandidos de toga”, dito em tese, portanto
sem especificar ninguém o que deixa a todos sob suspeita.
Os
gritos de “O gigante despertou” é visto como uma mensagem de renascimento para
todos os povos e como um sinal de esperança partindo dos jovens que não querem
saber dos partidos políticos – em síntese iguais e disposto a pagar qualquer
preço para se manter no Poder – eivados de vícios e com credibilidade zero junto
ao povo. Por isso os religiosos defendem que as manifestações de caráter
pacífico sejam garantidas pelo Estado. Em entrevista monsenhor Orani afirmou:
“A maioria dos jovens que saíram às ruas querem um Brasil novo, mais justo e
solidário. E isto está de acordo com o que nós os bispos queremos também”. Dom
Cláudio Hummes foi mais além e disse que a mensagem do Cristo “está em sintonia
com estas reivindicações. Por isto devemos estar presentes, pois nas ruas o
povo está vivendo o Evangelho”. E acrescentou: “Nem o governo nem os sindicatos
sabem como se comportar diante do movimento que veio para consolidar a
democracia”.
Como
ninguém é dono da verdade fico a imaginar o que pensaria Bakunin diante de tal
realidade, ele um ateu convicto, observando tantas coincidências favoráveis aos
seus princípios. Talvez, sendo um pensador, fizesse uma revisão de conceitos
admitindo razões no pensamento do professor Aníbal Vaz de Melo e chegando à
conclusão de ser possível como disse a escritora Zélia Gattai, esposa de outro
escritor famoso, o comunista Jorge Amado, a existência de “Anarquistas Graças a
Deus”.
Mesmo
porquê se existe algo que os políticos fazem muito bem é contribuir para que
todos os eleitores, “brandindo o gládio e erguendo as hastas” destruam a imagem
de seus próprios sonhos e neles desacreditem para sempre, do ponto de vista
teológico tendo pleno conhecimento de que eles se elegem para cargos
majoritários e proporcionais, nunca para Deus ou professores de Deus. Não raro
alguns ao se eleger encarnam e dão aulas para o Outro.
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