Segundo
chanceler brasileiro, principal caracterísitica desses dez anos foi o foco nos
países em desenvolvimento
Chanceler falou nesta segunda-feira 15 em evento na Ufabc |
por Marsílea Gombata
Foi a inclusão
do combate à fome como parte primordial de sua agenda externa que fez do Brasil
um protagonista no cenário da política externa. A avaliação, feita pelo
chanceler Antonio Patriota, buscou explicar o que mudou na política externa
brasileira com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. “Não
somente a introdução na agenda interna brasileira, mas também na agenda
internacional do governo do presidente Lula contribuiu para esse debate”,
afirmou o ministro das Relações Exteriores brasileiro nesta segunda-feira 15.
Ao falar a
estudantes de relações internacionais, acadêmicos e representantes de
instituições como a Fundação Perseu Abramo e a Central Única dos Trabalhadores
na conferência2003 – 2013: Uma Nova Política Externa, na Universidade
Federal do ABC (Ufabc), em São Bernardo do Campo, o ministro lembrou ainda que
a diplomacia do governo Lula inverteu a lógica que vinha sendo estabelecida,
uma vez que a receita era antes promover desenvolvimento econômico para, então,
combater a pobreza e a fome.
Segundo
Patriota, a grande marca do governo Lula no campo das relações internacionais
foi a “inovação na interlocução” com países não desenvolvidos. “Mudou a maneira
de o Brasil interagir com o mundo em desenvolvimento”, sublinhou ao citar contatos
com nações do hemisfério sul do mundo emergente, como África do Sul e Índia
(através do Ibas). “Foi um período extremamente criativo e propositivo. Sempre
tivemos algumas características de defender interesses econômicos com muita
veemência, mas nem sempre com criatividade. Essa inteiração foi extremamente
criativa.”
Patriota
lembrou ainda que a própria iniciativa de aliar países árabes ao Brasil,
através da Cúpula América do Sul – Países Árabes (Aspa) foi ideia do
ex-presidente Lula, recebida em um primeiro momento com estranhamento por parte
do corpo de diplomatas brasileiros. “Quando ele apresentou [a ideia] no
Itamaraty, muitos foram céticos, acharam que seria impossível realizar o
encontro, que hoje ganha uma nova ressonância no despertar do que ficou
conhecido como Primavera Árabe”, disse ao comparar países palcos de revoltas a
uma espécie de Brasil de amanhã, por ter enfrentado desafios que podem servir
de exemplos para a elaboração de políticas públicas.
Além do Ibas,
ele lembrou, o Brasil contribuiu para o surgimento de novos mecanismos de
cúpula, como a dos Brics em 2009, e também passou a ser observador da Liga
Árabe e da União Africana. Buscou abrir mais representações diplomáticas na
África e no Oriente Médio e voltou-se para o Caribe. O novo enfoque, garantiu o
ministro, não deixou de lado relações já em curso com países já desenvolvidos,
como os da União Europeia.
Alca. Patriota
relembrou que há cerca de 10 anos, quando Lula chegou ao poder, o contexto era
bastante diferente e debatia-se a criação da Alca e do Nafta. O que mudou de
forma tão relevante na política externa brasileira? “Eu começaria pelo
regional. A própria definição do que é regional mudou. O que a política externa
do presidente Lula começa a fazer é lançar um olhar novo sobre a nossa região”,
disse ao destacar o fortalecimento do Mercosul e a criação da Unasul e da
Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac). “O ministro Celso
Amorim gosta de dizer que a política externa brasileira ficou ativa e altiva.
Seria injusto dizer que a política externa anterior seria passiva e
subserviente. Era menos criativa.”
Em relação aos
desafios futuros, ele explicou, não há ruptura, mas sim o foco no
“aprofundamento e consolidação” dessa política externa a partir dos oito anos
do governo Lula. “Não há tema hoje em dia de relevância para o futuro da ordem
internacional em que as impressões digitais do Brasil não sejam muito
visíveis”, disse.
Ao final da
mesa, ele anunciou ainda a criação de um fórum permanente com a sociedade civil
para temas de política externa no Brasil. Ideia ainda muito incipiente, mas
largamente aplaudida na noite de segunda-feira.
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