Basta cruzar a
avenida Alberto Craveiro, que passa em frente ao estádio Castelão, em
Fortaleza, para verificar que o "padrão de primeiro mundo" exigido
pela Fifa para as arenas da Copa do Mundo está até agora restrito ao lado de
dentro do estádio.
"Acabando
a Copa, no ano que vem, nós ficaremos esquecidos de novo em nossa realidade
típica da periferia de Fortaleza", disse à BBC Brasil o professor Raimundo
João da Silva, de 55 anos, cuja casa, na rua Primeiro de Abril, fica a poucas
dezenas de metros do estádio.
A reportagem
da BBC Brasil visitou a rua na manhã desta quarta-feira, poucas horas antes da
partida entre Brasil e México, disputada no estádio pela Copa das
Confederações, e ouviu queixas de que as obras para o torneio não só não
resolveram os inúmeros problemas com os quais eles convivem diariamente como
criaram novos problemas.
"Desde
que começaram as obras para a avenida (Alberto Craveiro), minha casa passou a
alagar sempre que chove", reclamou a trabalhadora doméstica Lucineide
Cavalcanti Lima, de 31 anos. "A Copa não ajudou em nada os moradores, só
piorou nossa situação."
Segundo ela, o
problema pode ter sido causado pelo trabalho de terraplanagem para a construção
da avenida e pela instalação de um estacionamento adjacente aos fundos de sua
casa, que levaram à retirada da vegetação que cobria o local.
Acesso
de torcedores
"Em vez
de sermos beneficiados, fomos prejudicados", reclamou o taxista Paulo
Sérgio Araújo, de 41 anos. Morador da região há 18 anos, ele diz que as obras
no local do estádio privilegiaram somente a rota de acesso dos torcedores, sem
se preocupar com o entorno.
"Além
disso, o que fizeram foi feito às pressas, com gambiarras", disse ele,
apontando para um buraco no calçamento da avenida ao lado do estádio (do lado
de sua rua, não há calçada). O calçamento foi terminado nesta semana, após a
inauguração oficial da avenida, no último sábado.
Nos últimos
dias, foi intensa a movimentação de operários na região para terminar o
acabamento da avenida. O canteiro central na frente do estádio só foi
finalizado na tarde de terça-feira, com a colocação de tapetes de grama.
Na noite de
terça-feira, a reportagem da BBC Brasil pôde ver também carros-pipa lavando a
avenida na frente do estádio, acompanhados de funcionários com esfregões.
A lavagem da
avenida provocou revolta entre os moradores, que reclamam ter passado semanas
sem água encanada durante as obras para a avenida. A maioria das casas no local
também não tem sistema de esgoto.
"As
pessoas tinham que buscar água em outros lugares. Era comum ver gente
circulando por aqui carregando baldes de água", comentou o ajudante de
depósito Joaciran Alves, de 42 anos.
Para o
professor Raimundo João da Silva, mesmo as obras que foram feitas, como o
alargamento da avenida, correm o risco de serem abandonadas depois. "As
obras estão aí, não vão demolir. Mas não vai haver manutenção", disse.
"Quero
ver o que vai acontecer quando começarem a aparecer os buracos no asfalto, se
virão tampar."
Para ele,
mesmo o estádio do Castelão, que tem capacidade para 60 mil pessoas e cuja
reforma consumiu R$ 520 milhões, corre o risco de ser subutilizado depois.
"Aqui não
há grandes times e não temos estrutura para grandes eventos. O estádio vai
ficar vazio."
Terra
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