Não
é razoável pensar que por terem suas ações limitadas a regiões carentes do
país, não haja necessidade de que os médicos estrangeiros comprovem sua
capacidade técnica de exercer a Medicina
Não
é de hoje que o Brasil sofre com o caos no sistema público de saúde. Filas em
postos, estrutura precária e a falta de médicos fazem parte do cotidiano da
maior parte da população há décadas. Mas em vez de buscar políticas públicas
capazes de contornar a situação, o governo insiste em ações imediatistas e
questionáveis.
A
panaceia da vez é a contratação de médicos estrangeiros. Inicialmente, foi
anunciado pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, um possível
acordo de cooperação entre o Brasil e Cuba para a contratação de médicos
cubanos, 6 mil ao todo, para atuar em regiões carentes. Após a enxurrada de
protestos de entidades de classe – o Conselho Federal de Medicina (CFM) chegou
a chamar a medida de uma agressão à nação –, o governo voltou atrás, e agora
defende a entrada de médicos formados em outros países, principalmente em
Portugal e Espanha.
A
proposta em estudo pelo governo federal prevê que os médicos recrutados no
exterior passem por um teste de proficiência em português, mas dispensa a
realização de prova técnica de conhecimentos. Segundo o próprio ministro da
Saúde, Alexandre Padilha, isso não significaria a validação automática do
diploma, uma vez que os profissionais receberiam apenas um registro provisório,
permitindo o exercício profissional somente nas periferias ou locais afastados
de interesse do governo federal e por um período determinado. Também só seriam
admitidos médicos formados em faculdades reconhecidas em seus países de origem.
As regras para a concessão do registro e atuação dos médicos seriam fixadas por
meio de uma medida provisória.
Embora
os detalhes do projeto do governo federal ainda não sejam conhecidos, sabe-se
que a mera contratação de médicos não resolve a situação da saúde brasileira.
Contratar médicos – sejam brasileiros ou estrangeiros – e não oferecer as
condições mínimas de infraestrutura para que os profissionais possam exercer
dignamente sua profissão é uma medida praticamente nula, cujo único resultado
prático será o de disponibilizar alguém para ouvir os pacientes – sem que possa
fazer algo para realmente curá-los.
Grave
também é a distribuição de registros provisórios aos médicos estrangeiros sem
que estes tenham de passar pelo Exame Nacional de Revalidação de Diplomas
Médicos, o Revalida, exigido de todos os médicos formados no exterior –
incluindo brasileiros – que queiram exercer a Medicina no país. Na edição 2012
do Revalida, dos 884 candidatos inscritos no teste, apenas 77 foram aprovados,
evidenciando a precariedade de ensino de muitas faculdades estrangeiras. Não é
razoável pensar que por terem suas ações limitadas a regiões carentes do país,
não haja necessidade de que os médicos estrangeiros comprovem sua capacidade
técnica de exercer a Medicina. Mesmo que o Revalida não esteja inume a críticas
– alguns defendem que o exame seria rigoroso demais – a avaliação é uma maneira
de equalizar a qualidade dos médicos que trabalham no país, independente de
suas origens.
Curioso
notar que até os brasileiros que estudam no exterior precisam passar pelo teste
caso queiram exercer a profissão no Brasil. Matéria de ontem da Gazeta do Povo
mostrou a preocupação dos 594 brasileiros que estudam na Escola Latinoamericana
de Medicina (Elam), em Cuba, e que depois de formados terão de passar pelo
Revalida se quiserem trabalhar no Brasil. É irônico pensar que – pelo menos se
depender do governo federal – casos eles fossem cubanos e não brasileiros,
poderiam ser simplesmente dispensados do teste e trabalhar tranquilamente em
nosso país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi