Por Rodolpho Motta
Lima
Nada mais
perverso na política do que a colocação de particulares interesses partidários
acima daqueles que convêm à nação como um todo. Isso acontece em quase todos os
lugares do mundo e revela o grau de comprometimento social de cada segmento que
atua politicamente. A direita, por ser elitista por natureza, tem essa postura
no seu DNA, mas a esquerda também dá as suas escorregadelas. De qualquer forma,
esse comportamento é, seguramente, um desserviço à cidadania.
Nos últimos
tempos, temos assistido a uma parafernália de artigos, manchetes, colunas e
pronunciamentos que dão conta de que o país estaria em vias de entrar em um
perigoso e significativo processo inflacionário. Compara-se, desonestamente, a
situação presente a uma realidade de muitos anos atrás, semeando a ideia de uma
inflação descontrolada que estaria em vias de mergulhar o país no desastre.
Enxergando na
volta da inflação um provável enfraquecimento do Governo, a chegada desse
espectro é saudada com indisfarçável júbilo pelos opositores e, é claro,
amplificada pela mídia que os representa acintosamente. Ou seja: importa muito
menos a estabilidade da economia, a satisfação das pessoas, a tranquilidade
social, e muito mais a derrubada do Governo.
Se alguém
quiser argumentar que é assim mesmo e, que, às vezes, determinados fins
justificam meios menos honestos de “persuasão”, a aceitação dessa premissa nos
dará o direito de acreditar que se podem, então, fabricar fatos, provocar
desconfianças, manipular dados... E , por que não?, comprar votos de
parlamentares corruptos para permitir a votação de medidas de alcance social...
Adicionalmente, nos conferirá a obrigação de tentar enxergar, nas entrelinhas,
os propósitos escondidos de cada informação.
O caso do
tomate é emblemático. Colocou-se em destaque a elevação de preços do produto
como símbolo de um processo inflacionário em curso, deixando de lado as razões
sazonais específicas que geraram essa situação. Sei que tucanos, corvos e
urubus comem tomate. Deve ser por isso que o tomate virou um ícone da oposição.
Pouquíssimos esclarecimentos sobre as causas da elevação do seu preço,
muitíssimas reportagens e fotos nos mercados e feiras a mostrar valores
estratosféricos a que chegou um quilo do vilão vermelho. Mas, como era uma
falácia, não resistiu. E o tomate, depois dos 15 minutos de fama, vai sumindo
do noticiário...
Essa turma –
que acredita fielmente na lei da oferta e da procura, um dos fundamentos
pérfidos do capitalismo – não usou o seu poder de comunicação para, por
exemplo, conclamar as pessoas a não comprarem o tomate e a, pelo menos
temporariamente, substituírem-no na mesa, o que, certamente, não constituiria
nenhuma catástrofe.
Da mídia da
oposição não se espera outra coisa. Dos partidos de oposição , essa atitude é
vista como normal. Que se dane o país, que exploda a nação, o que importa é o
poder: “Nós é que queremos administrar o preço do tomate”...
A surpresa, se
é que existe isso na política, vem dos segmentos que se dizem aliados
governamentais, que cresceram nos últimos anos muito mais porque foram apoiados
pelo Governo Federal do que por terem apoiado Lula e Dilma, e que, agora,
mordidos pela mosca azul do poder, vislumbram a oportunidade - ou será o
oportunismo ? - de sair do barco, antes ajudando a provocar as ondas de
instabilidade.
Sobre a
estratégia do Governador de Pernambuco, por exemplo, e do grupo que alicerça
sua candidatura ao Planalto, fala-se claramente na expectativa – ou será melhor
dizer, na torcida – por uma deterioração econômica que, provocando insatisfação
, leve à derrocada do poder e das atuais políticas.
Ele pretende,
pelo visto, repetir o caminho de Marina Silva – agora tentando pegar na Rede
todos os peixes possíveis, os de direita e os de esquerda. Não ouso dizer que
se trate de candidaturas direitistas, mas, políticos experientes que são, é
óbvio que os dois devem estar percebendo – e gostando – do assanhamento com que
a mídia demotucana nacional vem tratando as suas supostas candidaturas. Nenhum
dos dois repudia esse “apoio”, nenhum dos dois denuncia os tucanos como
opositores, os dois flertam com a direita em nome de um projeto de poder. Nesse
quesito, não se diferenciam em nada de nenhuma das alianças que parecem
criticar no âmbito do Governo Federal.
Não é a hora,
ainda, de compararmos as candidaturas que já se apresentam, inclusive a da
própria Presidenta. A rigor, não era a hora nem de se apresentarem
candidaturas. Mas o que os brasileiros devem fazer é ficar bem atentos à
distinção entre aqueles que estão empenhados em dar continuidade às ações
sociais que mudaram a cara do país e aqueles que pretendem vender a ideia do
caos e/ou vê-lo instaurado entre nós , obcecados que estão em destruir o que
foi feito – e que eu ainda acho muito pouco - , em troca da conquista do poder,
mesmo que à custa de escancaradas traições...
É esperar para
ver como o processo todo se vai desenrolar. Há umas fumaças de golpe no ar, só
não as enxerga quem não quer... Não um golpe militar, escancarado, mas
subliminar , fruto do conluio de membros do Legislativo e do Judiciário, sempre
com as trombetas da mídia hegemônica. Eu acho que já está mais do que na hora
de rever-se essa postura política que coloca a governabilidade como dependente
de alianças sem compromisso ideológico.
A verdadeira
garantia de governabilidade é a do povo nas ruas, exigindo a manutenção de suas
conquistas. E os tomates? Ora, esses podem continuar a ser administrados pelos
“tomatófilos” de plantão...
Direto da Redação
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