segunda-feira, 22 de abril de 2013

Mais uma loucura em nome da religião


Por Antonio Tozzi - no site Direto da Redacao
Na semana passada, debatemos quão nociva pode ser a influência da religião sobre mentes instáveis. Infelizmente, constatamos a confirmação esta semana em Boston. Desnecessário recapitular o que ocorreu na Maratona de Boston, dada à ampla cobertura da mídia. Todos sabem que dois irmãos chechenos, Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev, montaram duas bombas e as detonaram perto da linha de chegada da maratona, matando três pessoas e ferindo outras centenas.

Depois de uma intensa caçada humana, Tamerlan, o mais velho, morreu durante uma troca de tiros com os policiais, enquanto o menor foi capturado um dia mais tarde, bastante ferido e encontra-se hospitalizado em estado crítico. Mesmo asssim, deverá ser formalmente acusado por ter praticado atos de terrorismo.

Além da violência dos atos, o que as autoridades querem descobrir foi o que motivou os irmãos Tsarnaev a perpetrar um ato contra pessoas de um país que os recebeu de braços abertos. Eles vieram para cá por medo de serem massacrados pelo exército russo e procuraram ambientar-se em uma comunidade de chechenos que encontrou abrigo nos Estados Unidos.

Vale lembrar que os conflitos étnicos nas antigas repúblicas soviéticas são constantes. Todas odeiam a Rússia que as subjugou durante a ditadura comunista e as obrigou a se integrarem na marra. Daí, viu-se que países com fortes ligações com a Europa, como era o caso da Letônia, Estônia e Lituânia, estavam juntos com países de forte influência árabe e muçulmana, como Chechênia, Daguestão, Turcomenistão e Quirgistão, e a outros como Casaquistão, cujas raízes eram marcadamente asiáticas. Para manter a coesão deste cadinho cultural, só mesmo usando a força bruta, como fizeram Josef Stalin e seus sucessores.

Entretanto, com a ruína da União Soviética, o ódio aos dominadores e os conflitos étnicos afloraram de maneira quase incontrolável. Para conter as insurreições na Chechênia, Geórgia e outras ex-repúblicas, Vladimir Putin não hesitou em enviar tropas russas para sufocar as rebeliões e punir os líderes revolucionários. Como não podiam combater as forças armadas russas, mais bem equipadas e melhor treinadas, decidiram usar a tática da guerrilha. Assim, tornou-se comum ações terroristas em locais públicos das principais cidades russas, sobretudo em Moscou, com bombas explodindo em metrô e onde houvesse aglomeração de pessoas.

Posando de intermediário, o governo dos Estados Unidos tentou apaziguar a situação e atuou como um poder moderador e, de certa forma, defendeu as populações das antigas repúblicas soviéticas de serem agredidas e atacadas pelas tropas russas. Em alguns casos, ofereceu até mesmo asilo político para aqueles que se sentiam ameaçados.

Diante desse quadro geopolítico, a vinda dos irmãos Tsanaerv foi recebida com normalidade. Eles tentaram enquadrar-se no modo de vida americano. E, de certa forma, conseguiram. Tamerlan, de 26 anos, o mais velho, estava preparando-se para estudar engenharia e treinava forte para se tornar um pugilista. Ele até queria integrar a equipe de pugilismo dos EUA na Olimpíada do Brasil. Dzhokhar, o mais novo, de 19 anos, estudava Biologia Marinha na Universidade de Massachusetts-Darthmouth, uma das mais conceituadas do país.

Tudo ia bem até que Tamerlan fez uma viagem ao seu país natal, onde passou seis meses. Na volta, o tio dos rapazes, que os criou, começou a estranhar a atitude do sobrinho, que se tornou um muçulmano fanático. Ele deixou de estudar e trabalhar para se dedicar apenas a essas atividades. Provavelmente, foi influenciado por pessoas que vivem na Chechênia. Entretanto, o grupo rebelde do Cáucaso do Norte negou que tenha participado deste ato terrorista, porque, segundo seus líderes, “apenas combatemos a Rússia, que não apenas é responsável pela ocupação do Cáucaso, mas também por crimes monstruosos contra os muçulmanos”.

Embora possa não ter tido uma orquestração internacional, ficou evidente que Tamerlan já flertava com ideias radicais, tanto que havia sido investigado antes pelo FBI, após dicas das autoridades russas. Entretanto, após uma verificação, não conseguiram encontrar nada que o incriminasse. Dzhokhar, por sua vez, estava totalmente integrado e se tornou cidadão americano no ano passado.

A influência do irmão, porém, o levou a cometer essa barbaridade. Agora, nem mesmo as autoridades americanas sabem como proceder neste caso. Ele é terrorista, mas também um cidadão americano, portanto, não pode ser enviado para Guantánamo, por exemplo. A verdade é que será severamente punido.

Como lamentou o tio deles: “Dzhokhar foi somente mais uma vítima de Tamerlan”.

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Dag Vulpi

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