Por Mário Augusto Jakobskind
O caso do pastor Marco Feliciano,
que se arrasta há um mês, não se restringe apenas ao parlamentar, muito menos à
Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Trata-se de
uma ofensiva conservadora, especialmente fundamentalista religiosa, que
representa um retrocesso para o país.
Feliciano, segundo a Folha de S.
Paulo, agora em defesa protocolada no Supremo Tribunal Federal, confirmou suas
anteriores declarações racistas afirmando que “paira sobre os africanos uma
maldição divina”.
Remover Feliciano do cargo de
presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias é uma necessidade, sem
dúvida, mas não basta. Ele representa uma excrescência da política brasileira e
é preciso frear a ousadia de seus pares que formam a Frente Parlamentar
Evangélica.
Se isso não for feito o quanto
antes, o Parlamento brasileiro acabará até aprovando projeto do Deputado João
Campos, do PSDB, que, pasmem, na prática levará ao fim do estado laico.
O correligionário de Aécio Neves e
Fernando Henrique Cardoso, entre outros, elaborou proposta incluindo as
entidades religiosas de âmbito nacional entre aquelas que podem propor ação
direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade ao
Supremo Tribunal Federal (STF).
Se aprovado em plenário, já foi na
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, o
projeto irá para votação no Senado. Se este retrocesso não for abortado, as
entidades religiosas poderão questionar decisões judiciais já adotadas pelos
Ministros do STF, desde a autorização para o uso de células troncos até a união
estável para casais do mesmo sexo.
Podem imaginar como um retrocesso
dessa natureza em pleno século XXI repercutiria no exterior? Enquanto os
Parlamentos da Argentina e Uruguai aprovam a união estável, no Brasil uma
Frente Parlamentar Evangélica se mobiliza até para acabar com a laicidade do
Estado.
Como se não bastasse a
desmoralização da Comissão de Direitos Humanos sob a presidência de Feliciano,
integra também o espaço agora dominado pelos fundamentalistas uma outra
excrescência da política brasileira, o Deputado Jair Bolsonaro, que além de
defensor veemente do golpe de 64, em várias ocasiões chegou a justificar a
tortura.
Mas a ocupação da Comissão pelos
fundamentalistas se deve basicamente a partidos como o PMDB, PT, PSDB, PC do B
e outros, que se desinteressaram pelo tema deixando que o Partido Social
Cristão (PSC) indicasse Feliciano.
Além de declarações racistas e
homofóbicas, bem como proceder de forma autoritária e policialesca como
presidente da Comissão ao proibir a entrada do povo em sessões, para não falar
das acusações de estelionato que responde no STF, Feliciano tem passado dos
limites com menções sobre “satanás” e outras contra parlamentares que não rezam
por sua cartilha fundamentalista.
Tem até vídeo em que este senhor
farsante afirma que as mortes de John Lenon e do grupo Mamonas Assassinas foram
uma ação de deus. Pode uma coisa destas presidir a Comissão de Direitos Humanos
e Minorias da Câmara dos Deputados?
Neste contexto, que não se restringe
ao PSC, soma-se a recente declaração do Senador do PSDB, Aécio Neves
considerando o golpe de 1964 como “revolução de 64”. O político mineiro se
traiu, porque geralmente os que se utilizam da referida linguagem sempre
apoiaram a quebra da ordem constitucional que representou a derrubada do
Presidente João Goulart.
Para completar a ofensiva
conservadora, que passa também pela Opus Dei, o Governador de São Paulo tem
como assessor particular um tal de Ricardo Salles, defensor veemente do golpe
de 64 e fundador do grupo intitulado Endireita Brasil.
Salles representa a velha direita,
acoplada a nova direita que ao longo dos últimos anos tem feito de tudo para
doar o que ainda resta sob controle do Estado brasileiro. Nesta ofensiva se
inserem os leilões de petróleo, já marcados para maio próximo, e que tiveram
início no governo entreguista de FHC.
Por estas e muitas outras, se não
houver uma maciça mobilização dos movimentos sociais, o Brasil será palco em
breve de um retrocesso que remonta aos piores momentos de sua história no
século passado.
Seria uma espécie de repetição como
farsa, agora caminhando para 50 anos, do golpe civil militar de 64.
Via Direto da Redação
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