"Um quilo de tomate a quase R$
10 é um absurdo", critica a doméstica Selma Santos Gonçalves, que trabalha
em uma casa no bairro do Humaitá, zona sul do Rio. Ela disse que para quem
cozinha e quer botar na mesa uma salada todo dia fica muito caro. "Eu vejo
quanto a minha patroa gasta para comprar. Estou vendo que também a alface está
com o preço salgadinho", comentou. Segundo Selma, o jeito é mudar o
cardápio. "Muda sim. Tem que mudar por causa o preço. Se não dá para uma
coisa, a gente tem que trocar e colocar outra que está mais em conta",
aconselhou.
Adriano Casares Gomes começou a
trabalhar como feirante em 1960 e a mulher dele, Lucília Souza Gomes, três anos
depois, sempre vendendo tomates em feiras livres nos bairros do Lins de
Vasconcelos, do Engenho de Dentro e da Penha, todos no subúrbio do Rio. O casal
de portugueses da região de Trás-os-Montes disse que nunca viu o produto com o
preço tão alto."Bateu o recorde. Todo ano, nesta época, o produto sobe,
mas este ano foi demais, ultrapassou o limite", completou Adriano.
Lucília tem 80 anos e diz que os
dois são os feirantes mais antigos. Ela lembrou que o casal ainda tem outros
custos, como a compra dos saquinhos para o consumidor levar os tomates e o
aluguel do tabuleiro para expor o produto na feira. Eles disseram que compram o
produto na Central de Abastecimento (Ceasa), em Irajá, onde chegaram a pagar R$
160 pela caixa do tomate. Na avaliação deles, para os fregueses comprarem com
preço mais baixo, teriam que encontrar a caixa por no máximo R$ 60. "Nesta
semana baixou um pouco e chegou a ficar em R$ 100. Se chegar a R$ 60 a gente
consegue vender a R$ 5", contou Adriano, que estava vendendo o quilo do
produto por R$ 8 nesta sexta-feira (5), no Lins de Vasconcelos.
Na zona sul do Rio, Carlos Antônio
Soares trabalha em uma mercearia dentro da Companhia Brasileira de Alimentos
(Cobal) de Botafogo e também sofre com a alta do preço do produto. Lá, o quilo
do tomate chegou a quase R$ 11. "O pessoal reclama muito e diminui a
quantidade devido ao preço. Quem comprava dois quilos compra meio quilo, mas já
começou baixar", disse Soares, que estava vendendo o quilo a R$ 9,80.
Para o economista do Instituto
Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, o
preço do tomate, que sofreu aumento de 150% nos últimos 12 meses deve começar a
cair em abril. "O pico de preço foi em janeiro. A perspectiva é de queda
do preço do produto nos próximos meses." Braz disse que por causa de
outros fatores, como o aumento do custo da mão de obra e do diesel, o consumidor
ainda vai encontrar o produto com preços elevados, mas perceberá uma queda em
relação aos registrados entre janeiro e março. "A alta em janeiro,
fevereiro e março é natural por que tem o período de entressafra de vários
protudos, mas a do tomate é marcante."
O economista destacou que em 2010 e
2011 o produtor não teve um bom retorno com o tomate e o reflexo foi a redução
da área plantada, que contribuiu para a elevação do preço no início de 2013.
"A redução da área plantada foi notada especialmente em 2012, que teve a
área inferior a de 2011", completou.
Na avaliação de André Braz, este foi
um fenômero nacional. "Praticamente todas as cidades sofreram com a falta
do produto. No Nordeste a alta ficou em 30%, na mesma dimensão de 2011",
explicou.
Agência Brasil
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