Por
João Ozorio de Melo*
No
próximo sábado (2/23), os eleitores de Meghalaya, um pequeno estado no nordeste
da Índia, vão às urnas. Adolf Hitler Marak e Frankenstein Momin estão entre os
345 candidatos que vão concorrer às 60 vagas de deputados da Assembleia
Legislativa, que já tem nomes de peso como Churchill, Roosevelt e Chamberlain.
Sempre haverá nomes famosos entre os políticos da terra. As populações tribais
de Meghalaya gostam de dar nomes curiosos a seus filhos por pura diversão, diz
o site da Aljazeera.
"Ter
um nome famoso, estranho ou divertido em Meghalaya não dá um único voto extra a
qualquer candidato", diz o historiador indiano David Syiemlieh. Nem sequer
maior atenção, porque há muitos candidatos com esses tipos de nome. "Dar
nomes engraçados às crianças é uma prática antiga", diz o diretor regional
do Conselho Indiano de Pesquisa de Ciências Sociais, Joshua Thomas. "Minha
mulher é médica, e ela já viu mulheres dando a crianças o nome de Anesthesia
(Anestesia), só porque ouviram essa palavra no hospital e o acharam divertido",
ele diz.
À
Meghalaya, a "Moradia das Nuvens", habitado principalmente por três
grandes tribos – Khasis, Jaintias e Garos – não falta beleza, com seus montes,
rios e paisagens deslumbrantes. Também não falta bom humor. As populações
tribais adoram rir e fazer rir, até delas mesmas. Acreditam que rir muito torna
a pessoa saudável, forte, e a ajuda a viver mais. Há inúmeros "clubes do
riso" no estado. "É um fenômeno social", diz a Aljazeera.
Um
candidato às próximas eleições, do qual muito se ri, é o pobre Romeu – ou Romeo
Phira Rani. Não se sabe da existência de nenhuma Julieta na região. Se rir é
preciso, há dois candidatos, sem partido, com o nome Hilário: Hilarious Dkhar e
Hilarious Pohchen.
De
uma maneira geral, os nomes são em inglês porque esse é o idioma número um em
Meghalaya, que já foi colônia inglesa (como toda a Índia). Aliás, é o idioma
que garante a unidade no estado, porque são tantos os idiomas e dialetos que,
sem ajuda externa, não haveria um sistema eficaz de comunicação no estado.
Meghalaya
é um dos quatro estados da Índia com maioria cristã. Nos demais, a maioria é
hinduísta. Por tradição, mantém um sistema (e uma cultura) matrilinear – isto
é, a sucessão se dá por linha materna. E as mulheres estão no comando da
família e de seus bens. Com a morte dos pais, por exemplo, a filha caçula
assume o controle da propriedade e todos os bens da família. Se a família não
tem uma filha, o poder é transferido a uma nora. Na falta dela, uma menina
adotada exercerá o cargo de chefe.
E, ao
que parece, as mulheres estão ligadas em questões políticas e jurídicas, porque
deram aos filhos nomes tais como Hopeful Bamon, que já nasceu candidato a um
cargo público, porque esse é um dos significados da palavra inglesa hopeful.
Também são aspirantes a um cargo na Assembleia Witting Mawsor (Premeditado),
Predecessor Rumnong, Process Sawkmie, Adviser Pariong e os irmãos Founder Cajee
(Fundador) e Sounder Cajee (Sondador).
Se
eleito, Field Marshal Mawphniang (Marechal) poderá, se valer o nome, ser aliado
de Bomber Singh Hyniewta (Bombardeiro). Righteous Sangma (Justiceiro) poderá
ser adversário dos irmãos Billykid Sangma (em referência ao famoso pistoleiro
americano, também personagem de filme, Billy the Kid) e Adamkid Sangma. Anvil
Lyngdoh (Bigorna) pode jogar duro na política. Os debates podem esquentar
quando Ardent Basawimoit for à tribuna, mas qualquer situação pode ser
controlada por Methodius Dkhar, suavizada por Moonlight Pariat (Luar) ou
pacificada por Fairly Bert Kharrngi (Justamente).
São
ainda candidatos Boston Marak e Livingstone Marak, Finelynes Bareh, Winnerson
Sangma, Secondson Sangma e Pillarson G Momin. Hopingstone Lyngdoh e Hopingstone
Masharing serão como pedras da esperança. Mas, para despertar o fervor da
população, só mesmo o candidato Coming One Ymbon (Aquele que está por chegar,
quem sabe um fruto da Anunciação).
As
famílias se envolvem em peso na política. Winnerson Sangma e Secondson Sangma
pertencem, provavelmente, à família de Zenith Sangma (Zênite). Boston Marak e
Livingstone Marak pertencem, provavelmente, à família de Adolf Hitler Marak.
Zenith e Hitler são são adversários políticos.
A
Aljazeera, publicação árabe, contou a história que inclui o nome Hitler, sem
lhe dar qualquer conotação política. A resposta mais rápida veio de uma
publicação israelense, a The Jewish Press. A publicação de Israel
provavelmente entendeu o "fenômeno social" em Meghalaya e repercutiu
a história com bom humor: "Pelo que o Jewish Press sabe, Netanyahu
(nome do primeiro-ministro de Israel), Lapid (Yair Lapid, político, ator,
jornalista e escritor judeu), Obama e Clinton não são candidatos – ainda".
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