terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Hitler e Frankenstein vão disputar eleições na Índia



Por João Ozorio de Melo*
No próximo sábado (2/23), os eleitores de Meghalaya, um pequeno estado no nordeste da Índia, vão às urnas. Adolf Hitler Marak e Frankenstein Momin estão entre os 345 candidatos que vão concorrer às 60 vagas de deputados da Assembleia Legislativa, que já tem nomes de peso como Churchill, Roosevelt e Chamberlain. Sempre haverá nomes famosos entre os políticos da terra. As populações tribais de Meghalaya gostam de dar nomes curiosos a seus filhos por pura diversão, diz o site da Aljazeera.

"Ter um nome famoso, estranho ou divertido em Meghalaya não dá um único voto extra a qualquer candidato", diz o historiador indiano David Syiemlieh. Nem sequer maior atenção, porque há muitos candidatos com esses tipos de nome. "Dar nomes engraçados às crianças é uma prática antiga", diz o diretor regional do Conselho Indiano de Pesquisa de Ciências Sociais, Joshua Thomas. "Minha mulher é médica, e ela já viu mulheres dando a crianças o nome de Anesthesia (Anestesia), só porque ouviram essa palavra no hospital e o acharam divertido", ele diz.

À Meghalaya, a "Moradia das Nuvens", habitado principalmente por três grandes tribos – Khasis, Jaintias e Garos – não falta beleza, com seus montes, rios e paisagens deslumbrantes. Também não falta bom humor. As populações tribais adoram rir e fazer rir, até delas mesmas. Acreditam que rir muito torna a pessoa saudável, forte, e a ajuda a viver mais. Há inúmeros "clubes do riso" no estado. "É um fenômeno social", diz a Aljazeera.

Um candidato às próximas eleições, do qual muito se ri, é o pobre Romeu – ou Romeo Phira Rani. Não se sabe da existência de nenhuma Julieta na região. Se rir é preciso, há dois candidatos, sem partido, com o nome Hilário: Hilarious Dkhar e Hilarious Pohchen.
De uma maneira geral, os nomes são em inglês porque esse é o idioma número um em Meghalaya, que já foi colônia inglesa (como toda a Índia). Aliás, é o idioma que garante a unidade no estado, porque são tantos os idiomas e dialetos que, sem ajuda externa, não haveria um sistema eficaz de comunicação no estado.

Meghalaya é um dos quatro estados da Índia com maioria cristã. Nos demais, a maioria é hinduísta. Por tradição, mantém um sistema (e uma cultura) matrilinear – isto é, a sucessão se dá por linha materna. E as mulheres estão no comando da família e de seus bens. Com a morte dos pais, por exemplo, a filha caçula assume o controle da propriedade e todos os bens da família. Se a família não tem uma filha, o poder é transferido a uma nora. Na falta dela, uma menina adotada exercerá o cargo de chefe.

E, ao que parece, as mulheres estão ligadas em questões políticas e jurídicas, porque deram aos filhos nomes tais como Hopeful Bamon, que já nasceu candidato a um cargo público, porque esse é um dos significados da palavra inglesa hopeful. Também são aspirantes a um cargo na Assembleia Witting Mawsor (Premeditado), Predecessor Rumnong, Process Sawkmie, Adviser Pariong e os irmãos Founder Cajee (Fundador) e Sounder Cajee (Sondador).

Se eleito, Field Marshal Mawphniang (Marechal) poderá, se valer o nome, ser aliado de Bomber Singh Hyniewta (Bombardeiro). Righteous Sangma (Justiceiro) poderá ser adversário dos irmãos Billykid Sangma (em referência ao famoso pistoleiro americano, também personagem de filme, Billy the Kid) e Adamkid Sangma. Anvil Lyngdoh (Bigorna) pode jogar duro na política. Os debates podem esquentar quando Ardent Basawimoit for à tribuna, mas qualquer situação pode ser controlada por Methodius Dkhar, suavizada por Moonlight Pariat (Luar) ou pacificada por Fairly Bert Kharrngi (Justamente).

São ainda candidatos Boston Marak e Livingstone Marak, Finelynes Bareh, Winnerson Sangma, Secondson Sangma e Pillarson G Momin. Hopingstone Lyngdoh e Hopingstone Masharing serão como pedras da esperança. Mas, para despertar o fervor da população, só mesmo o candidato Coming One Ymbon (Aquele que está por chegar, quem sabe um fruto da Anunciação).

As famílias se envolvem em peso na política. Winnerson Sangma e Secondson Sangma pertencem, provavelmente, à família de Zenith Sangma (Zênite). Boston Marak e Livingstone Marak pertencem, provavelmente, à família de Adolf Hitler Marak. Zenith e Hitler são são adversários políticos.

A Aljazeera, publicação árabe, contou a história que inclui o nome Hitler, sem lhe dar qualquer conotação política. A resposta mais rápida veio de uma publicação israelense, a The Jewish Press. A publicação de Israel provavelmente entendeu o "fenômeno social" em Meghalaya e repercutiu a história com bom humor: "Pelo que o Jewish Press sabe, Netanyahu (nome do primeiro-ministro de Israel), Lapid (Yair Lapid, político, ator, jornalista e escritor judeu), Obama e Clinton não são candidatos – ainda".

João Ozorio de Melo* é correspondente da revista Consultor Jurídico nos Estados Unidos.

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