Brasília – O aumento de prazo para os exportadores quitarem financiamentos e a diminuição do compulsório bancário sobre o comércio de dólares no mercado à vista, adotadas pelo Banco Central (BC) este mês, contribuíram para conter a valorização da moeda norte-americana, que ameaçava um patamar acima da faixa de R$ 2 a R$ 2,10. Em especial porque nesta época do ano as empresas estrangeiras pressionam o câmbio com a remessa de lucros e dividendos para suas matrizes.
A análise do professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli, considera a tarefa do BC bastante conflituosa. Ele disse à Agência Brasil que “muita gente se acostumou com o preço barato das importações” quando o dólar estava abaixo de R$ 2, mas o câmbio era prejudicial às exportações. Em contrapartida, o dólar acima de R$ 2,10 provoca impacto inflacionário, além da pressão sazonal que se avizinha, natural em todo início de ano, com gastos escolares e impostos sobre habitações e carros, entre outros.
Piscitelli disse que as medidas foram acertadas. Tanto que a cotação do dólar vem recuando seguidamente. Mesmo considerando que a autoridade monetária tem feito leilões para venda de dólares, com garantia de recompra futura, afim de aumentar a liquidez do mercado brasileiro de câmbio, que se ressentiu da saída líquida de US$ 4,21 bilhões nas duas primeiras semanas de dezembro.
O professor da UnB ressaltou que “não há muita margem de manobra” para o BC trabalhar o câmbio, que ora funciona com flutuação dirigida, que alguns analistas financeiros chamam de “flutuação suja”. De opinião semelhante, o economista André Nassif, da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), acha correta a posição da autoridade monetária, e lembra que países da Ásia intervêm recorrentemente no mercado de câmbio há muito tempo.
Relatório do Banco Itaú, divulgado na semana passada, contabiliza seis medidas de impacto cambial, no ano passado, mais oito alterações este ano. Algumas até “aliviando” exigências excessivas na taxação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O professor da FGV entende, porém, que “o governo agiu com atraso”, uma vez que o real permaneceu valorizado em relação ao dólar durante a maior parte do ano.
O recente equilíbrio cambial, segundo ele, decorre de três fatores, basicamente: do controle de capitais, via taxação de financiamentos externos de curto prazo; do agravamento das expectativas em relação à economia internacional; e da queda da taxa básica de juros (Selic), que está em 7,25% ao ano – o nível mais baixo da história – e assim deve permanecer ao longo de 2013, conforme expectativas de analistas financeiros da iniciativa privada, expressas no boletim Focus do BC, publicado no último daí 17.
De acordo com a pesquisa semanal do BC, o dólar deve terminar este ano cotado a R$ 2,08, mas a cotação média ao longo de 2012 ficará em torno de R$ 1,96. Com base nessas perspectivas, o mercado estima que o exercício financeiro termine com déficit de US$ 54 bilhões na conta-corrente externa - um pouco acima do déficit de US$ 52,6 bilhões no ano passado, mas abaixo dos US$ 60 bilhões de investimento estrangeiro direto (IED) que devem aportar no país este ano.
A conta mais prejudicada em 2012 foi a que mede o fluxo cambial (entrada e saída de dólares), de acordo com o Relatório de Inflação que o BC divulgou no último dia 20. Números acumulados de janeiro a novembro indicam superávit de US$ 23,5 bilhões, ante US$ 67,2 bilhões no mesmo período de 2011 – redução de US$ 43,7 bilhões (65,03%), provocada pelas retrações de US$ 29,7 bilhões nas operações comerciais e de US$ 14,1 bilhões nas operações financeiras. Mas, o superávit anual do fluxo cambial será ainda menor, visto que nas duas primeiras semanas do mês saíram mais US$ 4,21 bilhões, de acordo com o Banco Central.
Agência Brasil
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