Lisboa – Portugal está vivendo um dos piores
momentos econômicos desde a Revolução dos Cravos em 1974 por causa da crise
econômica na zona do euro; e a perspectiva é que esse cenário se estenda por
2013 – ano em que o próprio governo prevê desemprego (perto dos 20%) e recessão
(queda de 1% do Produto Interno Bruto e diminuição de 2% no consumo das
famílias).
Além da diminuição da riqueza produzida pelo
país e do bem-estar das famílias (afetadas com aumento de impostos e redução de
gastos de proteção social a partir do próximo mês), Portugal corre o risco de
sofrer com a diminuição da população – muitos imigrantes podem deixar o país em
decorrência da crise econômica.
Entre 2001 e 2011, a população de Portugal
cresceu em torno de 200 mil habitantes, graças aos imigrantes atraídos pelas
perspectivas econômicas do país, como participante da Comunidade Europeia. Só
de imigrantes brasileiros foram 77 mil pessoas, que formam a principal
colônia de estrangeiros em Portugal (cerca de 111 mil brasileiros, mais de
um quarto dos imigrantes).
Esses números podem diminuir acentuadamente.
Segundo o serviço de estrangeiros de fronteiras do governo português, a
população imigrante encolheu em quase 2% entre 2010 e 2011.
Conforme dados apurados pela Agência
Brasil com a Organização Internacional de Migração, a cada mês cresce o
número de pessoas sem condições financeiras que buscam apoio para a
reintegração ao país de origem. Em setembro, o último mês com dados
consolidados, mais de 1.400 pedidos de retorno foram feitos. De cada dez
solicitações de regresso naquele mês, oito foram feitas por brasileiros.
Apesar das estatísticas, é fácil encontrar
pelas ruas de Lisboa, brasileiros que optam por permanecer em Portugal e não
cogitam a possibilidade de voltar. É o caso da empresária de Itabuna (BA),
Nilzana Ribeiro, de 40 anos, dona de um café nas proximidades da Assembleia da
República.
Há 20 anos em Portugal, com quatro filhas
nascidas no país, ela prefere viver deste lado do Oceano Atlântico. “É melhor
estar aqui”, diz ao enumerar entre as vantagens as melhores perspectivas de
vida para as filhas, “a qualidade do ensino” e a segurança.“Aqui não chegamos
ao ponto de bala perdida”, compara, apesar de dizer que sente “falta do acarajé
e da tapioca” e de garantir que não tem interesse em pedir cidadania
portuguesa.
A cidadania portuguesa é para a diarista
goiana Camila Barbosa, 33 anos, a principal razão para ela, o marido e os três
filhos permanecerem em Lisboa. Pela segunda vez vivendo no país, espera que no
final do próximo ano possa dar entrada no pedido para obter o registro
português para os filhos. Camila admite voltar porque a mãe e os sogros estão
doentes, mas ressaltou que o ideal seria continuar vivendo em Portugal e uma
vez por ano ir ao Brasil. “O custo de vida aqui é menor”, resume.
Para o também goiano Marcos Paiva, estudante
de 24 anos e que vive há sete anos em Portugal, “as pessoas vivem com ordenado
menor em Lisboa do que em outra cidade do Brasil”. Além de menos despesa, a
vida em Portugal abre perspectivas interessantes para ele que estuda direito e
quer fazer o doutorado na Europa. Paiva não pensa em retornar, mesmo com as
notícias de que o Brasil vive um bom momento econômico. “Já escutei isso e
estive no Brasil recentemente. O país evoluiu, mas não deixou de ter uma grande
pobreza”, salienta.
Para Mário Storch, de 46 anos, capixaba de
Colatina (ES), há seis anos fora do Brasil, Portugal oferece uma vida melhor
com possibilidades de qualificação e ascensão profissional. Ele que já
trabalhou em cozinha de marisqueira é atualmente supervisor em um restaurante
no maior shopping de Lisboa. Teve oportunidade de se qualificar em Portugal, em
um curso de serviço de hotelaria que frequentou durante 15 meses.
Segundo Storch, os brasileiros são benquistos
pelos empregadores em Portugal, mesmo na crise. “Outros patrões que me
empregavam reconheciam que mão de obra como a brasileira não havia. Nenhum
português queria estar dentro de uma copa fazendo o trabalho que eu fazia.
Lavar tachos de um tamanho em que se poderia até tomar banho”, lembra, ao
comentar a rotina no primeiro emprego em Portugal, quando trabalhava em um
restaurante especializado em frutos do mar fora de Lisboa.
18/12/2012 -
Brasileiras que trabalham em serviços de limpeza são maioria entre estrangeiros em Portugal
Lisboa - Uma análise dos dados do Censo 2011
revela que as brasileiras, com 34 anos, solteiras, com ensino médio e
trabalhando como empregada doméstica ou para empresas prestadoras de serviço de
limpeza formam o perfil prevalente entre os imigrantes residentes em Portugal
até 21 de março daquele ano. A informação é do Instituto Nacional de
Estatística (INE), equivalente ao Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Divulgados na véspera do Dia Internacional
dos Migrantes, lembrado hoje (18), os dados mostram que, em março de 2011,
residiam 394.496 estrangeiros em Portugal, 3,7% do total da população. Desde a
década de 1990, após o ingresso do país na União Europeia, a população
estrangeira tem crescido proporcionalmente. Representava 1,1%, em 1991, e
passou a 2,2%, em 2001.
Nas três décadas, as proporções de imigrantes
em Portugal são superiores à verificada, por exemplo, no último censo no
Brasil. Segundo o IBGE, em 2010, apenas 0,23% da população no Brasil era
estrangeira (abaixo do 0,3% verificado em 2000). Nos dois países, esses números
poderão ser alterados conforme a atual dinâmica de crescimento econômico.
Nos últimos anos, Portugal vive uma recessão,
voltou a fornecer mão de obra para outros países europeus (Alemanha e
Inglaterra, especialmente) e poderá mandar ainda mais força de trabalho para
países de língua portuguesa, como Moçambique, Angola e o Brasil, caso esses
países emergentes mantenham movimento expansionista da atividade econômica.
No caso do Brasil, o governo português já
sinalizou ao Ministério das Relações Exteriores o interesse em negociar o
reconhecimento de títulos de arquitetos e engenheiros formados em Portugal. A
falta desses profissionais tem sido apontada no Brasil como um dos gargalos
para o crescimento.
Os países de língua portuguesa são os
principais emissores de migrantes para Portugal. Há 202.404 estrangeiros, mais
de 51% do total são do Brasil, de Cabo Verde, Angola, da Guiné-Bissau e de São
Tomé e Príncipe. Entre os imigrantes lusófonos, os brasileiros (109.787)
correspondem a mais de 54%. No universo total de estrangeiros em Portugal, os
brasileiros formam a maior colônia, com 27,8%.
Os imigrantes estrangeiros se diferenciam dos
portugueses especialmente pelo perfil etário mais jovem. A idade média dos
imigrantes em Portugal é 34,2 anos, enquanto os portugueses têm 42,1 anos, em
média. O dado é um indicador de que os estrangeiros que estão em Portugal vivem
no país para trabalhar: mais de 82% estão em idade produtiva (15 a 64 anos,
conforme o INE). Esse percentual é 65,5% entre os portugueses.
Há possibilidade de que a faixa etária em
Portugal se altere a médio prazo. Com a vinda de imigrantes estrangeiros jovens
e a saída de portugueses em idade produtiva para outros países, Portugal quer
atrair aposentados estrangeiros que tenham renda garantida.
No mês passado, a Assembleia da República
regulamentou lei que isenta estrangeiros aposentados de pagar Imposto de Renda
como pessoa física. O clima do país, em comparação a outros lugares da Europa,
é mais quente e melhor para os idosos – o que já atrai ingleses que têm idade
média de 51 anos e procuram se instalar em Algarve, que fica ao sul e tem
temperaturas mais elevadas do que em outras partes do país.
A Região Metropolitana de Lisboa concentra
51,6% dos estrangeiros residentes em Portugal. Entre as cidades, Sintra (a
cerca de 30 quilômetros do centro de Lisboa), é a com maior número de
imigrantes (39.994), superando a capital (com 39.492).
Agencia Brasil
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